Avaliação na educação brasileira

Por: GIFE| Notícias| 11/08/2014

O artigo produzido por Milton Alves Santos*, pedagogo e Gerente do Centro de Desenvolvimento Integral da ONG Ação Comunitária, ressalta os desafios das avaliações que medem o aprendizado e o desenvolvimento de crianças e adolescentes no país.

O que deve ser avaliado na educação brasileira?

A pergunta é capciosa. O aprendizado que crianças e adolescentes brasileiros têm nas escolas deveria ser resultado do tipo de educação a qual eles tiveram acesso. Seria simples se aprendizado e educação não fossem conceitos abstratos, que variam de pessoa para pessoa, dependem da classe social, da escolaridade, da percepção e, principalmente, da bagagem que cada um carrega consigo. Se cada pessoa atribui valores diferentes para tudo devido à vivência individual, como generalizar o tema? Portanto, na prática, não existe uma resposta única e segura para a pergunta, por isso, a questão merece reflexão.

Avaliar significa estabelecer parâmetros de qualidade e a qualidade da educação está ligada ao projeto de sociedade que cada país quer para si. Nesse sentido, torna-se imprescindível a definição dos objetivos e ambições para a educação brasileira. De algum modo, isto já está consolidado em nossa constituição, mas precisa ser constantemente reafirmado e esclarecido, pois ainda há resistências em cumprir o que determina a lei.

Na Constituição, o artigo 205 determina que a educação deve buscar o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. A lei diz ainda que a educação é um direito de todos, um dever do Estado e da família e sua realização deve contar com a participação ativa da sociedade.

Há uma grande complexidade neste artigo porque ele não define o que deve ser avaliado, mas apenas estabelece os objetivos e atores do processo educacional. Afinal, como saber se uma pessoa foi plenamente desenvolvida?

Para a UNESCO, o pleno desenvolvimento da pessoa não é uma meta estática que uma vez atingida se estabiliza. Pelo contrário. Trata-se de um processo dinâmico que nos persegue ao longo da vida. Sendo assim, o pleno desenvolvimento é alcançado continuamente quando a pessoa satisfaz suas necessidades básicas de aprendizagem.

Estas necessidades compreendem tanto aspectos formais ensinados nas escolas, como a leitura, a escrita, a expressão oral, o cálculo, conhecimentos específicos, a solução de problemas, quanto aspectos sociais, que dependem da vida em sociedade para serem transmitidos, como por exemplo, conhecimentos gerais, habilidades, valores e atitudes.

Ainda segundo a UNESCO, todas estas necessidades estão submetidas a quatro domínios fundamentais: 1) Aprender a conhecer – a aquisição do conhecimento propriamente dito; 2) Aprender a fazer – o domínio de competências que permitem aplicar o conhecimento em problemas concretos; 3) Aprender a conviver – as habilidades de convívio pacífico, democrático e colaborativo e; 4) Aprender a ser – dependente das três anteriores e materializa os efeitos do pleno desenvolvimento em cada um, tornando uma pessoa mais feliz e apta aos vários desafios da vida, na sociedade contemporânea.

Diante do exposto, é possível afirmar que as avaliações oficiais medem uma parte do pleno desenvolvimento de nossas crianças e adolescentes. Basicamente apenas a parte advinda de suas experiências escolares.

Um exemplo é o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), uma espécie de Copa do Mundo da Educação realizada a cada três anos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne as nações mais ricas do planeta e alguns membros convidados, entre eles, o Brasil. Estas avaliações medem o conhecimento em Leitura, Matemática e Ciências. O resultado ranqueia os países de acordo com seu desempenho em cada um dos itens e, quanto menor o resultado, entende-se que maior deve ser o investimento naquele quesito. Após três anos, uma nova avaliação é feita nos mesmos moldes e o ciclo recomeça.

Por mais que seja aceita a ideia de que é fundamental avaliar estas três áreas do conhecimento, é preciso reconhecer que elas não representam a totalidade do pleno desenvolvimento de uma pessoa. Mantendo a metáfora do esporte, no lugar de uma Copa do Mundo precisamos de uma Olimpíada da Educação, com várias modalidades educativas e não apenas uma pequena expressão de nossas capacidades e necessidades.

Assim, resgatando a pergunta inicial, para determinar o que deve ser avaliado na educação brasileira é necessário produzir novas abordagens que combinem as habilidades escolares com as sociais e pessoais, acrescentando no processo avaliativo temas como colaboração, sociabilidade, curiosidade, ética, cidadania, consumo responsável, gosto pelas artes, respeito aos direitos humanos, entre outros.

Trata-se mais de uma soma do que uma divisão. Não se propõe o abandono de avaliações como o PISA, mas a criação de um método de avaliação que integre os campos fundamentais do pleno desenvolvimento, permitindo um novo olhar sobre a educação brasileira e a criação de um plano de longo prazo para nossa sociedade.

*Pedagogo graduado pela USP e Gerente do Centro de Desenvolvimento Integral da Organização Não Governamental Ação Comunitária do Brasil.

Contato: [email protected]

Para saber mais, acesse:

http://unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdf

http://unesdoc.unesco.org/images/0010/001095/109590por.pdf

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