“”Ainda não é tarde demais””, garantem especialistas

Por: GIFE| Notícias| 23/06/2008

Rodrigo Zavala

Na última edição do redeGIFE, especialistas em sustentabilidade trouxeram à discussão opiniões pouco positivas sobre a consciência de empresas, governos e dos movimentos sociais a respeito do tema. Na reportagem “”O mundo é insustentável””, os entrevistados mostraram que não há mais tempo a perder para evitar a exaustão dos recursos naturais do planeta ou mesmo para a degradação social de seus habitantes.

No entanto, no encerramento do Global Forum América Latina, realizado pela Federação de Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), em Curitiba, seus participantes foram mais otimistas. “”O mundo está dizendo é tarde, mas a placa tarde demais não foi colocada ainda””, afirmou o consultor em desenvolvimento organizacional e representante da organização Brahma Kumaris no Brasil, Ken ODonnel.

No evento, quase 1300 participantes foram motivados durante os três dias de atividades a pensar sobre ações em benefício de um mundo mais sustentável. O objetivo dos organizadores era gerar o máximo de proposições para um movimento radical, coletivo e sistêmico, que efetivamente gere a mudança que todos esperam chegar, mas falam em termos genéricos.

“”É muito difícil do ponto de vista individual achar que conseguimos mudar isso. Mas, na caminhada, a força do seu propósito é o que vai fazer você romper o obstáculo. Salvar o planeta de si mesmo e a raça humana de sua ignorância é um propósito relevante””, declarou Ken ODonell.

No fim do Fórum, os organizadores chegaram a uma lista de 80 tópicos para que o Brasil e os países do continente promovam o avanço da educação e formação de novos líderes e gestores, com foco, claro, na sustentabilidade.

“”Construímos neste encontro de Curitiba a visão que queremos, a estratégica que nos anima e nos une. No segundo momento, vamos transformar essas proposições em propostas de ação efetiva””, disse o presidente do Sistema Fiep, Rodrigo da Rocha Loures.

As propostas – ainda em sistematização – referem-se à introdução do conceito sustentabilidade nos currículos escolares, em todos os níveis, bem como a preparação dos educadores para o ensino da matéria. Houve também sugestões para tratamento tributário diferenciado para produtos sustentáveis, com certificação. Outra idéia é a inclusão, na lei de licitação, da exigência de que o fornecedor de produtos e serviços atue dentro de critérios socioambientalmente responsáveis.

Formação

Embora exista maior convivência dos jovens com o tema, seus comportamentos e valores ainda não estão alinhados com as propostas para um planeta mais sustentável. Daí a preocupação dos participantes do Fórum com formação dos mais jovens.

A idéia de desconhecimento do público pode ser exemplificado por meio do trabalho dos universitários Giuliano Sorelli, 22 anos, e Carlos Canhisares, 25. Eles percorreram 12 universidades públicas e particulares para repercutir e estimular a discussão sobre o tema. Foram mais de 5 mil quilômetros rodados, de Porto Alegre (RS) a Brasília (DF), somando 9 estados.

Organizada pela Aiesec – organização estudantil mundial -, a iniciativa recebeu o nome de Rota pela Sustentabilidade. “”A porção que deveria se preocupar com a sustentabilidade fez pouco caso do assunto””, avalia Sorelli. “”Na maioria das universidades, principalmente as particulares, as pessoas não conheciam o tema e nem o significado da palavra””, completa.

Em todas as visitas, a pergunta era: “”Você se considera sustentável?””. Nas respostas eles ouviram inúmeros “”gostei muito de conhecer o assunto””, “”agora vou começar a pensar sobre isso””, de acordo com Canhisares. No entanto, a maioria dos estudantes que mais se interessaram, segundo ele, já trabalhava ou estudava assuntos relacionados, como geografia, biologia ou economia.

Nesse contexto, a Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (ANGRAD) vai propor ao Conselho Nacional de Educação (CNE) a obrigatoriedade do ensino de responsabilidade social em todos os cursos de graduação em Administração do Brasil.

