Aprendizados além-mar: tendências de inovação social em Portugal

Por: Instituto Sabin| Notícias| 01/03/2016

Fábio Deboni[1]

 

Primeiras impressões

Desde o início de 2015 temos procurado estabelecer conexões entre nós, do Instituto Sabin, e os colegas do Laboratório de Investimento Social de Portugal. A intenção era (e continua sendo) a de criar condições para uma cooperação que nos levasse a: a) compartilhar experiências e práticas de investimento social nestes países – casos de sucesso e também as correções, ajustes e falhas, em geral não registradas nas publicações oficiais; b) ampliar o leque de referências no campo da inovação social, aproximando olhares e práticas da América Latina e Europa, e identificando, desta maneira, novas possibilidades conceituais e metodológicas de construção de saberes na área social.

Como parte desta aproximação, foi acordada e realizada uma visita de campo a Portugal em fevereiro de 2016[2], para estreitar laços e conhecer, in loco, a cena local deste campo. Foi uma oportunidade ímpar de contato direto com diversas organizações que têm estado a frente do campo da inovação social em Portugal, além de permitir também uma interação maior com toda a equipe do Laboratório de Inovação Social[3]. Esta visita de campo também tinha como “produto” avançar no desenho de uma cooperação entre o Instituto Sabin e o Laboratório de Inovação Social.

Como parte recente de um reposicionamento estratégico do Instituto Sabin, mais próximo aos campos da inovação social e finanças sociais, temos procurado empreender esforços institucionais e práticos que nos permitam conhece-los mais de perto – suas características, principais players, desafios e oportunidades – e atuar, sobretudo, com vistas ao fortalecimento deste ecossistema e de seus intermediários. Apenas a título de exemplificação desta atuação, destacamos nossa atuação junto a:

  • Associação à ANDE – Rede Global de Empreendedorismo[4]
  • Artemísia[5], com foco na aceleração de negócios de impacto social em Saúde
  • Sitawi[6] para cooperação no início do processo de construção dos primeiros Social Impact Bonds no Brasil (Títulos de Impacto Social)
  • Rede Temática de Negócios de Impacto Social no âmbito do Gife, em parceria e sinergia com o trabalho do ICE[7]

Além destes componentes institucionais, procuramos também identificar iniciativas de inovação social em curso nas regiões geográficas de atuação do Grupo Sabin, com destaque para Brasília, Salvador e Manaus. Em geral estas iniciativas são vinculadas ao surgimento de espaços colaborativos (Impact Hub Manaus e Brasília e NOSSA em Salvador, dentre outras) que buscavam parceria com organizações privadas para sua viabilização.

Como o campo da inovação social no Brasil ainda é recente e bastante concentrado (sobretudo no Eixo Rio-São Paulo), e devido a estarmos sediados em Brasília, nosso movimento institucional buscou, de um lado, integrar-se a esta cena e participar ativamente dela e, ao mesmo tempo, tentar partilhar seus aprendizados junto a organizações locais nas cidades onde temos presença geográfica.

Ao longo da inserção neste novo campo, fomos nos deparando com a necessidade de ampliar referências, buscar fontes de inspiração até então não triviais no Brasil. De forma intuitiva nos deparamos com a cena de inovação social que está emergindo em Portugal. É interessante salientar que esta cena bebe diretamente em uma das principais fontes  no berço das finanças sociais no mundo, que é a Inglaterra, por conta de vínculos anteriores que profissionais de Portugal tiveram naquele país, em especial com a Social Finance UK[8]. Neste sentido, este referencial nos trouxe a possibilidade de construir uma cooperação com Portugal, facilitada pela identificação linguística e cultural. Curiosamente, Brasil e Portugal não são próximos no campo do investimento social, fator este que nos trouxe motivação adicional para a empreitada.

As principais referências que temos no Brasil neste campo são provenientes dos EUA, ainda que mais recentemente haja uma aproximação crescente de institutos e fundações do Brasil com parceiros na América Latina (em especial Argentina, Chile, México e Colômbia), Europa[9] e Canadá (por conta, sobretudo, da emergência das Finanças Sociais[10]).

