Água: o custo da irresponsabilidade e a importância de cuidar do recurso

Por: GIFE| Notícias| 16/06/2014

O tema água tornou-se pauta fundamental, especialmente na vida dos paulistanos. A crise no abastecimento de água em São Paulo é uma das mais graves das história e o termo “Sistema Cantareira” virou sinônimo de problema.

Nas empresas a situação não poderia ser diferente. Nunca foi tão relevante refletir sobre os gastos de água e discutir a sustentabilidade. Na linha do investimento social privado, institutos, empresas e fundações que atuam na causa da conservação de recursos hídricos tem a oportunidade de mostrar boas práticas.

Para Paulo Henrique Groke, engenheiro florestal e diretor de meio ambiente do Instituto Ecofuturo, a questão hídrica vai obedecer uma discussão sem volta. “O tema vai estar sempre na pauta e podemos tirar uma grande lição disso: o recurso não é infinito. Precisa de cuidado constante.”

O cenário atual é delicado, mas pode ser um momento de virada na conscientização do quanto é preciso cuidar desse recurso fundamental para a vida. “Estamos sentindo na nossa rotina os efeitos do problema. Campanhas para reduzir a utilização de água são fundamentais, e não estávamos discutindo o assunto como ele merece. Nossa ação é mais reativa do que ativa. Precisamos de provocações que nos façam pensar. A partir do momento que introjetamos a preocupação no dia a dia do indivíduo, fica mais fácil levar essa questão também para dentro das empresas.”

Groke usa de um conceito do meio corporativo, a logística reversa, para ilustrar como a questão do abastecimento e consumo de água é uma complexa cadeia que precisa de cuidado em suas diversas fases. “Para chegar até a torneira do consumidor é preciso investir em um sistema de transporte eficiente e, sobretudo resistente a perdas. É uma questão de planejamento. Por sua vez, para chegar na tubulação, essa água foi reservada em algum local, em um sistema de represas interconectadas. E, para a água ter qualidade até chegar nas represas, é fundamental que se pense na proteção das nascentes, em todo o conjunto de mananciais. Ou seja, temos que cuidar de toda a cadeia.”

Desafios e oportunidades para empresas, institutos e fundações

Na Suzano, empresa mantenedora do Instituto Ecofuturo, o tema é fundamental, especialmente por ser uma empresa que tem a operação florestal como uma das bases de atuação. O manejo florestal de eucalipto – espécie demonizada por muitos, devido a seu impacto à terra em monoculturas de grandes áreas – apresenta-se como um modelo ambientalmente viável, quando realizado de forma sustentável.

A experiência mais efetiva de manejo florestal sustentável da companhia pode ser observada no Parque das Neblinas, próximo a Mogi das Cruzes, em São Paulo. A região, que foi degradada por séculos, hoje se mostra mais saudável, depois de anos de trabalho do Instituto Ecofuturo por lá. São 6 mil hectares, incluindo um rio, o Itatinga, de área manejada.

“Tudo o que fazemos de gestão florestal reflete na qualidade do curso d’água do rio Itatinga e, no fim do processo, na geração de energia [80% da energia elétrica utilizada para o funcionamento do porto de Santos, o maior da América Latina, é produzida a partir do Itatinga]. Nesse sentido, o manejo florestal favorece a produção de água. A qualidade da água do rio hoje é impecável. E, desde que o Instituto Ecofuturo começou a atuar no parque, em 1989, observamos um processo profundo de alteração da cobertura florestal. Isso foi impactante na fauna de peixes, na disponibilidade de frutos e até na alteração da temperatura”, explica o diretor.

Além dos processos desenvolvidos para recuperar a fauna e flora local, o trabalho também olha para questões sociais. A comunidade do entorno acabou se tornando embaixadora e protetora do parque. “Historicamente, existe uma relação intensa da comunidade com o rio e a região. A população das cidades vizinhas convive ativamente com o parque. É a comunidade que cuida do ecoturismo e do monitoramento da área, por exemplo.”

E, dentro da campanha, a questão ambiental – em especial o tema água – ganha força em uma crescente desde o nascimento do Ecofuturo. “Temos sempre que nos perguntar: conseguimos efetivamente ser mais eficientes na produção, sendo mais racionais na utilização da água? Na Suzano busca-se a otimização dos processos, especialmente os ligados à gestão dos recursos hídricos, mas nem toda empresa é assim. Tem empresário que não sabia de onde vinha o abastecimento da planta industrial, por exemplo. Agora esse assunto virou pauta do dia.”

O engenheiro florestal explica que, além de ser prática ambientalmente correta, o cuidado com água também representa estratégia para o negócio. “Otimização de processos significa redução de custos. Precisamos inspirar pessoas para que todo mundo trabalhe nesse conceito.”

A ideia do crescimento sustentável também está no discurso da PepsiCo. “É necessário que a organização tenha uma visão de longo prazo para compreender que não podemos olhar somente resultados financeiros. Dentro da PepsiCo existem muitas iniciativas aprovadas voltadas para o meio ambiente. Tais iniciativas fazem parte da visão global da companhia, denominada Performance com Propósito, que significa gerar crescimento sustentável, minimizando o impacto de sua atividade no meio ambiente, conservando os recursos naturais, proporcionando um local de trabalho seguro e inclusivo e investindo nas comunidades onde está presente”, explica Francisco Morbiolo, responsável pelo programa Recon (Resource Conservation).

Entre diversas práticas, a empresa do ramo de alimentos e bebidas reutiliza a água de diversas linhas de produção, possui sistema próprio de coleta de água da chuva e mantém-se com padrões acima dos exigidos pela legislação no tratamento de efluentes. Além disso, investe em treinamento e conscientização de funcionários. “Abordamos a questão da limitação de recursos naturais e o aquecimento global e mostramos quais são os desperdícios que temos, tanto na fábrica quanto em uma casa normal. Os resultados destes treinamentos vão muito além dos portões das fábricas, pois os colaboradores relatam que transferem estes conhecimentos e práticas para suas casas e suas famílias.”

Todo o trabalho, realizado de forma integrada e em diversas áreas da companhia, já mostra resultados. O consumo de água foi reduzido em todas as plantas ao longo dos últimos anos. “Entre 2006 e hoje, tivemos uma redução de 29% no consumo de água das fábricas”, conta Morbiolo.

Para Groke, as boas práticas das empresas, de governos e de organizações sociais estão aí para servir de exemplo. “Os comitês de bacias são fundamentais para discussão de estratégias, aplicação de recursos e promoção de parcerias para restauração de reservas. A Agência Nacional de Água é outro ator estratégico nesse cenário. É preciso buscar boas praticas e espaços de discussão para a orquestração das ações. Isso fará com que a questão cresça e que os profissionais tenham voz mais ativa dentro das estratégias de tomada de decisão das empresas.”

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