Brasileiros ainda não prestigiam ou punem empresas de acordo com seu comportamento

Por: GIFE| Notícias| 20/12/2004

ALEXANDRE DA ROCHA
Editor do redeGIFE

Entre 2000 e 2004, cresceu de 35% para 44% a parcela de consumidores brasileiros que consideram que as grandes empresas devem ir além de cumprir as suas obrigações mais básicas, estabelecendo padrões éticos mais elevados e participando efetivamente na construção de uma sociedade melhor para todos.

Ao mesmo tempo, o número de pessoas que efetivamente prestigia uma empresa socialmente responsável comprando seus produtos ou falando bem da organização caiu de 24% para 17% no mesmo período. Já aqueles que concretamente puniram empresas socialmente irresponsáveis, criticando ou deixando de adquirir seus produtos, também recuou de 19% para 14%.

Estes são os resultados mais expressivos da pesquisa Responsabilidade Social das Empresas – Percepção do Consumidor Brasileiro 2004, lançada na última quarta-feira (15/12), em São Paulo. A iniciativa é do Instituto Akatu e do Instituto Ethos, em parceria com a empresa de pesquisa de mercado GfK Indicator e com apoio do Carrefour.

Para Hélio Mattar, diretor presidente do Instituto Akatu, em uma primeira análise os números revelam um aparente risco para o movimento de responsabilidade social empresarial no Brasil. Afinal, se os consumidores não prestigiam ou punem as empresas de acordo com seu comportamento, muitos empresários podem colocar em xeque a necessidade de se preocupar com isso.

“”As empresas encontram na responsabilidade social empresarial um diferencial de competição muito grande. Diferenciações de marca e preço, por exemplo, são muito pequenas hoje em dia. Neste sentido, se os consumidores não perceberem a responsabilidade social como algo importante, de fato o setor privado pode desistir. Realmente não há punição daquelas que são irresponsáveis, mas os consumidores mostram claramente na pesquisa que querem empresas cada vez mais socialmente responsáveis. O que me parece é que falta chegar ao consumidor mais informações sobre o que as organizações fazem para que ele possa comparar e fazer escolhas. Trabalharemos para isso e, acreditamos, o risco que existe não será significativo””, afirmou durante a apresentação dos resultados do levantamento.

Para mostrar que os consumidores estão atentos ao comportamento do setor privado, Mattar aponta dois resultados da pesquisa: 76% dos entrevistados acreditam que, como consumidores, podem interferir na maneira como uma empresa atua de forma responsável e 72% está muito interessado em conhecer mais os meios que algumas organizações estão utilizando para serem socialmente responsáveis. “”Já há uma massa crítica sobre o consumo consciente que, além de exigir, caminha para também punir e premiar””, avalia o diretor presidente do Instituto Akatu.

Outros dados da pesquisa reforçam a importância dada pelo consumidor ao papel social das empresas. A maioria (70%) dos pesquisados acredita que as grandes organizações devem estar diretamente envolvidas na resolução dos problemas sociais, um aumento de cinco pontos em relação ao último levantamento, de 2002.

Para Oded Grajew, presidente do Instituto Ethos, o consumidor tem papel fundamental no processo de responsabilidade social empresarial. “”Se ele não se importar, o movimento não se desenvolverá””, avalia.

A pesquisa revelou que os relatórios sociais e ambientais podem ser boas maneiras de sensibilização do público. Apesar de apenas 7% dos entrevistados afirmarem terem lido um documento deste tipo, 73% daqueles que tiveram acesso ou ouviram falar sobre um desses relatórios mudaram sua opinião sobre a empresa para melhor.

Grajew ressalta que o setor privado é, de longe, o mais poderoso no mundo atual. Para ele, qualquer atitude das empresas impacta na sociedade. Por essa razão, no limite, o lucro só deve ser obtido pela responsabilidade social. “”Precisamos mostrar ao consumidor que, na hora de comprar, ele está fazendo escolhas. Está melhorando ou piorando a sociedade, o país, o mundo. Temos que provocar a população a pensar nesse sentido””, afirma.

Internacional – A pesquisa Responsabilidade Social das Empresas – Percepção do Consumidor Brasileiro 2004 faz parte do estudo internacional Corporate Social Responsability – Global Public Opinion on the Changing Role of Companies, realizado desde 2000. O objetivo é monitorar a percepção dos consumidores sobre o papel das empresas na sociedade e suas expectativas em relação aos impactos sociais da atuação do setor privado.

Na comparação entre os demais países onde o estudo também é realizado, o Brasil ocupa uma posição intermediária em diversos pontos. No México, por exemplo, 83% da população declarou interesse pelas ações socialmente responsáveis das empresas. Logo em seguida vem o Canadá, com 77%, e Itália e África do Sul, com 76% cada. O Brasil aparece algumas posições abaixo, com 72%, acima de países como os Estados Unidos (67%) e Alemanha (66%). Em último aparece o Uruguai, com 42% da população interessada no tema.

Na Austrália, 53% da população efetivamente premia empresas socialmente responsáveis, comprando seus produtos ou elogiando sua atuação. No Canadá e nos Estados Unidos, 44% reconhecem as organizações. No Brasil esse número é bem inferior (17%), mas ainda acima de outros países latino-americanos como Argentina e Chile (12%). O Uruguai, novamente, aparece no fim da lista (8%).

Para chegar aos resultados da pesquisa Responsabilidade Social das Empresas – Percepção do Consumidor Brasileiro 2004 foram realizadas mil entrevistas pessoais e domiciliares, divididas em cotas de classe, idade, escolaridade e ocupação, conforme dados da Pnad 2001 (Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O questionário foi aplicado à população adulta (18 à 74 anos) em dezembro de 2003, em nove regiões metropolitanas, além do Distrito Federal e Goiânia (GO): Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e São Paulo (SP). Os resultados estão disponíveis para download gratuito no site www.akatu.org.br.

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