 

Identificando concepções comuns

A cena de inovação social em Portugal também é recente e começa a ganhar terreno, pouco a pouco. Diversos profissionais que atuam neste campo sinalizam que se trata de um movimento que se inicia de 10 anos para cá, com maior impulso e pujança dos últimos 3 anos para cá. Já se nota muita movimentação no ecossistema, diversas iniciativas bastante interessantes e promissoras e uma conjuntura altamente favorável para uma escalada ainda maior. Já outros países europeus se aproximando de Portugal para “beber” nesta experiência recente, tais como França, Espanha.

Em pouco tempo esta cena estará ainda mais bem estruturada e com um portfólio mais amplo de cases e resultados. Consequentemente terá também um repertório maior de aprendizados e resultados, portanto, uma riqueza a ser partilhada. Não apenas os acertos, mas especialmente as lições aprendidas, mudanças de rumo e ajustes necessários. De todo modo, já há amplo repertório de informações e publicações disponível nas páginas web da Força Tarefa e do Laboratório de Investimento Social, apenas para citar dois.

Vale ainda frisar o apoio financeiro e técnico que Portugal tem tido acesso junto à União Europeia, suporte este que faz bastante diferença para não só disponibilizar recursos financeiros como também para alavancar esta inovação, acelerando os processos de tomada de decisão do Estado frente à sua participação no campo. Temos sentido falta de uma indução similar a esta no Brasil. A presença das organizações governamentais nestas discussões ainda é tímida.

Evidentemente que, embora estejamos a construir pontes de diálogo e cooperação em temas correlatos – inovação social, investimento social, filantropia – é fundamental que tracemos um quadro comparativo e didático das compreensões que cada país tem acerca de cada conceito. A intenção não é a de esgotar a discussão, muito menos de traçar comparações profundas sobre cada compreensão, mas tão somente a de tornar esta ponte mais clara e didática. Afinal, quando se fala em “investimento social” em Portugal se quer dizer uma coisa parecida, porém diferente do que o termo significa no Brasil. É por esta necessidade de clarificar estas diferenças de nuances e entendimentos que organizamos o quadro a seguir.

Quadro 1 – Compreensão predominante em cada país sobre temas correlatos

Termos Portugal Brasil
Filantropia e Responsabilidade Social Corporativa (CSR) De um modo geral, o termo “Filantropia” talvez seja o mais universal entre os dois países.

Há um leque de abrangência das variações da filantropia, indo da filantropia mais “clássica” que, em Portugal, está mais alinhada ao grantmaking[11]. As áreas de responsabilidade social das empresas (CRS) tendem a ter este papel e serem menos abertas a inovações. As maiores e mais tradicionais Fundações de Portugal (Gulbenkian e EDP, pra citar apenas 2 exemplos) tendem a ter uma postura mais ativa no campo da inovação social. Disponibilizam recursos (grants) e também cooperam de forma não-financeira.

Estamos a presencial um momento de ressignificação do termo “filantropia”, que ainda parece carregar consigo algo de assistencialista. Há certo consenso no Brasil de que o guarda-chuvas conceitual mais amplamente adotado é o do

“Investimento Social Privado”, que basicamente significa a alocação de recursos privados (de forma voluntária) para fins públicos[12].  Há muitas nuances e diferentes formas de implementar este investimento. Em geral, as Fundações e Institutos no Brasil tendem a preferir execução conjunta combinada com co-financiamento, ou seja, há predomínio de uma característica de executores. O fenômeno recente de surgimento das Fundações Familiares e Independentes tem posicionado o setor mais próximo à inovação social e à adoção de temas de justiça social e direitos humanos.

Investimento Social (Pt) / Finanças Sociais (Br) Sob o termo de “Investimento Social” considera-se todo investimento direcionado ao campo social que visa impacto social e retorno financeiro. Ou seja, soluções de mercado para problemas sociais diversos. Seguindo o mesmo raciocínio de Portugal, no Brasil este conceito vem sendo denominado de “Finanças Sociais”. No Brasil o termo “Investimento Social” é acrescido da palavra “Privado”, com outra conotação, como já descrita no box anterior.
Inovação Social[13] Termo que aponta para novas abordagens que o setor social está captando e adotando. Em geral, passa pela necessidade de as entidades sociais se tornarem mais eficientes, mensurarem melhor seus impactos, adotarem melhores práticas de gestão e buscarem conciliar impacto social com retorno financeiro. Nem todo o espectro de atuação da inovação social irá desembocar em soluções de mercado, mas sim na reinvenção da forma como cada organização social percebe o problema que visa enfrentar, como o faz, como conduz sua gestão e como mede seu impacto. Compreensão similar no Brasil.

