Arun Gandhi indica caminhos para promover a paz pela educação

Por: GIFE| Notícias| 05/07/2012

Arun Gandhi, de 78 anos, neto do pacifista indiano Mahatma Gandhi (1869-1948) contou episódios da convivência com seu avô para mais de 280 crianças, jovens e educadores, no sábado, 30 de junho, em São Miguel Paulista, zona leste da capital paulista. Em uma roda de conversa no Galpão de Cultura e Cidadania do Jardim Lapenna, o ativista destacou quatro perspectivas de sua proposta: a necessidade de a escola ensinar a partir das questões do dia a dia; a propagação do aprendizado como um contínuo, que vai além da obtenção de certificados; a não punição de maneira violenta; e o estabelecimento de relações respeitosas com o outro e com as coisas da criação.

Arun veio a São Paulo a convite do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS). O diálogo — com o tema “Educar para a não violência e sustentabilidade: é possível?” — foi uma iniciativa conjunta do IDS, Fundação Tide Setubal e Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). Escritor, jornalista e palestrante, ele nasceu na África do Sul e viveu sua infância ao lado de Mahatma, sob o opressivo regime de discriminação racial daquele país.

De maneira didática, Arun envolveu a plateia numa série de histórias dessa convivência com o avô. Numa ocasião, expressou sua raiva pela hostilidade que recebia de brancos, por ter a pele escura, e, ao mesmo tempo, de negros, por ter a pele clara. Gandhi explicou-lhe que a raiva era uma energia, que se propagava tal qual a eletricidade. Recomendou, então, ao neto que criasse uma espécie de árvore com situações de agressão física e de agressão passiva que presenciasse.

Aos poucos a parte do painel destinado às ofensas veladas ficou repleta de exemplos. “Entendi ali como a violência passiva pode acender e alimentar a violência física em quem recebe esse tipo de provocação. A raiva é uma bomba que carregamos amarrada em nossos corpos”, disse Arun durante o encontro com estudantes e professores. “Por uma ação pequena, tola, podemos explodir. A escola tem de ensinar os alunos a lidar com essa energia; a convertê-la em pensamentos e em ações que transformam, dentro de uma cultura de paz.”

Penalidade X castigo
Em outra situação emblemática, o ativista lembrou o dia em que, indignado com o tamanho de seu lápis, resolveu atirá-lo no mato. “Minha expectativa era ganhar um novo, quando contasse que não tinha mais lápis. Só que meu avô perguntou o que tinha acontecido e acabei revelando que o jogara fora porque estava muito pequeno. Ele me fez procurá-lo na mesma noite. Reclamei que estava escuro e ele me deu uma lanterna. Fiquei mais de duas horas para achá-lo.”

A partir daí, o palestrante indicou à plateia que as pessoas não devem ser punidas por seu mau comportamento de maneira violenta. “As crianças devem receber penalidades de acordo com a gravidade de suas faltas, mas de uma maneira edificante. Da mesma maneira, as prisões devem ser lugares que façam os cidadãos melhores, capazes de eliminar a marca de seus crimes de suas vidas.”

Arun, que hoje mora nos Estados Unidos, também criticou o consumismo desenfreado da sociedade. “É difícil sairmos desse ciclo, mas precisamos parar de atender ao apelo de querer coisas novas que fazem com que tenhamos sempre mais necessidades.” Dentro desse mesmo princípio, ressaltou que as relações não podem se basear em interesses pessoais. “Temos de criar conexões que respeitem a nós mesmos, ao outro e às coisas da criação.”

Arun sempre pautou seu ativismo político pela filosofia de não violência defendida por Mahatma. Um de seus trabalhos mais notáveis é a fundação Gandhi Worldwide Education Institute, que resgata crianças das áreas mais miseráveis da Índia para oferecer a elas uma formação básica ampla e de qualidade. Mais informações em: www.gandhiforchildren.org/pt/.

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