Banco Mundial convida GIFE para discutir alianças sociais

Por: GIFE| Notícias| 16/01/2006

RODRIGO ZAVALA
Repórter do redeGIFE

Em sua primeira visita à América Latina como presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz se reuniu com representantes das principais redes sociais brasileiras. O encontro, realizado no dia 19 de dezembro, teve o objetivo de priorizar a interlocução da instituição com a sociedade civil para contribuir com o desenvolvimento do país e contou com a participação do GIFE nesse diálogo, além de outros cinco representantes da sociedade civil organizada.

A estratégia da iniciativa foi clara: ao convocar organizações que trabalham nas áreas em que investe, o banco apresenta ao seu novo presidente a visão da sociedade civil a respeito de seu trabalho. Por outro lado, Wolfowitz também saberia quão organizadas estão essas redes, podendo assim, especular possíveis parcerias institucionais.

Segundo a especialista em Desenvolvimento Social e Sociedade Civil do Banco Mundial no Brasil, Zezé Weiss, a reunião sinaliza a prioridade dada pelo banco ao diálogo com a sociedade. “”Queremos construir uma relação institucional com as redes sociais porque elas capilarizam para milhares de instituição. Essa ligação impacta de forma mais estratégica as ações do Banco Mundial no país””, conta.

Em declaração aberta à imprensa no encerramento de sua viagem, Wolfowitz deixou claro de que está orgulhoso da parceria do Brasil com o banco, por estar certo de que “”está oferecendo o melhor apoio ao país””. A respeito do terceiro setor, em que, segundo ele, existem interesses conflitantes, escreveu: “”Penso que o banco poderia ser mais útil se reunisse pessoas em torno de objetivos comuns e tentasse estabelecer uma ponte entre as diferenças que considero fundamentais.””

Para o secretário geral do GIFE, Fernando Rossetti, “”o Banco Mundial vem mostrando uma disposição crescente de diálogo com a sociedade civil dos países onde atua””. Em fevereiro do ano passado, o GIFE organizou em parceria com o Banco Mundial e o Centro de Fundações Européias (EFC, na sigla em inglês), o Diálogo de Fundações, Redes Sociais, Banco Mundial e Governo Brasileiro, que teve a participação de cerca de 200 pessoas e de mais de 20 associados ao GIFE. Em 2004, diálogo semelhante foi realizado na Tailândia, pelo Banco Mundial.

“”O Banco Mundial também está criando o Fundo Global para Fundações Comunitárias, em parceria com a Wings (rede de organizações como o GIFE, de apoio ao investimento social privado), que é uma das iniciativas mais interessantes sendo desenvolvidas atualmente no campo da filantropia mundial””, acrescenta Rossetti.

No entanto, representantes da sociedade civil presentes na reunião, embora elogiem a iniciativa do diálogo, não ficaram satisfeitos com as conclusões de Paul Wolfowitz. Entre as críticas mais severas ao encontro estão a de um presidente evasivo, que fugia ao debate, e de uma instituição omissa a respeito do monitoramento e avaliação dos projetos que financia.

Segundo Naidson Baptista, coordenador nacional da Articulação do Semi-Árido Brasileiro (ASA), falar em “”contribuir para o desenvolvimento”” não quer dizer nada. “”É uma expressão oca, que não é qualificada. O banco diz que está a favor do desenvolvimento, mas não diz qual””, questiona.

Os argumentos se justificam, na visão de Baptista, com a homogenização dos programas do governo federal, co-financiados pelo banco, que não atentam para as diferenças regionais do país e pela falta de estratégia de ação baseada em diretrizes de desenvolvimento. “”Não cabe ao banco decidir as políticas para o país, mas de questionar, reforçar e se posicionar a favor de determinadas políticas. Se a política do banco passa por um desenvolvimento ecologicamente sustentável, ele não vai financiar atividades ou propostas de qualquer governo que não sejam inseridas nessa perspectiva””, argumenta o coordenador do ASA.