 

Tanto em Portugal quanto no Brasil o termo ainda está aberto, sem uma definição consensual definida e padronizada no setor.

 

Como se nota, estamos tratando de conceitos ainda bastante abertos e em franca construção e evolução. Ainda assim, é possível identificar diferentes nuances no seu entendimento em cada país. Isso não inviabiliza, entretanto, qualquer esforço de cooperação e de troca de experiências nestas áreas. Como se viu no Quadro, há mais semelhanças de entendimento e em aspectos práticos do que divergências profundas.

O importante é sinalizar a preferência por considerar no escopo desta cooperação ao menos estes três temas centrais – inovação social, investimento social e filantropia – pois cada um procura dar um enfoque mais específico a uma dimensão desta agenda social mais ampla. Seja um enfoque mais financeiro, seja um enfoque mais clássico, seja um enfoque mais dinâmico e inovador, há um entendimento de que todos eles são bastante complementares entre si. Por isso, a adoção dos três conceitos/termos no escopo da cooperação.

Uma Cooperação Além-Mar

Partindo do pressuposto temático acima explicitado, a presente proposta de Cooperação se fundamenta a partir de 2 Eixos principais:

  • Partilha de experiências e conhecimentos
  • Fortalecimento mútuo do capital filantrópico

Sabemos o quão necessário é a partilha de experiências e conhecimentos entre os profissionais e organizações que atuam no campo. A cada curso, evento, reunião que participamos, ampliamos nosso repertório, reforçamos conceitos, revisitamos práticas. Se os momentos dos intervalos destes eventos, o tão esperado momento do cafezinho, costumam ser os mais ricos de troca de contatos, de ideias e de informações que não costumamos partilhar em nossas publicações e apresentações institucionais. É pautada neste tipo de partilha que pretendemos trabalhar. Há, evidentemente, tópicos comuns de interesse, tais como metodologias de medição de impacto, Títulos de Impacto Social, relação entre filantropia e investimento social/finanças sociais, dentre diversos outros. O mais relevante é viabilizar condições para que um canal de diálogo e de partilha seja estruturado entre os dois países.

Dentre os vários tópicos de interesse, merece destaque a reflexão sobre o papel que o capital filantrópico pode exercer para a dinamização deste campo emergente. Para tanto, é fundamental o partilhar de experiências e a construção de consensos mínimos que permitam tornar mais claro quais são os limites, potencialidades e as fronteiras de atuação da filantropia neste campo, em especial nas relações que ela estabelece com suas respectivas empresas mantenedoras (quando se aplica), com os novos contornos e formatos que surgem de criação de Fundações e também com a crescente tendência de alinhamento ao negócio que o campo passa a viver.

Alguns aprendizados

Estes primeiros contatos in loco com a realidade portuguesa me possibilitaram registrar impressões iniciais e, portanto, passíveis de análises mais detidas e aprofundadas que naturalmente o tempo as tornará possível. Compreendendo que partilhá-las mesmo assim, em seu estado mais “bruto” e passível de cometer omissões e análises superficiais e equivocadas, permite ampliarmos o leque de conhecimentos sobre o campo de forma a estimular o debate. Guardadas todas estas precauções, seguem algumas impressões iniciais desta vivência:

  • Paralelismos

Tal como no Brasil, as várias organizações que transitam no campo muitas vezes caminham de forma paralela – startups, empreendedores sociais, BCorps mais ou menos próximos no terreno da chamada “inovação social”; fundações, em geral, tocando sua vida; áreas de Responsabilidade Social (CSR) de empresas por vezes se entrelaçam com Fundações, por vezes, trilham caminho também paralelo; governo segue sua própria agenda; organizações “intermediárias” tentam ser transversais a todas as anteriores. É neste “caldo” diverso, afim e ainda paralelo que emergem inúmeras oportunidades de inovações. Ninguém arrisca ao certo onde elas vão desaguar e no que elas vão resultar, mas as organizações mais atentas e “antenadas” neste movimento de inovação aberta sabem que é preciso se envolver e participar deste processo.

