Brasil é um país solidário, mas ainda precisa desenvolver cultura de doação

Por: Fundação FEAC| Notícias| 26/06/2023
Brasil é um país solidário, mas ainda precisa desenvolver cultura de doação

O Brasil está entre os 20 países mais solidários do mundo. É o que diz o relatório anual World Giving Index 2022, produzido pela organização Charities Aid Foundation (CAF), representada no país pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis).

De acordo com a pesquisa Percepção e Prática da Doação no Brasil, lançada este mês e conduzida pelo Datafolha, cerca de 31% dos brasileiros fizeram, pelo menos, uma doação em dinheiro ao longo de 2022. Entre os destinos das doações se encontram instituições, coletivos, ações beneficentes de igrejas e campanhas de captação de recursos para projetos sociais.

Para fortalecer a cultura de doação, a Fundação FEAC promove diversas campanhas de doação em Campinas (conheça no quadro no fim da matéria). Todos os anos, a organização promove o Dia de Doar no município, uma ação que é reconhecida mundialmente. “É um momento específico para lembrar qual é a importância da doação, o quanto podemos impactar as pessoas. E é uma ação tão grande que agora faz parte também do calendário do município. Tudo por incentivo da Fundação FEAC”, conta Gabriela Ferreira, analista de projetos do Programa Cidadania e Impacto Social da FEAC.

O que é cultura de doação?

Cultura de doação é transformar o ato de doar em uma conexão com uma causa social. A doação deixa de ser uma ação assistencialista e passa a ser uma ação cidadã comum, que busca impulsionar mudanças positivas na sociedade.

“Estamos em um país que é marcado por diversos tipos de desigualdade: econômica, racial, de gênero. E uma forma que a gente encontra para superar essas barreiras é através da solidariedade. Doar é fortalecer os vínculos que temos uns com os outros dentro de uma comunidade”, diz Gabriela Ferreira.

A doação não está somente atrelada a recursos financeiros. É possível doar bens materiais, fazer trabalho voluntário e ajudar na divulgação de uma causa em sua plataforma.

Paula Fabiani, CEO do Idis, afirma que no Brasil há uma cultura de doação, mas que é uma cultura de doadores que não são recorrentes e que surgem em momentos emergenciais. “O brasileiro não faz uma doação mensal para sustentar a atividade de uma organização sem fins lucrativos e não tem a visão de que o ato da doação é um ato de cidadania”, explica.

O cenário da doação no Brasil

A boa colocação do Brasil no ranking World Giving Index 2022 não é por acaso: a crise socioeconômica e o contexto da pandemia da Covid-19 influenciaram no aumento de ações solidárias entre os brasileiros. A pesquisa leva em consideração o percentual de ações como trabalho voluntário, doação em dinheiro e ajuda a um desconhecido – categoria na qual o país obteve o melhor desempenho.

Apesar do aumento da solidariedade em momentos pontuais, a ação não é recorrente e, por isso, o volume de doações ainda é baixo no Brasil. De acordo com a Pesquisa Doação Brasil 2020, promovida pelo Idis e pela CAF, de 2015 a 2020, menos brasileiros doaram a Organizações da Sociedade Civil (OSC). O valor da doação também diminuiu.

A pesquisa mostra que a crise e a pandemia influenciaram na queda de doações em dinheiro, levando muitas pessoas a não doarem por medo de perder renda. Já por outro lado, a doação em dinheiro cresceu entre as classes com alta renda familiar.

“A doação está totalmente ligada ao desempenho econômico de um país. Por exemplo, o índice de doação em 2015 foi bom, mas pós 2015 tivemos uma crise econômica que foi aprofundada pela pandemia, e a pesquisa pegou esse efeito”, explica Paula Fabiani.

Os desafios para fortalecer a cultura de doação no Brasil

Para desenvolver uma cultura de doação forte no Brasil, o primeiro passo é transformar a doação em uma prática regular. Segundo Paula Fabiani, a legislação burocrática ocasiona um ambiente desfavorável à doação.

As leis de incentivo fiscais são meios importantes para o terceiro setor conseguir recursos. Um exemplo é a doação de parte do imposto de renda a projetos esportivos, sociais e culturais.

