Associados GIFE debatem experiências brasileiras em seminário sobre avaliação

Por: GIFE| Notícias| 11/08/2014

O tema avaliação ainda se apresenta como um grande desafio para investidores sociais brasileiros. Muitas vezes entendidos como “necessidades de segunda ordem”, os processos e metodologias de avaliação merecem posição central no debate sobre investimento social empresarial e estratégia organizacional.

Olhando para as práticas bem sucedidas e experiências em andamento, três associados GIFE – Fundação Roberto Marinho, Fundação Itaú Social e Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal – discutiram o tema na última edição do seminário “Avaliação para o Investimento Social Privado”, realizado dia 6, no Rio de Janeiro.

As experiências mostram que a efetivação de um processo estruturado de avaliação do investimento social e seus impactos e resultados é bastante trabalhosa. O trabalho exige um amplo processo de diálogo dentro da organização e, mais do que isso, com seus financiadores.

Eduardo Marino, gerente de Avaliação e Pesquisa da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, que há 23 anos atua no campo da avaliação, explica que debater esse tema em um evento desse porte é fundamental para provocar profissionais que atuam na área social. “O desenho desse encontro surgiu a partir de uma conversa sobre a importância de trazer a avaliação para um campo mais estratégico.”

Ele explica que o caso da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal é particular por que contou com um momento de virada dentro da trajetória da organização. Uma espécie de ajuste estratégico de foco, quase um marco zero na gestão de projetos e na adoção de processos estruturados de avaliação. “Foi uma decisão estratégica da organização e de seus mantenedores. A adoção de uma linha de pensamento pautada em evidências científicas para a avaliação.”

Eduardo conta que, a partir dessa virada, toda a estratégia foi desenhada para seguir um rumo que aproximasse a ciência da prática e das políticas públicas, e que tivesse condições de incentivar a mensuração das experiências voltadas à infância.

Porém, não se tratou (e ainda não se trata) de uma trabalho fácil. Eduardo explica que, no caso de projetos educacionais – que compõe o foco de atuação da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal -, é sempre preciso pensar a avaliação em dois eixos: o desafio do impacto e o desafio do acesso. Isso significa avaliar o resultado quantitativo e também o qualitativo dos esforços.

Sobre quais metodologias adotar para avaliar o investimento social, ele conta que existem modelos consagrados, tanto no Brasil quanto e em outros países, mas que é preciso avaliar caso a caso. O gestor explica que o Brasil, por sua grandeza e por apresentar demandas sociais urgentes, exige um olhar cuidadoso.

“Temos o desafio da inovação, o que envolve risco e ciclos mais curtos para desenvolver alternativas de ação. Isso implica em um tipo de avaliação mais ‘soft’, no sentido de ser menos rigorosa, que leve a uma compreensão se aquilo funciona ou não em um determinado período. Ou seja, projetos inovadores exigem modelos alternativos de avaliação.”

Desapegar para evoluir

O caso da Fundação Roberto Marinho não foi muito diferente do da Maria Cecilia Souto Vidigal. Mônica Dias Pinto, gerente de Desenvolvimento Institucional, retoma o passado para explicar como a avaliação passou a fazer parte da cultura organizacional da fundação.

“Vou contar um pouco sobre sobre a história da fundação. As histórias nos ajudam a encontrar outros caminhos e outros percursos. Um dia meu chefe me chamou e perguntou qual o resultado que a fundação alcançava. Ele me disse que precisaríamos desenvolver mecanismos de avaliação e que eu iria gerenciar isso”, lembra.

Colocado o desafio, ela e a equipe partiram para a ação. O objetivo era desenvolver um processo estruturado de avaliação que ajudasse a própria equipe e seus instituidores a entenderem erros e acertos, resultados e impactos das ações. “Desde então, começamos um projeto de avaliação que, inicialmente não foi o ideal, mas o possível. O aprimoramento veio com o tempo.”

Mônica conta que o primeiro passo foi instituir um espaço de diálogo dentro da organização. A ideia era ouvir as pessoas envolvidas nos projetos sobre os processos avaliativos, sua relevância e como trabalhar com os dados. Feito isso, a equipe começou um esforço de redação do processo de avaliação para a casa como um todo. Nascia então um modelo lógico – e particular àquela realidade – de pensar a gestão dos projetos.

“Hoje eu diria que já estamos no segundo ou terceiro momento da avaliação para pensar a estratégia institucional. Várias ferramentas daquela época já não são suficientes para os desafios que os gestores enfrentam no desenvolvimento dos projetos hoje, mas estamos sempre nos reinventando. Eu acho que vivemos um grande desafio.”

A gerente de Desenvolvimento Institucional da Fundação Roberto Marinho levanta uma importante questão sobre o tema avaliação: a habilidade da equipe em reconhecer erros e mudar trajetos. “Quando avaliamos algo, colocamos muitas coisas em cheque. Quando fazemos as questões avaliativas é complicado para algumas equipes estabelecer um diálogo com os avaliadores. Isso porque a avaliação vai implicar em mudanças de estratégias. Por mais que materiais e objetivos tenham sido bem pensados, elaborados e constituídos, nem sempre eles serão a melhor estratégia naquele contexto.”

Para Mônica, avaliação também é um exercício de desapego. “Se não temos o desapego necessário para nos avaliar, vamos insistir no discurso de que estamos fazendo o certo. É preciso olhar para a paisagem toda e ver o que estamos aprendendo e o que o projeto avaliativo é capaz de nos mostrar.”

O desafio do diálogo

A tomada da decisão estratégica que mudou as práticas de avaliação de impacto na Fundação Itaú Social já tem 10 anos. Isabel Santana, superintendente da fundação, lembra que foi um grande desafio encarar essa imersão em uma linguagem totalmente nova, com práticas e processos tão diferentes do que vinha sendo praticado antes.

Para ela, não tinha como a fundação ter tomado outro rumo. “Estamos falando de uma fundação empresarial, responsável pela realização do investimento social de um banco. Em instituições financeiras termos como análise de impacto, cálculo de risco e análise de retorno econômico são usados o tempo todo. Para nós, era um mundo novo. Não tínhamos repertório de entendimento. Quando um economista falava na aleatorização, a assistente social não sabia do que se tratava. Precisamos ir com calma.”

Apesar dos obstáculos, o desafio foi encarado com destreza pela equipe. “As técnicas econométricas têm sido grandes aliadas para nossa estratégia. Essa decisão tomada foi fundamental para o rumo que a fundação tomou ao longo desses anos. Isso tem um impacto na estratégia organizacional enorme”, explica.

Todo investimento exige um retorno. Saber medi-lo é fundamental para avaliar a eficácia e a amplitude do trabalho. Um grande desafio na Fundação Itaú Social foi comunicar esses resultados. “Nosso conselho deliberativo é formado por vários engenheiros, muitos também com formação em economia. Precisamos aprender a mostrar a tangibilização dos resultados e as relações de causalidade entre o que atingimos e a intervenção que fizemos.”

Mônica conta que o repertório da linguagem precisa ser pensado quando vamos desenhar uma metodologia de avaliação. Vivenciar isso é trabalhoso, pode ser sofrido e nem sempre dá certo. Contudo, trata-se de um processo que pode gerar valiosos conhecimentos para a cultura organizacional.

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