Talvez este espírito essencialmente aberto e fluído torna o processo ainda mais estimulante, rico e desafiador, fazendo também com que organizações mais “tradicionais”  (algumas fundações e empresas) tendem a ter mais dificuldade em embarcar neste processo. Significa, portanto, sair da sua zona de conforto e ir ao encontro dos desiguais. Cruzar fronteiras e se aproximar de outras lógicas e práticas. É justamente nesta encruzilhada fértil que queremos atuar, seja de forma direta via Instituto ou Fundação, seja criando modelos organizacionais que consigam fazer de forma mais ágil e positiva este relacionamento. Trata-se, como se vê, de um trabalho de intermediário, mas não exatamente um intermediário que já exista e que nem sempre é visto com bons olhos (pois acabem sendo percebidos de forma equivocada como “atravessadores”).

 

  • Importância dos intermediários

Talvez um dos maiores desafios atuais das organizações intermediárias é a sua sustentabilidade financeira. Ainda têm dificuldades de gerar receitas próprias na mesma proporção de seus custos. Trazem consigo o desafio ideológico de criar mecanismos de monetização a partir dos empreendimentos que aceleram e, ao mesmo tempo, têm tido acesso ainda limitado a fontes de recurso da filantropia. Parece que a “auto-suficiência” das Fundações (que está em cheque) ainda cria barreiras para esta aproximação.

É importante que sejam criadas novas formas de aproximação entre Fundações/Institutos e os intermediários. Há uma tendência inicial de que Institutos e Fundações optem por investir recursos diretamente a empreendimentos sociais ao invés de também aportarem recursos para organizações intermediárias. Trata-se de uma percepção ainda inicial que, poderá ou não se consolidar com o avanço desta pauta no âmbito do investimento social. Uma alternativa que pode vir a ganhar terreno é que Institutos e Fundações criem novos modelos organizacionais em conjunto com intermediários, os tão falados modelos híbridos, pois guardadas as devidas proporções, as Fundações e Institutos lidam também com o desafio da sua própria sustentabilidade financeira. Basta ver diversos exemplos de momentos de crise econômica e o reflexo direto em termos de cortes financeiros dos orçamentos de Fundações e Institutos.

Intermediários vão muito além de mentoria/aceleração. Devem aportar conhecimento e oferecer suporte em diferentes dimensões (networking, chancela, sistematização e disseminação de conhecimento, indicadores de mensuração, certificação[14]). Interessante perceber o papel que vem cumprindo a Fundação Calouste Gulbenkian[15] em Portugal, a aportar recursos (financeiros e não-financeiros) ao campo, em especial ao Laboratório de Investimento Social[16] (uma organização intermediária). Refletimos com os colegas portugueses sobre a necessidade de termos no Brasil de um conjunto de algumas grandes Fundações que encabeçassem atitude semelhante, de combinar esforços financeiros e não-financeiros para estruturar o ecossistema no Brasil, com especial ênfase para as organizações intermediárias. Neste momento parece que enfrentamos, no Brasil, ao menos 2 desafios: o de convencer Fundações e Institutos sobre a relevância deste campo das finanças sociais, em especial, a partir da oferta de práticas já existentes e que funcionam bem; e convencê-los a também atuarem em prol do ecossistema (e, consequentemente, dos intermediários).

 

  • Forma e conteúdo são igualmente relevantes

Em todo o processo de construção da Força Tarefa em Portugal o desenho das estratégias metodológicas foi fundamental para potencializar o melhor conteúdo possível deste trabalho. Por vezes, ajustes metodológicos foram essenciais para assegurar o resultado esperado neste processo.

Todo o trabalho de secretaria executiva foi (e é) essencial para ir gerando registros e sínteses de modo a permitir que todos os participantes ganhassem confiança uns nos outros e, sobretudo, na condução e liderança de todo o processo. Daí a relevância no rigor da forma como tudo vai sendo registrado, disponibilizado e conduzido. Todos os registros das reuniões da Força Tarefa em Portugal estão disponíveis e na internet[17].

