Boa vontade deve estar aliada à capacitação profissional dos voluntários
Por: GIFE| Notícias| 05/12/2005MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE
Marisa Seoane Rio Resende acredita que a gestão de programas de voluntariado favorece a consolidação de ações de forma estruturada e permanente. O voluntário deve estar preparado para uma participação comprometida, deve conhecer o tema e suas peculiaridades. “”No voluntariado empresarial é comum encontrar grupos com profissionais especializados contratados para coordenar ou orientar as ações dos voluntários, favorecendo o compromisso com os resultados. No entanto, é preciso preservar a liberdade de participação do voluntário””, alerta Marisa.
Para tratar de um campo como esse, ela lembra que é preciso que a gestão dos programas seja criativa e respeite ao mesmo tempo a espontaneidade e a responsabilidade do voluntário. Bruno Ayres concorda. Ele diz que algumas das atividades que fazem parte do escopo do voluntariado podem ser muito críticas e, nestes casos, a formação específica é muito importante. Mas é preciso avaliar cada situação. “”Acho que vale acreditar na capacidade e inteligência das pessoas e evitar ficar ensinando o óbvio em capacitações longas, para que o excesso de regras não seja um empecilho para a criatividade e o engajamento espontâneo do voluntário.””
Mônica Mac Dowell reforça que a formação específica depende do grau de complexidade do trabalho a ser desenvolvido, independentemente de ser voluntário ou remunerado, mas lembra que boa vontade também é fundamental. “”O que é importante é que as empresas encarem suas ações sociais com o mesmo nível de comprometimento e foco nos resultados com que encaram seus negócios, e ampliem a visão do voluntariado para além das organizações sociais””, afirma Mônica.
Ela acredita que as empresas têm um grande potencial de mobilização do cidadão para o voluntariado comunitário utilizando, por exemplo, seus canais de comunicação para a promoção de causas de interesse público. “”As esperas telefônicas, os extratos bancários, os contra-cheques, os e-mails enviados, entre outros, poderiam ser meios para divulgar sugestões de ações.””
Para o diretor executivo do Instituto Telemig Celular, Marcus Fuchs, o voluntário deve estar disposto a se capacitar e a instituição que recebe a contribuição também. “”A participação pode se dar de várias formas (uma campanha de destinação de brinquedos, uma destinação do Imposto de Renda aos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente, a pintura de uma creche, etc) e deve ser permanente””, explica. Assim, ela contemplará as diferentes habilidades dos voluntários e poderá ser ampliada para ações que sejam identificadas por ambas as partes. Caso não haja a capacitação, diz ele, o resultado pode ser a suspensão das parcerias e baixos resultados nas ações executadas.
Fuchs entende que a atuação cidadã em ONGs e em projetos de responsabilidade social resulta diretamente do avanço das discussões em torno de suas concepções e qualidade. “”Os eventos realizados a todo tempo são oportunidades para o aprendizado, o aprimoramento das visões e o compartilhamento de experiências””, afirma. Ele destaca que, para que as boas práticas se consolidem e façam a diferença, é necessário que se esteja falando delas o tempo todo. Do contrário, caem no esquecimento.
Formação – A boa vontade e a emoção são os combustíveis da ação voluntária, porém, sozinhas não se sustentam, alerta Claudia Calais. “”A formação é fundamental, pois os projetos sociais desenvolvidos junto aos públicos de interesse têm que estar cada vez mais comprometidos com o resultado, apresentando objetivos claros e metas a serem obtidas. É claro que isso tudo entrelaçado com comprometimento e dedicação, características fortes da ação voluntária””, explica. Segundo ela, a formação também garante a continuidade das ações e a manutenção do entusiasmo e freqüência dos voluntários.
Ana Paula Gumy, gerente da área de responsabilidade social do HSBC, acredita que o voluntário deve reconhecer seu papel de ator da transformação positiva da sociedade. “”A atitude é um importante começo, mas o desenvolvimento das habilidades de cada um, aplicada a diferentes realidades, exige ampliar conhecimentos, conhecer novos conteúdos, ter visão sistêmica da causa escolhida e ter a consciência que estamos inseridos num ecossistema mundial de redes que causam impactos permanentemente””, afirma Ana Paula.
A formação é necessária no sentido de estimular a criação e a confecção de projetos sociais nascidos não só do desejo e do perfil do voluntário, mas também da concreta e real necessidade da comunidade em que se atua, lembra Luciene Sena, gerente executiva da Fundação Otacílio Coser. “”Entendemos que não basta boa vontade. Ela é um elemento importante, uma vez que, sem vontade e disposição, não avançamos, não construímos nada. Por nossa experiência, percebemos que ser voluntário não significa ausência de compromisso. A intenção de ceder tempo, trocar experiências e conhecimentos voluntariamente precisa estar associada a uma causa e demanda um processo de trabalho e divisão de atribuições e responsabilidades””, alerta. Para ela, é preciso comprometimento com o processo, saber que a intenção sem planejamento e sem firmeza de propósito não potencializa o tempo voluntariamente cedido.