Bovespa lança Bolsa para investimentos sociais

Por: GIFE| Notícias| 06/09/2003

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

Nesta quarta-feira (11/6), a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) lança a Bolsa de Valores Sociais (BVS). Um conselho formado por representantes do terceiro setor, entre eles o GIFE, escolherá 30 organizações sociais que desenvolvam projetos de educação para receberem recursos dos investidores da Bolsa.

Em entrevista ao redeGIFE, o presidente da BVS, Álvaro Augusto Vidigal, fala sobre a iniciativa.

redeGIFE – Por que o mercado financeiro está despertando para a importância do investimento social?
Álvaro Augusto Vidigal – Estamos em um momento oportuno, no qual temos um programa de governo com uma preocupação maior no campo social e vemos toda uma filosofia voltada para essa área. Baseados nisso, decidimos que também deveríamos participar do movimento em prol do terceiro setor. Como temos cotadas 390 empresas e mais de 100 corretoras de valores, que são os captadores dos investidores para o mercado de ações, vimos que tínhamos um campo fértil para organizar doações para projetos importantes.

redeGIFE – Quando surgiu a idéia de criar a Bolsa de Valores Sociais?
Vidigal – A idéia foi elaborada há dois anos e tomou um pouco mais de forma no ano passado. Fizemos o comunicado à sociedade no dia do aniversário de 112 anos da Bolsa, em agosto do ano passado, e agora conseguimos dar a largada.

redeGIFE – Existe uma demanda de empresários na Bovespa que desejam investir em projetos sociais?
Vidigal – Não existe uma demanda porque isso nunca aconteceu em nenhuma outra Bolsa do mundo. Essa demanda deve ser criada. E a Bolsa é um lugar de criação de valor. Já temos essa experiência de criar e melhorar o valor das empresas, então vamos tentar criar valor para os investimentos sociais.

redeGIFE – Qual o montante de investimento esperado?
Vidigal – É impossível saber. É um projeto inédito, sem precedente. Não temos noção do que pode vir. Temos muito trabalho a ser feito. Se for bem feito, pode atingir rapidamente R$ 5 milhões, mas não podemos dizer um número esperado, pois não sabemos quais projetos vêm e como vêm.

redeGIFE – Vocês criaram o selo “”Organização Listada na Bolsa de Valores Sociais””. Ele será destinado às ONGs ou às empresas investidoras?
Vidigal – É um selo de qualidade que a Bolsa dará para a ONG, como prova de que ela tem méritos para receber o investimento. Estamos mapeando o que é bom e vamos ter um esforço de contribuição por parte de todas as corretoras, que têm contato com muita gente. Queremos simplesmente organizar um pouco mais, para que mais gente invista em projetos sociais.

redeGIFE – Qual será o foco de atuação e como será o processo de seleção e apoio aos projetos?
Vidigal – A Bolsa escolheu o campo de educação para crianças e jovens dos 7 aos 25 anos. Os projetos serão previamente analisados, definidos e aprovados pelo Conselho da Bolsa de Valores Sociais. Serão escolhidos 30 projetos. A partir daí, começaremos a captar os recursos para que eles sejam executados. Os investidores escolherão a instituição para a qual querem doar, e a Bolsa distribuirá de acordo com o cronograma de execução do projeto. Se, por acaso, algum projeto não conseguir os recursos, mas outro tiver um valor maior do que o necessário para sua execução, o doador pode realocar esse dinheiro. E pode acontecer de alguma empresa muito grande querer abraçar um projeto, então nós colocaremos outro no lugar.

redeGIFE – Quais serão os critérios de seleção das ONGs a serem apoiadas?
Vidigal – Em primeiro lugar, elas devem ter três anos de existência, para comprovar que realmente já fizeram alguma coisa pelo bem do próximo. Depois, vai depender do projeto, da importância que ele tem para a comunidade em geral, e isso será avaliado por pessoas totalmente independentes, sem nenhum cunho político e longe do ambiente da Bolsa, que poderia ter alguma influência sobre a aprovação dos projetos. O processo será totalmente isento.

redeGIFE – Como foi a escolha dos participantes do Conselho de Administração da Bolsa de Valores Sociais?
Vidigal – Essas pessoas foram indicadas por seu notório saber, capacidade e participação em eventos de cunho social. Quem ajudou bastante a definir os nomes foi a Atitude, empresa que contatamos e que já conhece o setor. Eles nos indicaram as possibilidades, e nós aderimos.

redeGIFE – Por quanto tempo deve durar o apoio a cada entidade?
Vidigal – Não há período. Gostaríamos que cada projeto fosse fechado, com começo, meio e fim. Não podemos admitir que alguém faça um projeto e dependa deste investimento para sempre. É um projeto fechado e, se for necessária alguma manutenção, a entidade pode tentar voltar para a Bolsa. Mas cada um deve procurar adquirir sua própria viabilidade pós-apoio.

redeGIFE – De quanto em quanto tempo deve haver processo de seleção?
Vidigal – Não sabemos dizer ainda, porque não sabemos quantos projetos chegarão a nós. Pode ser que tenhamos apenas 25 aprovados, por exemplo, então precisaremos receber pelo menos mais cinco. Se o projeto for realmente bom, vai pra frente.

redeGIFE – O investimento inicial da Bovespa, de R$ 400 mil, foi destinado para quais ações?
Vidigal – Para organização e estrutura. Mas não considero esse dinheiro como sendo importante. O importante é o que nascerá daqui pra frente, quanto será investido. A Bolsa cuidará de toda a análise dos projetos e, para cada doação, investirá mais 10%. Até um limite, claro, porque se tivermos um investimento de R$ 100 milhões, a Bolsa não tem R$ 10 milhões para dar. Estimamos que neste ano esse limite seja de R$ 500 mil.

redeGIFE – E não haverá custo?
Vidigal – Não haverá custo nem perda no meio do caminho, como costuma acontecer. Os R$ 100 que chegarem à Bolsa seguirão diretamente ao destinatário. A empresa será contatada para fazer uma doação social, ela não irá investir na Bolsa. O que faremos é analisar projetos nos quais as empresas poderão investir.

redeGIFE – A Bovespa tem outras ações sociais?
Vidigal – A Bovespa hoje faz doações a 50 organizações sociais. Mas isso fica muito disperso e é um valor que pode ser bastante para nós, mas acaba sendo muito pouco para cada uma dessas instituições. Portanto, achamos melhor concentrar esse tipo de esforço para que cada organização possa receber mais recursos. Até hoje, o investimento anual deve ter sido em torno de R$ 400 mil a R$ 500 mil.

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