Análise de redes sociais como auxílio às intervenções sociais

Por: GIFE| Notícias| 26/08/2011
Fernando Ribeiro e Roberta Mota*

A utilização de ferramentas para diagnósticos socioeconômicos não é novidade para as instituições que trabalham com comunidades. Entretanto, a análise de redes sociais (ARS) é uma ferramenta ainda pouco difundida, principalmente entre as organizações do terceiro setor. Mais especificamente, o mapeamento das relações entre membros de uma determinada rede através da ARS ainda é novidade para a maior parte das ONGs e carece de esclarecimentos a cerca de seus benefícios.

Poucos sabem que a análise de redes sociais (ARS) é uma ferramenta que propicia uma leitura dinâmica das interações sociais. De forma geral, com ela é possível mapear as ligações entre os membros de uma rede e, assim, identificar o papel de cada um. Por isso, algumas áreas de utilização da ferramenta são: i) a gestão do conhecimento, mapeando o fluxo de informação entre funcionários de uma instituição; ii) a identificação de lideranças internas; iii) o gerenciamento de equipes, mostrando a integração entre os membros; iv) a promoção da gestão participativa, identificando atores centrais e atores periféricos; v) o monitoramento de políticas de inclusão social, apontando a interação de grupos excluídos; vi) o desenvolvimento de diálogo comunitários, diagnosticando a rede de relação entre os comunitários; vii) o gerenciamento de parcerias, mapeando instituições próximas e afins.

Para demonstrar os benefícios dessa análise, podemos citar a aplicação da ARS pela Conservação Internacional e Oréades Núcleo do Geoprocessamento para mapear a rede de comércio entre 25 famílias pertencentes a 3 assentamentos rurais localizado no município de Mineiro-GO. Essas famílias fazem parte do Projeto de Carbono no Corredor de Biodiversidade Emas-Taquari, a partir do qual espera-se que os beneficiados, através de atividades de coleta de sementes e comercialização de mudas, consigam aumentar suas rendas.

A necessidade desse mapeamento surgiu depois que a ONG Oréades sentiu necessidade de conhecer melhor os tipos de relações estabelecidas entre o público-alvo e assim ser capaz de definir as ações mais efetivas para o fortalecimento comunitário. Por isso, foi feito o levantamento de informações junto às famílias, por meio de entrevistas, e os dados processados no programa UCINET e NETDRAW.

Ilustrando uma pequena parte dessa análise, os mapa 1 e 2 da rede de famílias mostram duas situações distintas. Considerando que os círculos vermelhos representam as famílias do assentamento 1, os triângulos pretos representam as famílias do assentamento 2 e os quadrados azuis são as famílias pertencentes ao assentamento 3, o mapa 1 mostra como é a rede com todas as famílias enquanto o mapa 2 mostra como a rede se comporta sem algumas famílias.

mapa1
Mapa2

Em uma breve análise, podemos dizer que as famílias A15, A4 e A2 são centrais para comércio local e que há 4 famílias que não estão conectadas na rede. Ao retirarmos as famílias centrais do grupo, as restantes ficam mais isoladas umas das outras, fragilizando assim a rede de comércio local. Levando-se em conta que cada assentamento possui uma família com liderança local, também é possível notar elas não são as famílias consideradas centrais.

A relação entre os assentamentos ainda pode ser rapidamente analisada. Pelo número de ligações entre as famílias, pode-se dizer que comércio entre – assentamento é mais fraco que o comércio intra-assentamento, ou seja, a comercialização é mais intensa entre famílias pertencentes a um mesmo assentamento do que entre famílias de assentamentos diferentes. Isso sugere que a localização geográfica de cada família pode ser um fator que interfere no mercado local, já que muitas delas estão distantes dos limites dos assentamentos.

A experiência com a análise de redes sociais realizada com famílias de pequenos produtores permitiu identificar a rede de comércio existente dentro da própria comunidade, além de mapear as pessoas chaves nessa relação. O projeto tem agora o marco zero das relações comerciais que ali se estabelecem, podendo traçar, junto com as famílias, uma estratégia para garantir o fortalecimento das ações locais e desenvolvimento social e econômico dos beneficiados.


*Fernando Ribeiro é graduado em ciências sociais (PUC –RIO) e especialista em Terceiro setor e responsabilidade social (UFRJ), é coordenador de socioeconomia do Programa Cerrado-Pantanal da Conservação Internacional do Brasil.

**Roberta Mota é graduada em pedagogia(FIMES) e especialista em Gestão e Organização Escolar, trabalha há sete anos na Oréades Núcleo de Geoprocessamento-ONG como Educadora Ambiental e na área de captação de recursos e elaboração de projetos

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