A publicização de todas as etapas e reuniões deste processo é fundamental. Neste quesito o processo da Força Tarefa em Portugal parece ter encontrado uma boa prática. Em sua página web é possível ter acesso não só a conteúdos sobre o campo (como na do Brasil) mas também informações sistematizadas do processo de trabalho da Força Tarefa –  atas de reuniões, decisões, esboços, etc.

 

  • Atuação em Rede se constrói na prática

É muito interessante perceber, na prática, como Portugal vem conseguindo construir uma sólida rede de profissionais que atuam neste campo. Sejam empreendedores sociais de Lisboa ou Porto, sejam Fundações e Governo, é possível notar ao menos 2 grandes hubs de conexão do ecossistema. Um deles, mais claro e mais oficial, digamos, é a Força Tarefa. A partir dela foi possível aglutinar, reunir e conectar diversos profissionais de diferentes organizações (públicas e privadas) de Portugal. Para além dos produtos que a Força Tarefa gerou, o seu processo talvez seja tão ou mais rico ainda.

Permitiu reunir pessoas ao redor da mesa, criar laços entre elas e viabilizar entendimentos mínimos. A nosso ver, três fatores de sucesso contribuíram para este êxito: a atuação da Fundação Gulbenkian, o suporte de facilitação técnica do Laboratório de Investimento Social e o acompanhamento de perto da Social Finance UK. De um lado, a Fundação Gulbenkian sendo a “Champion” da iniciativa, convocando as organizações e abrigando suas reuniões. Junto dela o Laboratório de Investimento Social viabilizando todos os drafts, pautas e metodologias de trabalho da Força Tarefa, tornando, portanto, possível que cada reunião evoluísse e criasse condições de avanços sucessivos na ótica dos seus organizadores e participantes. Finalmente, mas não menos relevante, todo o acompanhamento de perto da Social Finance UK, organização intermediária do Reino Unido que também conduziu e facilitou este processo por lá, anos atrás. A conjunção destes 3 fatores contribuiu, a nosso ver, de forma significativa para o sucesso desta empreitada.

Um segundo hub de conexão deste ecossistema, em Portugal, é o IES (Social Business School[18]). É esta “escola” que tem formado boa parte dos profissionais de Portugal que estão atuando no campo da inovação social, e que trazem consigo uma bagagem de investimento social/finanças sociais. É incrível a sua capacidade de criação de rede entre todos os alunos, ex-alunos e profissionais que já foram ou ainda estão vinculados de alguma forma com a instituição. Como muitos deles dizem, o IES é como uma “seita” do bem, pois tem conseguido formar profissionais para o campo e também “convertê-los” para esta causa.

No Brasil há certamente diversas redes que se entrecruzam no campo. Como o país é maior e mais complexo, há diversos hubs e pontos de contato destas várias redes. Boa parte deste esforço de conexão passa por estar presencialmente em São Paulo, fator adicionalmente desafiador para organizações “fora do eixo”. Além disso, há ainda o fato de haver uma gama ampla de instituições de ensino que formam profissionais para este campo, ainda que, a nosso ver, elas, em geral, não tenham tanta preocupação com formação de redes como em Portugal. Não se trata de traçar comparações, nem o de traçar qualquer juízo de valor, mas tão somente o de sinalizar tamanha diferença neste aspecto entre a realidade dos dois países. Só pra dar um exemplo para tornar o raciocínio mais claro: um jovem que mora em Palmas-TO, uma capital no interior do país, mesmo com a internet, tem muito mais dificuldade de se conectar a alguma destas redes de profissionais do campo se não tiver condições de ir à São Paulo com alguma frequência. Significa que este jovem precisa se deslocar fisicamente e se colocar o desafio de conhecer pessoas e organizações “chaves” do campo, as quais estão, invariavelmente, sediadas em São Paulo. Só pela internet seu trabalho será muito mais difícil, pra não dizer improvável.

 

Passos a seguir: o que vem pela frente

Encerro esta breve reflexão, agradecendo aos colegas do Laboratório de Investimento Social pela generosa acolhida e também à direção do Instituto Sabin pela oportunidade de realização desta viagem de campo. O mínimo que posso fazer, como profissional e apaixonado pelo campo do investimento social/inovação social, é partilhar estas impressões, registros e aprendizados, com a certeza de que esta aproximação “além-mar” trará bons e fortuitos desdobramentos. Como todo campo em aberto e em franca construção, não saber onde tudo isso vai desaguar não significa incapacidade de agir.

