Bernardo Toro defende ética e mobilização social para a construção do público

Por: GIFE| Notícias| 22/08/2005

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

No último dia 11 de agosto, aconteceu em São Paulo o lançamento do livro A construção do público: cidadania, democracia e participação, do acadêmico e consultor colombiano Jose Bernardo Toro. Ele esteve no Brasil exclusivamente para apresentar a publicação – que faz parte da série Desafios de Hoje – das editoras Senac Rio e (X) Brasil -, para os paulistas e cariocas. Na capital paulistana, o evento teve o apoio do GIFE.

“”O público é aquilo que convém a todos, da mesma maneira, para a dignidade de todos. A calçada e o parque são públicos, porque sempre estão ali, para que todos transitem e se divirtam, sem exclusão por idade, sexo, partido ou religião””, escreve Toro. Na palestra em São Paulo, ele alertou para o fato de que, se não se descobre a cidade como bem público, não se fará dela segura e desenvolvida. “”Se as pessoas tomam conta e se sentem donas da rua, ficarão seguras nela””, afirmou.

Toro afirmou que construir o público é um desafio para todos os países da América Latina e defendeu que a política é a ciência de criar convergência de interesses, e não a ciência do poder. Uma sociedade, uma organização ou família só crescem, segundo ele, quando conseguem criar essa convergência. “”O motor da sociedade é formado por interesses, e não por dinheiro ou poder. O problema é que os interesses são distintos. Assim, o maior instrumento para se construir o público é criar espaços de debate. À medida que edificamos uma ordem ética de convivência democrática, superamos a violência, fortalecemos a integridade do território e a legitimidade de nossas instituições””, afirma em seu livro.

Para ele, “”a ética é altamente rentável”” e é sobre princípios de ordem ética que a democracia pode ser construída, não sobre leis. Estes princípios são: secularidade (toda ordem social é construída e pode, portanto, ser transformada pela sociedade), autofundação (“”a democracia é uma ordem que se caracteriza pelo fato de que as leis e normas são construídas ou transformadas pelas mesmas pessoas que as vão viver, cumprir e proteger””), incerteza (não existe um modelo ideal de democracia e cada sociedade deve criar sua própria ordem social), ética (o respeito pelos direitos humanos não deve ser entendido como norma, mas como uma maneira de ser e viver), complexidade (o conflito, a diversidade e a diferença são elementos constitutivos da convivência democrática) e público (na democracia, o público se constrói na sociedade civil).

Organização – Criar e fortalecer as organizações devem ser os primeiros passos para superar a pobreza em uma cidade, região ou sociedade. “”Um dos indicadores de pobreza mais graves é não estar organizado. Uma sociedade é tanto mais sólida quanto maior for o número de organizações ou associações produtivas, ou seja, organizações que gerem transações políticas, econômicas, sociais e culturais úteis””, afirma Toro.

Aprender a administrar e atuar em rede, de acordo com o colombiano, é um desafio para as ONGs e todas as organizações da sociedade civil. “”Uma rede existe quando cada ator ou um de seus membros se preocupa em contribuir para que os outros atores alcancem seus intentos, porque só assim ele também alcançará os dele.””

Se a proposta de reforma ou o projeto não fazem sentido para os envolvidos e atingidos, a implementação torna-se difícil e a sustentabilidade duvidosa. Daí a importância da comunicação e a mobilização social na construção do público. “”O êxito de uma proposta de transformação social ou política depende da qualidade de, ao menos, quatro fatores: projeto, planejamento, gestão e sentido. A criação, a transformação e a difusão de sentidos e significados são tarefa da comunicação e da mobilização social””, explica.

Entre as teses sobre o papel da comunicação na sociedade, Toro fala de sua função auto-afirmativa e de seu poder de convocar para a construção. Segundo ele, a comunicação pode ser usada sob duas grandes perspectivas: 1) para potencializar as intervenções dadas por outras áreas; e 2) como intervenção em si mesma, para mobilizar setores específicos da população.

“”Não basta que uma reforma, inovação, projeto ou programa esteja planejado e financiado. Precisa ser bem comunicado, a fim de mobilizar vontades e desejos. Os aspectos comunicativos e de mobilização são, geralmente, esquecidos nos processos de mudança””, conta, e aponta três problemas básicos a serem resolvidos para que uma mobilização aconteça: formular um horizonte atrativo e desejável, definir adequadamente o campo e coletivizar a ação.

Para Bernardo Toro, as elites dirigentes são fundamentais nos processos de mudança social, pois somente elas podem criar as convergências de interesses. Elite, no entanto, diferentemente do que muitos entendem, não é sinônimo de status econômico. “”As elites são aquelas pessoas ou grupos de pessoas que, com sua atuação ou decisão, podem modificar os modos de pensar, sentir ou agir de uma sociedade””, explica. Quando uma elite trabalha para produzir bens e serviços para o bem comum, é uma elite dirigente. Já quando ela privatiza o público ou usa sua influência e capacidade para produzir exclusão e desigualdade, é classe dominante.

No que diz respeito ao papel do terceiro setor em sociedades de baixa participação, Toro apresenta quatro teses para discussão. A primeira trata da construção do projeto de nação e indica que este é que pode dar sentido às políticas e estratégias do terceiro setor. A segunda identifica como função deste setor contribuir para a formação e o fortalecimento do comportamento de cidadania e da cultura democrática. A terceira aponta para o dever de contribuir para a reinstitucionalização do âmbito público, a fim de aumentar a igualdade e fortalecer a governabilidade. E a última afirma que o terceiro setor deve trabalhar para que os diferentes sentidos e símbolos da diversidade social possam competir em igualdade de condições.

Ficha técnica:

Título: A construção do público: cidadania, democracia e participação
Autor: Jose Bernardo Toro
Editora: Senac Rio e (X) Brasil
Páginas: 136
Preço: R$ 32Onde comprar: Principais livrarias e sites de compras do país

Da mesma coleção:

Título: Investimento privado e desenvolvimento: balanço e desafios
Autor: Marta Porto, André Urani e Mônica de Roure
Editora: Senac Rio e (X) Brasil
Páginas: 112
Preço: R$ 32
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