Baixo nível de leitura mostra importância de ações educativas

Por: GIFE| Notícias| 28/03/2006

O brasileiro lê pouco, lê mal e, muitas vezes, não entende o que leu. Essa realidade está atestada em pesquisas discutidas durante o terceiro maior evento literário do mundo, a Bienal do Livro de São Paulo, que reuniu em 10 dias mais de 811 mil pessoas.

A terceira edição da pesquisa Indicador Nacional de Analfabetismo Funcional (Inaf), realizada pelo Ibope e que identifica a capacidade de leitura e escrita da população brasileira, aponta que apenas 26% dos brasileiros acima dos 15 anos têm domínio pleno das habilidades de leitura e de escrita. Isto é, apenas um em cada quatro brasileiros consegue entender totalmente as informações de textos mais longos e relacioná-las com outros dados.

A Câmara Brasileira de Livros, em pesquisa realizada com brasileiros alfabetizados acima de 14 anos, atestou entre outras coisas que o brasileiro não lê sequer dois livros por ano e 16% da população concentra, em casa, 73% dos livros. Apesar de ser um estudo lançado em 2000, Marino Lobello, vice-presidente da organização, acredita que os dados não variaram muito nos últimos anos e ainda podem ser considerados atuais.

Mas alguns resultados de evolução já começam a ser observados. Na pesquisa do Ibope, que aplicou o mesmo teste a amostras semelhantes da população em 2001, 2003 e 2005, percebe-se que os percentuais de pessoas na condição de Analfabetismo indicam uma leve tendência de diminuição: eram 9% em 2001 e 7% em 2005. Também se verifica um aumento, ainda que discreto, no percentual dos que atingem o Nível Básico: 34% em 2001 para 38% em 2005.

Parte desses resultados se deve a ações articuladas entre governo, empresas e organizações do terceiro setor, que estão percebendo que para se alcançar mudanças estruturais e duradouras na sociedade, o investimento precisa ir além de ações pontuais e assistencialistas.

O Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), do Ministério da Cultura, por exemplo, é constituído por projetos, programas e outras ações de fomento ao livro, à leitura, à literatura e às bibliotecas sejam de iniciativa do Estado (governos federal, estaduais e municipais), setor privado, instituições não-governamentais e pessoas físicas. É, segundo o Minc, o primeiro na história do Brasil, com o objetivo de tornar o tema livro e leitura uma política de Estado, com base nas diretrizes estabelecidas pela Política Nacional do Livro (Lei n. 10.753/2003).

Ele foi elaborado a partir da construção conjunta com centenas de instituições e cerca de 50.000 lideranças que atuam na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas em todo o País, depois de diversos encontros presenciais, oficinas, seminários e videoconferências e, ainda, a partir de ações cadastradas no calendário do Ano Ibero-americano da Leitura, o Vivaleitura, comemorado em 2005 no Brasil e em outros 20 países da Europa e das Américas.

A última novidade anunciada pelo Minc em relação ao PNLL é a Consulta Pública para conhecer a opinião da sociedade sobre o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) 2006/2008, apresentado no dia 13/03, durante o Fórum PNLL Vivaleitura, na Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Para conhecer melhor o Plano e cadastrar projetos, programas ou eventos em uma das 120 linhas de Ação que constituem os quatro Eixos Estratégicos para que ele também faça parte do PNLL, acesse www.pnll.gov.br. Para participar da Consulta Pública o acesso é pelo site www.cultura.gov.br/pnll/consultapublica

Iniciativas de empresas de estímulo à leitura

Criar e incrementar políticas públicas para a promoção das competências de leitura e escrita e colocar a leitura no cotidiano de crianças e jovens de todo o país, também faz parte dos planos do Programa Ler é Preciso, do Instituto Ecofuturo.

Uma das iniciativas do projeto é o Concurso de Redação Ler é Preciso, que nesta quinta edição contou com a parceria doInstituto Ayrton Senna e bateu recorde de inscrições – 21 mil redações, de 438 mil alunos de ensino fundamental, de 5.083 escolas de todo o país, principalmente públicas. Em 2005, foram 9 mil inscrições. A premiação dos 60 vencedores acontece na noite de ontem, 27 de março.

Segundo Christiane Fontenelles, diretora de cultura e educação do Ecofuturo, o programa Ler é Preciso, procura preparar crianças e jovens para atuarem na sociedade do conhecimento, a partir do domínio crítico da linguagem e da competência de comunicar-se pela escrita.

Premiar pessoas também é a forma do projeto Escrevendo o Futuro, da Fundação Itaú Social, reconhecer a importância da leitura. Com foco em alunos de 4 ª e 5ª séries do ensino fundamental e seus professores atingiu, na última edição, 10.544 escolas e 25.742 educadores espalhados por todo o país.

A iniciativa se divide em anos ímpares e pares. Nos anos ímpares, a instituição se concentra no trabalho de formação presencial e à distância dos professores envolvidos no programa. Nos anos pares, são oferecidas aos alunos oficinas de leitura, aperfeiçoamento do processo de elaboração de textos e atividades extra-classe, como entrevistas com membros da comunidade. Depois do processo de formação, todos podem participar do prêmio Escrevendo o Futuro.

Outras ações contam com a criatividade local, com é o caso “”bibliojegue”” em Alto Alegre do Pindaré, no interior do Maranhão. Trata-se, na verdade de jegues levando livros para estimular em estudantes o prazer da leitura, já que a cidade não conta com uma biblioteca. A iniciativa é da professora Alda Beraldo, que conta com livros da Casa do Professor, um espaço criado em parceria com o Programa Escola que Vale, da Fundação Vale do Rio Doce, o Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária e a prefeitura da cidade.

A importância de formar leitores

Segundo Sílnia Nunes Martins Prado, coordenadora editorial da Fundação Educar DPaschoal, deve haver um esforço para criar condições para a formação de leitores. “”A única forma de construirmos adultos independentes, capazes e conscientes de seu entorno é, sem dúvida, melhorando a educação das crianças e sua relação com o livro e com a leitura””, explica.

A organização atendeu no ano passado mais de 18 milhões de pessoas em 23 estados brasileiros, com seu projeto Leia Comigo, que atingiu a marca de 25 milhões de livros distribuídos em 2005. Por essa iniciativa, a fundação foi reconhecida em meados do ano passado pela Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil – Seção Paraná (ADVB-PR), que lhe outorgou o prêmio Top Social 2005 – Prêmio Zilda Arns de Responsabilidade Social.

Maria do Carmo Krehan, coordenadora do Mudando a História, projeto da Fundação Abrinq, concorda com Sílnia. Para Krehan, a leitura é fundamental para o desenvolvimento da criança e do adolescente. “”Ler e ouvir histórias favorece descobertas para as crianças, mobiliza emoções, a imaginação, a fantasia, amplia seu repertório cultural, o vocabulário e o contato com a linguagem narrativa. Os livros permitem às crianças e aos jovens o contato com outras visões de mundo e elas podem, com isso, estabelecer relações mais críticas com sua realidade””, defende Krehan, fazendo um alerta: “”os indivíduos que se encontram distantes da leitura e sem competência para procurar e selecionar as informações que necessitam, tornam-se potencialmente excluídos dos processos produtivos e sociais””.

A forma que o projeto Mudando a História encontra para despertar o interesse dos jovens pelos livros é tornando-os mediadores de leitura e multiplicadores dessa formação, permitindo sua ação direta na comunidade. Krehan explica: “”o jovem só se envolve quando é considerado sujeito de sua ação, empenhando seu potencial para criar e assumir responsabilidade””.

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