Segundo o presidente da entidade, Antônio de Araújo Freitas Júnior, é possível inserir nas diretrizes curriculares tornando obrigatório o ensino de responsabilidade social. “”Cada escola poderá escolher o seu programa. O objetivo é sinalizar de alguma forma no nível de graduação o ensino da responsabilidade social””, afirmou Freitas, que é também diretor executivo da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Hora da ação

Embora muitas das propostas elaboradas no Fórum pareçam genéricas, um dos pontos importantes a serem levantados é a incorporação desses preceitos nos hábitos das pessoas e, assim, em seu meio. Tal como pensa o presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (IPCC), Rajendra Pachauri

“”É necessário mudar nossos valores. Pensar sobre a imprescindibilidade do consumo, hoje, excessivo. As pessoas comem tanto e depois vão para a academia queimar as gorduras. Isso não faz sentido””, afirmou.

Outro indiano, reconhecido como um dos mais influentes consultores de negócios do mundo, Ram Charam, acredita que a chave é ajudar as pessoas a usarem a mente. Ele listou o que chamou de princípios fundamentais para a inovação social e a criação de redes sociais

Antes de repassar os seus dez princípios, Charan deu as bases, o ponto chave para que uma pessoa possa colaborar com o desenvolvimento sustentável de outra pessoa, de grupos ou de comunidades. “”Toda pessoa pode fazer isso. A colaboração não exige dinheiro, mas tempo, dedicação, paixão e também ferramentas específicas””, afirmou Charan, que é listado pela BusinesWeek entre as dez maiores fontes de programas de desenvolvimento de executivos.

1 – Defina a causa, a missão, quais os resultados que se pretende e como dimensionar esses resultados. “”É preciso usar a mente e buscar resultados mensuráveis””, explicou.

2 – Busque o comprometimento local. Identifique quem são as pessoas que podem se comprometer localmente com a causa.

3 – Converse com essas pessoas, dialogue com elas até alcançar o consenso. A partir do consenso o interesse se intensifica.

4 – Neste ponto entram as empresas. As empresas podem usar a mente, o raciocínio para projetar sistemas que permitam tornar um produto ou serviço acessível, na base, por exemplo, de 1 dólar. “”Não ter dinheiro é uma situação que força a inovação””, disse Charan.

5 – Projete um sistema. Mas é preciso ter em mente que o sistema só vai funcionar se as pessoas executoras concordarem com esse sistema. Caso contrário, é preciso voltar ao diálogo.

6 – Identifique líderes na comunidade. Pessoas de paixão e confiáveis. Segundo Charan, nenhum grupo de pessoas ou comunidade alcança a sustentabilidade sem um líder, seja ele eleito, indicado informalmente ou escolhido.

7- Não busque a publicidade e o elogio pelo sucesso alcançado. “”A satisfação pessoal não é medida pela publicidade da sua iniciativa””, disse.

8- Mantenha reuniões periódicas com pessoas de empresas, universidades, autoridades públicas. Estabeleça prioridades, mas não queira nunca abraçar o mundo. Escolha três prioridades, com base na sua causa, nos resultados e mensuração dos resultados. Use palavras exatas, evitando conceitos e definições genéricas.

9 – Busque a criatividade do grupo envolvido no trabalho. É preciso identificar quais os recursos, em termos de criatividade, com que se pode contar para o desenvolvimento das ações.

10 – Tenha em mente que a vida é a felicidade. Seja feliz e, mais importante, faça outras pessoas felizes.

Em seguida, Charan citou exemplos de iniciativas de inovação social em diversos locais do mundo: como a da assistente social que ajudou uma menina indiana surda e muda a criar uma linguagem baseada em toques nas mãos, o que a retirou do isolamento e a conduziu ao desenvolvimento; a do empresário árabe que criou um produto com preço acessível para pessoas pobres; a da banda musical de rapazes negros dos Estados Unidos, organizada a partir da liderança de um deles, que ultrapassou a barreira da pobreza com a dança e a música.

Para o vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2006, Mohammad Yunus, as soluções podem ser encontradas por todas as pessoas, caso sejam dadas as oportunidades certas. O fundador do Grammen Bank, instituição que disponibiliza crédito para a população de baixa renda sem exigir garantias,

“”Estou tentando resolver um problema de uma vila perto da universidade de onde eu era professor. Qualquer um pode descobrir soluções e desenvolver idéias para um mundo mais pacífico””, disse durante o I Fórum de Comunicação e Sustentabilidade, que aconteceu nos dias 11 e 12 de junho, em Brasília (DF).

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