Para além de palavras e registros no papel, esperamos que esta aproximação possa significar ações conjuntas, colaboração mútua e, mais do que nunca, impacto social. Afinal esta tem sido a palavra mais presente no cotidiano dos profissionais do terceiro setor, filantropia, inovação social. Impact. Impacto. O perseguimos como nunca. O titubeamos como sempre.

 

“Para falar ao vento, palavras. Para falar ao coração, obras” Pe. Antonio Vieira.

 

[1] Gerente Executivo do Instituto Sabin (www.institutosabin.org.br). Atualmente coordena com outras duas organizações as Redes Temáticas de Saúde e de Negócios de Impacto Social, no âmbito do Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas – www.gife.org.br).

[2] De 15 a 19 de fevereiro de 2016, que possibilitou contato direto com profissionais do campo social de diferentes organizações (privadas e públicas) envolvidas em diferentes cenas e contextos (Força Tarefa de Finanças Sociais, Portugal Inovação Social, Empreendedores Sociais, ONGs, Fundações, dentre outros).

[3] Além de registrar nossos sinceros agradecimentos a toda Equipe do Laboratório, nosso especial menção ao amigo António Miguel pela generosa acolhida e partilha. É sem dúvida uma pessoa a fazer diferença no ecossistema de Portugal.

[4] Mais detalhes em: www.andeglobal.org. É ainda recente no Brasil e tem se constituído num bom espaço de networking e de cruzamentos de organizações diversas que atuam no ecossistema de negócios de impacto social não só no Brasil, com em outros países do mundo. A presença de Fundações, ou seja, dos atores do Investimento Social Privado – ISP – nesta Rede é ainda tímida e carece de um maior esforço de aproximação e expansão.

[5] Organização pioneira no Brasil no campo dos negócios de impacto social ajudou diversas organizações e empreendimentos sociais a se concretizarem, especialmente a partir da formulação/síntese de concepções, oferecimento de mentoria qualificada e acesso a investidores. É uma importante referência no campo no Brasil.

[6] Única organização no Brasil que lidera o processo de implementação dos Social Impact Bonds (Títulos de Impacto Social). Mais detalhes em: www.sitawi.org.br

[7] Mais detalhes sobre o ICE em: www.ice.org.br

[8] Uma das organizações de maior referência global no tema das finanças sociais: http://www.socialfinance.org.uk/

[9] Principalmente o Reino Unido, mas com alguma interação menor com outros países. A título de exemplificação, a EVPA (http://evpa.eu.com/) cumpre este papel de interação entre as diferentes perspectivas filantrópicas na Europa.

[10] E, consequentemente, das respectivas Forças Tarefas destes países.

[11] Uma organização que tem recursos (ou os capta) e destina-os (via doação) a terceiros. Via de regra a instituição doadora não participa da execução das atividades.

[12] Fonte: Gife. (https://gife.org.br/investimento-social-privado/ )

[13] Segundo a Wikipedia “se refere a novas estratégiasconceitos e organizações que atendem a necessidades sociais de todos tipos — das condições de trabalho e educação até desenvolvimento de comunidades e saúde — que desenvolvem e fortalecem a sociedade civil.

[14] Há uma publicação disponível sobre estas organizações no site da Força Tarefa de Finanças Sociais do Brasil (www.forcatarefafinancassociais.org.br), na seção “Publicações”.

[15] No âmbito do Programa de Desenvolvimento Humano da Fundação. Mais detalhes em:  http://www.gulbenkian.pt/Institucional/pt/Fundacao/ProgramasGulbenkian/DesenvolvimentoHumano

[16] Saiba mais em:  www.investimentosocial.pt

[17] http://grupodetrabalho.investimentosocial.pt/ na seção “timeline” e em cada cada há vários registros disponíveis.

[18] Saiba mais em: http://ies-sbs.org/#intro Apenas a título de curiosidade: o IES é onde o Laboratório de Investimento Social está, institucionalmente, vinculado. Em termos de espaço físico, o Laboratório situa-se na Fundação Gulbenkian, mas seu vínculo administrativo-institucional é com o IES.

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