Aprendizados da Fundação Tide Setubal em dez anos em São Miguel Paulista*

Por: Fundação Tide Setubal| Notícias| 07/06/2016

Atingir o desenvolvimento local sustentável de São Miguel Paulista, bairro da Zona Leste da cidade de São Paulo, é o que move a todos na Fundação Tide Setubal. Esse percurso, que completa dez anos em 2016, tem gerado vários aprendizados. Compartilho aqui aqueles que julgo essenciais. O intuito é colaborar com outras fundações imbuídas do mesmo propósito: trabalhar para melhorar a vida de pessoas com poucas oportunidades que vivem em um território vulnerável.

Uma das primeiras lições aprendidas no território é a necessidade indiscutível de escutarmos as reais demandas da comunidade e de respeitarmos a cultura local e seu tempo, porque são esses aspectos que, juntos, dão a tônica e o ritmo aos processos de mudança. Por isso, é fundamental evitar chegar a uma localidade com saídas prontas e rápidas, sem levar em conta os maiores anseios de moradores, bem como seu modo de ser, sentir e agir e, sobretudo, é necessário escutar como eles enfrentam os muitos problemas cotidianos.

O segundo aprendizado veio do “fazer junto”, princípio que adotamos desde o início. A partir de uma construção conjunta, ou seja, de uma criação de boas saídas ao lado da comunidade, a Fundação Tide Setubal foi ganhando aceitação e conquistando legitimidade ou “licença para operar”. Percebemos claramente aquilo que apregoa um velho ditado popular: se quer ir rápido, vá sozinho, mas se quer ir longe, vá em grupo. Constatamos que ouvir e argumentar garante a sustentabilidade das ações, pois, ao conceber e executar soluções de forma coletiva, a comunidade redescobre seu potencial criativo e, assim, se desenvolve cada vez mais, em um círculo virtuoso. Na prática, essa elaboração coletiva cria raízes e gera uma sensação genuína de confiança, pertencimento e protagonismo. Ao mesmo tempo, afasta-se da mera assistência ou caridade, que não emancipam indivíduos.

Outro aprendizado da década vem da importância de firmar e de nutrir parcerias com diferentes instituições e pessoas do território ‒ poder público, empresas, universidades, organizações da sociedade civil, lideranças comunitárias, culturais e religiosas. Isso porque nenhum trabalho que pretende realizar mudanças mais estruturais e abrangentes em educação, saúde, assistência social, habitação etc. pode ignorar os saberes e as competências dos muitos públicos de interesse já estabelecidos historicamente no território e, também, fora dele. Ao contrário, essa diversidade, quando fortalecida e posta a serviço da comunidade, é justamente um dos principais motores de mudanças.

As ações da Fundação Tide Setubal são sempre orientadas por três objetivos estratégicos: contribuir para a redução das vulnerabilidades sociais de adolescentes e jovens da região; colaborar para a ampliação da oferta e para a efetividade de ações empreendidas pelo Estado, sociedade civil e iniciativa privada voltadas ao desenvolvimento da localidade; e promover o patrimônio cultural (material e imaterial) de São Miguel Paulista e o fortalecimento de suas conexões com a cidade.

Ao celebrarmos os dez anos, observamos como a região em que atuamos evoluiu, e estamos certos de que a Fundação e demais organizações da sociedade civil contribuíram para a indução dos processos de desenvolvimento. Vários dos elementos quantitativos e qualitativos observados sugerem que tal papel foi relevante. Tentar desenvolver uma comunidade é tarefa que exige resiliência. Esse é um ponto significativo. Diante das muitas adversidades e percalços, é preciso seguir no trabalho com o olhar no longo prazo, alinhado à missão, e comemorando sempre os pequenos avanços diários. Assim continuaremos em nossa próxima década.

* Paula Galeano é superintendente da Fundação Tide Setubal. 

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