Quem faz coro aos questionamentos de Baptista é Veet Vivarta, secretário executivo da Agência de Notícias pelos Direitos da Infância (ANDI). Para ele, existe um vácuo no debate sobre o que é desenvolvimento, mesmo por parte do banco. “”Devemos deixar de pensar por parâmetros centrados na lógica do desenvolvimento econômico. Este é um dos fatores responsáveis pelo cenário atual de exclusão social brasileira””.

As considerações de Baptista e Vivarta são questionadas pelo diretor do Banco Mundial para o Brasil, John Briscoe,. Para ele, é preciso ter claro que o banco é uma instituição de fomento e desenvolvimento que empresta para os países membros. Assim, ele não tem participação na formulação de políticas sociais criadas pelo governo federal, apenas indica projetos sociais de êxito realizados em outros países.

“”Ao ser assinado o termo de doação, o banco não tem nenhuma incidência sobre a ação daquele projeto. O nosso papel é do de facilitador, de promover espaços de diálogos entre beneficiários, como as organizações da sociedade civil e os gestores dos projetos que têm financiamento parcial do banco””, explica Briscoe.

No entanto, os esclarecimentos não são suficientes para outra participante da reunião, Thereza Lobo, superintendente executiva do Comunitas, organização que garantiu a continuidade dos programas gerados pela Comunidade Solidária. “”Uma das questões discutidas com Paul Wolfowitz foi a de como o banco não faz monitoramento e avaliação de seus projetos, porque existem queixas de pessoas que seriam beneficiadas e, no fim, foram prejudicadas””.

Segundo Thereza, o presidente do banco mostrou desconhecimento do assunto, sendo evasivo na resposta. “”Ele concordou que esse assunto deveria ter muita atenção, mas não disse se existe alguma proposta ou compromisso da instituição com o tema.””

Naidson Baptista acrescenta que “”isso não faz sentido. Quando ele negocia para liberar esses recursos, ele co-decide a metodologia e a concepção do projeto. Por que ele não busca ao menos co-monitorar, para ver como o projeto é executado?””, questiona.

No entanto, mesmo com ressalvas, os participantes parecem otimistas em relação à reunião. Acreditam que apesar de não trazer resultados imediatos, o encontro mostrou-se positivo no que tange o relacionamento do Banco Mundial e a sociedade civil. A começar pela participação do próprio do presidente, Paul Wolfowitz, nesse debate.

“”Pelo que nós sabemos, ele veio de uma área que não tem muito a ver com desenvolvimento e fomento, como é a missão do Banco Mundial. E o fato dele ter concordado em nos receber já é um sinal real de aproximação””, acredita Thereza Lobos. A observação faz sentido quando se lembra que Wolfowitz é o ex-número dois do Pentágono e um dos principais arquitetos da invasão iraquiana.

O presidente apresentou um pouco de suas crenças menos liberais quando concluiu que Naidson Baptista fazia críticas por estar atrelado a um pensamento puramente ideológico. “”Ele disse que o banco trabalha de forma operacional, pragmática e não-ideológica, e que o objetivo é ver ′gato pegar o rato′. Mas os projetos do governo brasileiro financiados pela instituição possuem tantos elefantes brancos que é só vemos o rato engordar””, brinca Baptista.

Independente aos seus antecedentes, o que importa aos participantes do encontro é realmente o “”espaço de semeadura””, como definiu Veet Vivarta, aberto pela instituição. “”Na verdade o banco não está fazendo nenhum favor. Dialogar com a sociedade civil organizada é um caminho natural para todas as instituições de fomento””, acredita o secretário executivo da ANDI.

Para Zezé Weiss, especialista do Banco Mundial no Brasil, os benefícios dessa interlocução têm base documental. “”Temos documentados que projetos com participação e controle por parte da sociedade civil organizada são melhor executados, funcionam melhor. É uma razão bastante prática.””

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