Água é o novo tema da série O que o ISP pode fazer por…?

Por: GIFE| Notícias| 09/09/2019

 

Depois de Cidades Sustentáveis, Equidade Racial e Mudanças Climáticas, chegou a vez de falar sobre Água. Esse é o quarto tema da série O que o ISP pode fazer por…?, concebida para tratar de temas da agenda pública nos quais o Investimento Social Privado (ISP) pode ser ampliado, além de apresentar casos de sucesso para apoiar investidores que tenham interesse em iniciar ou fortalecer sua atuação nesses temas.

Lançada no dia 5 de setembro durante encontro realizado no CIVI-CO, em São Paulo, a publicação aponta que os sistemas de distribuição de água no Brasil têm, em média, 38% de perda de água já tratada. 154 litros por dia é a média de consumo do brasileiro, apesar de  110 litros diários serem suficientes para atender às necessidades básicas de uma pessoa, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Cerca de três milhões de brasileiros foram afetados por cheias e inundações em 2017.

Relacionado diretamente ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 6, que determina a necessidade de “Assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e saneamento para todos”, e indiretamente a outros ODS, o tema da água apresenta desafios complexos, como poluição de rios urbanos, degradação de biomas, ocupação desordenada do solo, dificuldade na gestão de recursos hídricos, falta de acesso a água e saneamento por parte da população e falta de conscientização da sociedade sobre o ciclo e uso desse recurso natural.

A partir desse cenário, foram elaboradas seis linhas de atuação possíveis para o ISP no tema: A. Conservação de bacias e uso do solo; B. Acesso a água e saneamento; C. Apoiar o aprimoramento do uso de água pelos setores produtivos; D. Fortalecimento da governança dos recursos hídricos; E. Produção e disseminação de conhecimento sobre o tema da água, bacias hidrográficas e saneamento; e F. Sensibilização da sociedade.

O encontro também foi palco para a apresentação da nova edição da P22_ON,  produto eletrônico da revista Página22 criado com o objetivo de traduzir e disseminar de forma mais acessível temas complexos e técnicos. A ideia da nova edição é debater Como o investimento social privado pode contribuir para as agendas de clima, água e energia renovável.  “Fizemos uma reunião de pauta com o GIFE e com a Fundação Grupo Boticário para definir os assuntos da edição. Fomos a campo, identificamos cases e tivemos a confiança dos parceiros para elaborar esse produto jornalístico”, afirmou Amália Safatle, fundadora e editora da Página22

Água, saneamento e mudanças climáticas

A primeira roda de conversa do encontro foi composta por representantes das organizações que copromoveram a realização do tema. 

À luz do ODS 6, Marussia Whately, coordenadora da Aliança pela Água, reforçou a necessidade de tratar água e saneamento de forma mais integrada. Edison Carlos, presidente executivo do Instituto Trata Brasil, ratificou Marussia ao afirmar que não é possível falar de um sem falar do outro. “Nós jogamos seis mil piscinas de esgoto por dia na água. Ao falar de água e saneamento estamos tratando praticamente da mesma coisa porque o esgoto está, hoje, entre os maiores poluidores da água.”

Juliana Ribeiro, analista de soluções baseadas na natureza da Fundação Grupo Boticário, abordou o tema das mudanças climáticas ao afirmar que não só a falta, mas o excesso de recursos hídricos também prejudica o manejo da água. “Quando chove muito, a população pensa ‘de falta de água não vamos sofrer’. Mas o excesso de sedimento na água pode até inviabilizar uma estação de tratamento, além de elevar seu custo. Um estudo da Fundação Getulio Vargas aponta que se não forem considerados os impactos do clima em projetos de gestão de recursos hídricos, pode haver um erro de até 40% no orçamento.” 

Os participantes também apontaram que o ISP tem papel fundamental na produção e disseminação de informações sobre o assunto. Segundo Edison, o conhecimento da sociedade sobre o tema é fundamental para conquistar avanços. 

