Aumento de pesquisas contribui para consolidação do terceiro setor

Por: GIFE| Notícias| 06/08/2001

redeGIFE – Como você observa o crescimento das pesquisas sobre o terceiro setor brasileiro?
Leilah Landim – Em geral, as pesquisas refletem a realidade. Neste caso, o aumento reflete não só o crescimento do terceiro setor, mas também o reconhecimento da existência e da importância dessas organizações.

redeGIFE – Você acredita que estas pesquisas têm contribuído para a consolidação do terceiro setor no país? Por quê?
Leilah – Sem dúvida. A pesquisa é a base da disseminação de informações confiáveis. Neste sentido, ela dá consistência, credibilidade e visibilidade. Nos EUA, por exemplo, você não fala no terceiro setor sem citar estatísticas muito bem feitas. Então acredito que as pesquisas sem dúvida estejam contribuindo para a consolidação do terceiro setor, embora ainda exista pouco investimento nessa área.

redeGIFE – Ao mesmo tempo em que cresce o número de pesquisas, observam-se mais divergências ao se definirtermos como ação social, assistencialismo, investimento social privado, entre outros. Por que elas ocorrem e como superá-las?
Leilah – Ocorrem porque esse campo da ação social é muito diversificado. Há várias concepções, idéias e interesses que se colocam, cooperam ou se confrontam. Isto é natural, faz parte do processo de crescimento de uma sociedade democrática. Nesse sentido, eu não acho que seja uma questão de superar, e sim de dialogar para realizar trabalhos em cooperação, em aliança, sem que as divergências ou os conflitos sejam propriamente eliminados. Quem tem medo do conflito é o pensamento autoritário.

redeGIFE – Você observou algum dado surpreendente nas últimas pesquisas sobre o terceiro setor?
Leilah – Para quem tem uma relação mais estreita com o terceiro setor, os dados só vem a confirmar cientificamente o que a gente tem observado, sentido no cotidiano. Mas eu diria que os dados descobertos no estudo Doações e trabalho voluntário no Brasil – Uma pesquisa, lançado em 2000 pela Editora Sete Letras, foram surpreendentes em termos da quantidade de pessoas que fazem ação social e voluntária no Brasil. Sabíamos que muita gente estava engajada, mas não tínhamos a dimensão numérica, que comprovou que há ainda mais pessoas envolvidas do que imaginávamos.

redeGIFE – Mesmo com o aumento no número de pesquisas, algumas áreas do terceiro setor brasileiro permanecem inexploradas. Quais você acredita que merecem estudos com uma certa urgência?
Leilah – Ainda faltam muitas pesquisas, mas um campo para mim muito importante é o das “”organizações de base””. No Brasil nós temos hoje um número espetacular de pequenas iniciativas, que as várias pesquisas não captam, até porque elas são informais. São experiências em bairros populares, nas periferias, nas favelas, envolvendo jovens, que são difíceis de medir, de captar. Elas são fundamentais, estão crescendo muito no Brasil e é urgente que a gente olhe para elas, porque apenas conhecendo poderemos fortalecê-las.

redeGIFE – Ainda falta uma maior participação da academia no desenvolvimento do terceiro setor brasileiro. Como estimulá-la para empreender estas pesquisas?
Leilah – As universidades vêm fazendo muitos estudos nas áreas de Administração. Agora, nas que envolvem uma análise mais sociológica, econômica, antropológica, ainda há pouquíssimas iniciativas. O problema do encontro entre a academia e a prática do terceiro setor é presente não só no Brasil. A academia necessariamente trabalha num tempo mais longo, de uma maneira mais crítica, menos envolvida com uma resposta que repercuta imediatamente no cotidiano. Estamos avançando, mas para resolver esta questão é preciso investir mais recursos e promover espaços de comunicação e debate entre a comunidade acadêmica e o terceiro setor, para que um possa realmente ouvir o outro.

redeGIFE – Como você avalia o caminho percorrido pelo terceiro setor brasileiro desde sua pesquisa em 1995?
Leilah – Nada indica que tenha mudado aquele panorama, que já era de vigor, de crescimento do terceiro setor. Na área empresarial, temos amostras de que as ações tem aumentado, através das pesquisas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), dos prêmios, das reuniões. O mesmo ocorre se observarmos o campo das ONGs que trabalham com advocacy e a formação de parcerias entre as organizações do terceiro setor e o governo.

redeGIFE – Olhando para os dados das pesquisas, qual o futuro que você acredita que o terceiro setor brasileiro esteja trilhando?
Leilah – Nada impede que ele cresça, mas ainda temos desafios. Primeiro, falta uma política de parcerias do Estado com o terceiro setor, para que este se fortaleça. Depois, precisamos de um bom marco regulatório dessa relação. E não podemos ter o receio de nossas diferenças. É interessante que se mantenha a autonomia dos diversos subconjuntos do terceiro setor, o diálogo e a cooperação entre eles. A vitalidade é o pluralismo.

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