Andrés Thompson: “questão racial não aparece como critério de investimento“

Por: | Notícias| 15/04/2010

Equidade racial e o seu papel no desenvolvimento do Brasil foi um dos temas em debate, na tarde de 8 de abril, durante o 6º Congresso GIFE. Participaram do debate Andrés Thompson, diretor de Programas para América Latina e Caribe Fundação Kellogg, Cida Bento, diretora executiva do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade (CEERT) e Sueli Carneiro, coordenadora executiva do Geledés – Instituto da Mulher Negra. Ana Toni, representante da Fundação Ford, foi a mediadora desta mesa.

Sueli iniciou o debate com uma afirmativa: É possível discutir o desenvolvimento do Brasil sem levar em conta a questão da equidade racial. “Este caminho não é circunstancial, mas estruturante para as estratégias de integração e desintegração social. Faz parte de uma política de branqueamento, uma opção histórica dos agentes políticos deste país, que teve como conseqüência a marginalização de grande parte da sociedade”, explica.

No entanto, a via da exclusão social não deu conta, até agora, de diminuir as desigualdades marcadas pelo sexo, etnia e raça. A fim de alterar este quadro de ilhas de modernidade e de atrasos, os projetos de Investimento Social Privado devem respeitar a diversidade social. “Precisamos construir outro tipo de país por meio do rompimento dos mitos remanescentes do passado, em especial, o mito da democracia racial, sob o qual a miscigenação deu certo aqui, escamoteando toda problemática racial”, avalia.

Para Cida, discutir a questão racial no Brasil provoca um desconforto na sociedade. “O negro perde sustentabilidade e leveza de ser quando cria demandas, como o sistema de cotas nas universidades. Por isso, é necessário reforçar os laços nas comunidades, investir em educação e saúde, para que a sociedade consiga reduzir as diferenças sociais nos próximos dez anos”, afirma.

Ela defende que os negros participem mais da formulação das políticas públicas para que suas necessidades também estejam incluídas. Cida conta que, por meio de uma pesquisa realizada pela internet em 2008 com a participação de 204.133 bancários no Brasil, avaliou -se a diferença de cargos e salários entre brancos e negros com o mesmo nível de escolaridade.

“Os resultados mostraram que apenas 18% dos bancários eram negros e que 66% deles haviam sido contratados nos últimos seis anos, quando começou a discussão, envolvendo o Ministério Público, a Febrabam e o CEERT. Outros dados comprovaram que mulheres negras não eram contratadas apesar de serem preparadas para a função”, revela.

Há 14 anos no país, Thompson disse que são duas as motivações para o Investimento Social Privado no Brasil: os índices sociais e econômicos e a vulnerabilidade social. “A questão racial não aparece como critério de investimento e por isso temos de começar a falar sobre ela para não sermos cúmplices da invisibilidade”, alerta.

Leia a cobertura completa do 6º Congresso GIFE

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