Autonomia política e apagão humano

Por: GIFE| Notícias| 17/06/2010

Geraldinho Vieira*

”A questão do financiamento das campanhas não diz respeito apenas aos aspectos (já preocupantes) da transparência sobre as doações ou da influência do poder econômico na capacidade dos candidatos em realizar suas campanhas com material de qualidade, mais viagens ou melhores profissionais de marketing, por exemplo. Se a independência de candidatos e partidos é limitada pela relação com os financiadores, não se poderia mesmo esperar que propusessem algo que representasse, digamos, uma mudança mais enfática de modelo de desenvolvimento”.
A observação é de Maria Alice Setúbal, filha do banqueiro Olavo Setúbal, socióloga e mestre em Ciências Políticas pela USP, além de doutora em Psicologia da Educação pela PUC.
Ela foi coordenadora do programa de educação do Unicef para América Latina e Caribe e atualmente preside instituição que leva o nome de sua mãe, a Fundação Tide Setúbal.

Dedicada ao desenvolvimento local com foco na Zona Leste de São Paulo (400 mil habitantes como público-alvo), através do tripé Cultura-Educação-Esporte e sempre a partir da juventude e da família, Maria Alice administra um orçamento anual de cerca de 6 milhões de reais.

Há mais tempo, entretanto, dirige o CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária. Trata-se de uma das mais importantes ongs do país, com orçamento de cerca de 20 milhões de reais/ano e 23 anos de trabalhos em suporte à educação pública. Em sua linha de trabalho, estão a formação de educadores e a criação de material didático e paradidático para o sistema formal de ensino e para a educação comunitária.
Sétima liderança social com quem comparto impressões e expectativas sobre o processo eleitoral para esta série Eleições & Sociedade Civil, Maria Alice está preocupada com o que chama de “apagão de capital humano”.
È que para Maria Alice, a escola brasileira está a milênios de distância dos novos processos de construção do conhecimento no ciclo de transição que todo o mundo vive, mas que no Brasil ganha uma complexidade cujo debate não encontra espaço no processo eleitoral:
– “A educação no Brasil chegou a patamares tão terríveis de qualidade, com efeitos tão impressionantes sobre o interesse dos jovens em freqüentar a escola, que o país já não encontra os profissionais que precisa quando entra numa agenda de século 21. Com 50% de evasão escolar na primeira série do ensino médio e apenas 10 a 12% de jovens entrando numa universidade, como podemos falar de futuro?”
Se mesmo o tema educação aparece em debate superficial nas campanhas, pergunto quais outras discussões deveriam ser aprofundadas, independente da esperança de que isso ocorra ou não.
– “Uma sociedade de baixo carbono e energia limpa precisa ser discutida nestas eleições. Assim espero!” – diz Maria Alice. E completa: “É um desafio mundial, ainda não há modelos, é verdade, mas o Brasil está perdendo tempo e espaço nesta discussão. Todas as questões relacionadas à geração de energia, consumo consciente, vida nas cidades, resíduos sólidos e outros temas deveriam estar no coração das plataformas políticas”.

* Geraldinho Vieira é Consultor na área da comunicação para a transformação social, Geraldinho Vieira é vice-presidente da ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância, professor da Fundación Nuevo Periodista Iberoamericano (Colômbia), colaborador da Fundação Ford na área do Direito à Comunicação e conselheiro do projeto Saúde Criança.

**este texto foi originalmente publicado no Blog do Noblat.
http://oglobo.globo.com/pais/noblat

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