A necessidade de dar escala às ações foi ponto unânime no debate. Marussia reforçou que o ISP pode impulsionar a agenda da água até certo ponto. “Nossas ações enquanto ISP vão ajudar a resolver questões localmente, mas precisamos pensar em como transformá-las em políticas públicas e como lidar com o poder público, sobretudo pensando nas eleições municipais de 2020.”

Angelo Lima, secretário executivo do Observatório da Governança das Águas (OGA-Brasil), fez o exercício de olhar para os desafios impostos pelos temas água, mudanças climáticas e cidades sustentáveis e propor caminhos de atuação, como fortalecimento da governança, fomento de negócios sustentáveis, produção e disseminação do conhecimento e gestão sustentável e eficiente. 

Rodrigo Brito, do Instituto Coca-Cola, sublinhou a importância de ir na contramão de projetos individuais e unir esforços de diferentes empresas e atores para realizações em maior escala. A Aliança Água + Acesso, criada em 2017 pelo Instituto, promove a união entre empresas e organizações da sociedade civil para que cada um aprenda e possa contribuir com seus conhecimentos. “Já são 15 organizações que compõem o grupo. Chegamos a oito estados e 240 comunidades e impactamos 77 mil pessoas, com previsão de chegar a 100 mil em março de 2020, quando o programa completa três anos. É necessário construir um legado que seja perene, por isso optamos por trabalhar o acesso a água de forma autossustentável.” 

O que determina o investimento social privado em água 

A mesa de encerramento reuniu investidores sociais para falar de suas perspectivas sobre a importância de debater e investir no tema. 

Fernando Victor Ponte, diretor técnico do Instituto Sisar, compartilhou a história da instituição, uma federação de associações comunitárias criada em 1996 com apoio da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece). Cada associação conta com sistemas de abastecimento de água e esgoto, faz um pagamento mensal ao Sisar e fica responsável pelo gerenciamento e gestão dos sistemas, enquanto o Sisar realiza manutenções técnicas, capacitação e gestão comercial. 

Os operadores locais, que são moradores voluntários, fazem o tratamento da água e a leitura dos hidrômetros, por exemplo. O Sisar, por sua vez, faz a coleta mensal da água, verifica se há cloro residual e gera as contas para as associações. 

“Hoje, o Sisar é uma ideia que deu certo. 701 mil cearenses são filiados ao Instituto. Sempre pensamos no associativismo, cooperação e no fortalecimento desse modelo. Nosso objetivo é garantir melhoria da qualidade de vida da população rural, assegurando a prestação de serviços de saneamento básico de forma autogerida e autossustentável, contribuindo para o desenvolvimento social e a preservação ambiental”, explicou Victor.  

Renata Ruggiero, diretora presidente do Instituto Iguá, explicou que a organização, que tem como objetivo universalizar o saneamento no Brasil, já nasceu com a premissa de atuar coletivamente. “Nós não apoiamos projetos individualizados e, além disso, olhamos o potencial de impacto de cada iniciativa e o quanto poderemos contribuir.” 

Thiago Terada, gerente de responsabilidade social do Instituto Aegea, explicou que, além da escolha pelo investimento em água conversar com a estratégia da empresa, o tema é alavancador de outras políticas. “Quanto a universalização do saneamento impacta em outras áreas sociais? Há interferência direta em educação, turismo, renda, valorização imobiliária e muitas outras pautas ligadas a causas do ISP.”  

José Marcelo Zacchi, secretário geral do GIFE, compôs a mesa e defendeu que água compõe o leque de temas que são vitais na agenda pública do país e do mundo e para os quais a presença relativa do ISP e da filantropia é menor. “Água, clima, energia, toda a pauta de equidade, redução de desigualdades, promoção de diversidade, migrações, tudo isso entra na agenda. E não se trata de um trabalho somente da filantropia e do ISP, mas também de como a sociedade civil como um todo atua para fortalecer capacidades e produzir soluções. Em ambientes coletivos, há uma malha de atores na sociedade, nas universidades e no setor privado experimentando novos modelos, produzindo inovações, sistematizando tudo isso e ajudando a construir novos arranjos com escala. Se nós queremos produzir avanços em todas essas agendas, precisaremos ter esse ambiente adensado na sociedade.” 

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