Mas Paula observa que a lei funciona mais como um direcionamento do imposto do que uma doação. São os órgãos públicos que selecionam as organizações e aprovam quais projetos recebem o recurso – o que impede o contato entre o doador e a OSC, o que propiciaria um maior engajamento. Além disso, nem todas as causas, como projetos ambientais, são contempladas.

Outro obstáculo é a falta de uma consciência cidadã. É comum pensar que não é obrigação das pessoas contribuir para o desenvolvimento da sociedade, sendo esta função exclusiva do governo. Mas para superar problemas sociais e ambientais a atuação conjunta é o caminho necessário, explica Paula Fabiani. “O governo não tem condições de enfrentar todos os desafios socioambientais. Eles têm que ser enfrentados pelos três setores: governo, empresas e organizações da sociedade civil.”

A ausência da doação como tema de conversas no dia a dia também prejudica o fortalecimento dessa cultura no país. Segundo a Pesquisa Doação Brasil 2020, 69% dos brasileiros acreditam que o doador não deve falar para os outros que faz doações.  “Como é que conseguimos promover uma cultura de doação se não podemos falar sobre o assunto?”, questiona Paula Fabiani.

É necessário transparência e comunicação

Uma forma de popularizar a doação é simplificar os incentivos fiscais, como sugere Paula Fabiani. Ela diz que a responsabilidade de escolher o destino da doação deve ficar a cargo do doador, e não de órgãos públicos. Com isso, a pessoa se interessa pelo trabalho da organização, acompanha os resultados da sua doação e passa a se tornar um doador recorrente.

A comunicação também pode ser vista como uma solução: conversar sobre o assunto desperta o interesse de pessoas, esclarece rumores e incentiva a prática. Gabriela Ferreira diz que as organizações precisam ser transparentes e mostrar os impactos dos projetos para que as pessoas se identifiquem com a causa.

Em Campinas, um dos papéis da FEAC é atuar como uma ponte entre doações e as OSC. “As pessoas procuram a FEAC para poder direcionar uma doação para algum lugar porque às vezes elas não conhecem nem as organizações de Campinas, não sabem para onde doar”, explica Gabriela.

Ela cita um exemplo recente de doação de cobertores realizada por uma cooperativa de saúde. A FEAC fez um mapeamento interno com os Programas para encontrar o melhor destino e a doação foi encaminhada para uma instituição de abrigo parceira.

Doar é investir no desenvolvimento do país

Uma cultura de doação reflete no desenvolvimento de um país justo e igualitário. Doações bem direcionadas possibilitam a proteção de grupos minoritários, conservação do meio ambiente, garantia de direitos dos cidadãos e defesa da democracia, por exemplo.

Com a doação, as OSC conseguem se manter financeiramente estáveis e criar soluções eficientes e diretas para superar os problemas sociais. Organizações fortalecidas são essenciais para o controle social do governo e das empresas. Elas acompanham e fiscalizam as ações do governo, apontando irregularidades e cobrando práticas voltadas a justiça e ao bem-estar de todos.

“As organizações sem fins lucrativos são significativas. Para se ter uma sociedade saudável, é muito importante ter vozes representadas e ativas. No fundo [a doação] é algo que retorna para os próprios cidadãos”, diz Paula Fabiani.

Campanhas de doação em Campinas que a FEAC apoia

Conheça campanhas de arrecadação que a Fundação FEAC promove e/ou apoia no município de Campinas:

  • Mobiliza Campinas: a campanha está em sua 4ª edição e tem como meta beneficiar mais de 4 mil famílias em situação de insegurança alimentar e vulnerabilidade social de Campinas. Acesse o site.
  • SOS Chuvas: campanha emergencial realizada em parceria com a Prefeitura de Campinas para apoiar organizações da sociedade civil afetadas pelas chuvas na cidade no início do ano. Acesse o site.
  • Leão Solidário: incentiva a doação de parte do Imposto de Renda (IR) aos Fundos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente (FMDCA) e da Pessoa Idosa (FMPIC) de Campinas que investem em projetos sociais. Acesse o site.
  • Doe Campinas: versão regional da campanha mundial Dia de Doar realizada na primeira terça-feira após o Dia de Ação de Graças. O movimento tem o objetivo de impulsionar a cultura de doação no Brasil. Acesse o site.

Por Pietra Bastos

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