Ana Moser defende o esporte como direito de todos

Por: GIFE| Notícias| 17/11/2014

Ao longo do período eleitoral, o GIFE destacou uma série de assuntos que precisam ocupar mais espaço na agenda pública brasileira. Entre diversos temas, abrimos espaço para discutir marco regulatório do terceiro setor, políticas públicas voltadas à promoção e defesa dos direitos humanos e investimento na qualidade da educação pública.

Nessa edição do boletim vamos falar do esporte como um direito de todos. Alinhada à ampla cobertura que o redeGIFE realizou antes, durante e após a Copa do Mundo de Futebol, destacamos um artigo da presidente da Atletas pelo Brasil, e ex-jogadora da seleção brasileira de vôlei, Ana Moser. Entre diversas pautas importantes, a gestora cita questões fundamentais como gestão, transparência e políticas públicas. Confira.

A hora do esporte

Passadas as eleições, é hora de voltar nosso foco para o esporte, um dos principais desafios que a presidente reeleita Dilma Rousseff terá de enfrentar nos próximos quatro anos.

Nós, da Atletas pelo Brasil, estamos trabalhando desde 2009 para melhorar o esporte no país. Construindo e defendendo uma plataforma junto aos governos federal, estadual e municipal para que o tema receba a importância que merece. Nesse período avançamos muito em termos de organização de atletas, sensibilização de empresas e da sociedade. Porém, ainda estamos longe de onde deveríamos estar.

Em agosto, divulgamos uma carta aos candidatos à presidência da República. O documento teve impacto nos programas de governo e mantivemos conversa com os postulantes. Esperamos maior reconhecimento da importância da estruturação de um Sistema Nacional de Esporte que estabeleça quais as competências dos entes federativos e que defina as responsabilidades de clubes, federações e confederações. Há que se discutir também a participação da sociedade e das instituições sociais que fazem esporte para todos.

A nossa visão dos benefícios do esporte vai muito além do que os quadros de medalhas. Acreditamos que todos têm direito à prática do esporte e ao desenvolvimento das suas capacidades pessoais, físicas e mentais, conforme a Constituição e o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Além disso, o esporte é ferramenta indispensável no desenvolvimento e na formação do caráter e dos valores. O Brasil será um grande país e uma potência esportiva no dia em que a cultura da prática esportiva estiver disseminada junto à população. Uma população ativa, saudável e feliz gera menos gastos aos órgãos públicos.

Existe uma grande tendência de enxergar apenas o esporte que está mais visível, como na Copa do Mundo e nas Olimpíadas. Elevar o número de medalhas é algo oportuno. Mas uma nação ativa é a base para o esporte de rendimento com qualidade. Queremos garantir para todas as crianças do país uma carga de prática motora condizente com parâmetros internacionais. A Organização Mundial de Saúde recomenda o mínimo de 5h semanais por aluno. Sabemos, porém, que estamos muito longe do patamar nas escolas públicas e particulares.

O brasileiro gosta de esporte e assiste na televisão, mas não tem a cultura no dia a dia, o que provoca efeito em todas as esferas, inclusive na gestão pública. Gostaríamos de ver a pasta do esporte com importância maior. Nas cidades-sede da Copa do Mundo, a média de dinheiro destinada para o esporte é menor do que 1% do orçamento. Comparando com outras pastas que lidam com pessoas, como educação e saúde, é desproporcional. Poderíamos economizar bilhões de reais por ano na saúde se a prática esportiva estivesse no cotidiano da população. É cientificamente provado que a atividade física regular previne diversas doenças.

Quanto mais a área esportiva conseguir atrelar seu trabalho a essas frentes, mais obterá a percepção da população e dos dirigentes quanto à sua importância. É um caminho que nós da Atletas pelo Brasil temos apoiado e contribuído com instituições que estão na mesma empreitada.

Em 2013, em âmbito nacional, conseguimos que a Lei Pelé fosse alterada com questões como a transparência na prestação de contas e contratos, limite de mandato de dirigentes, participação dos atletas nos processos eleitorais das entidades esportivas e nas discussões sobre regulamentos dos campeonatos. A vigência começou em abril desse ano, exceção à maneira com que os atletas devem participar do processo eletivo. Só temos a ganhar com a maior participação.

E, no âmbito local, criamos o programa Cidades do Esporte, que atua nas 12 cidades-sede da Copa do Mundo. A iniciativa quer promover a importância do esporte, realizar diagnóstico sobre a atividade física e o acesso ao esporte pela população e monitorar anualmente a evolução dos indicadores nos municípios, além de fomentar o intercâmbio entre as cidades e divulgar boas práticas.

Mais recentemente, apoiamos um grupo de trabalho que tem como objetivo estabelecer um acordo setorial entre as empresas que patrocinam o esporte, por uma melhoria da gestão e da transparência no esporte. Ou seja, existe um grande anseio por uma mudança no esporte e um movimento já em curso. Não será um processo rápido, mas criará mudanças significativas em nosso País. Sabemos que é um caminho sem volta e queremos contar com uma visão convergente do governo para alcançarmos o objetivo de um futuro melhor por meio do esporte.

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