Campanha do Dia de Doar é lançada no Brasil

Por: GIFE| Notícias| 10/10/2016

Com o mote Quem tem coração, doa! / Quem doa, transforma!”, acaba de ser lançada no Brasil a Campanha do “Dia de Doar”, que, neste ano, será em 29 de novembro. A campanha é a versão brasileira da iniciativa global criada nos Estados Unidos, em 2012, com o nome de Giving Tuesday, e tem como objetivo promover a filantropia por meio de uma grande campanha de mobilização para doação às organizações não-governamentais.

O Dia de Doar tem mais de 15 mil parceiros no mundo inteiro. No ano passado, 71 países participaram da causa, que conquistou cerca de 700 mil doadores online. Somente pela internet, foram levantados 116,7 milhões de dólares.

No Brasil, a iniciativa acontece desde 2013 e é liderada pelo Movimento por uma Cultura de Doação, uma coalização de pessoas e organizações que promove uma série de ações visando fomentar no Brasil uma sociedade mais doadora.

“A proposta do Dia de Doar é justamente chamar a atenção das pessoas para a importância de se mobilizar e contribuir para fazer a sociedade civil mais forte e justa, a partir de cada contribuição individual. É um chamado à ação, em que qualquer pessoa pode participar”, ressaltou João Paulo Vergueiro, diretor executivo da ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos) e membro de conselho do Dia de Doar, durante o evento de lançamento, realizado em 05 de outubro, no Insper, em São Paulo.

“Todo dia é dia para doar. Mas, é importante termos uma data para celebrarmos, independente da causa, e estarmos alinhados à campanha global”, completou João.

A ideia é que no dia 29 de novembro cada organização interessada em se envolver com o Dia de Doar desenvolva sua própria campanha de mobilização, aproveitando o material e produtos elaborados para a data. No site do Dia de Doar, é possível encontrar, inclusive, um kit de ferramentas com dicas e orientações sobre como se envolver.

A cada ano, a iniciativa ganha novos adeptos no Brasil. No primeiro ano, 600 organizações se cadastraram no site e desenvolveram ações em suas causas. Em 2015, foram mais de 1200. A expectativa dos organizadores é que, neste ano, esse número chegue a 1500 instituições.

Segundo João, diversas organizações tiveram resultados positivos no Dia de Dar. O PayPal, por exemplo, fez uma campanha com dez organizações e conseguiu levantar na data R$30 mil, e a plataforma Juntos.com.vc, arrecadou R$35 mil.

Mobilização pelo mundo

Os norte-americanos Henry Timms, diretor executivo do 92nd Street Y, um renomado centro cultural e comunitário de Nova York, e Asha Curran, chefe de inovação e diretora do Belfer Center for Innovation & Social Impact no 92nd Street Y, estiveram pela primeira vez no país, durante o evento de lançamento do Dia de Doar para compartilharem as suas motivações na criação do Giving Tuesday.

Henry ressaltou que a proposta surgiu com a intensão de despertar nas pessoas a generosidade e de mostrar como é possível todos se conectarem de forma muito humana a fim de colaborar com causas de transformação. “Queremos mostrar para as pessoas que todos podem participar e que tem algo a doar. E é isso que tem acontecido. Em 2015, a campanha envolveu mais de 700 mil doadores individuais, com doações principalmente entre 20 e 50 dólares”, comentou, ressaltando que a data pode ser o primeiro passo para que as pessoas se tornem doadoras recorrentes.

Segundo os criadores da iniciativa, o papel da mídia e, principalmente, das redes sociais tem sido fundamental para mobilizar mais pessoas. No ano passado, o Facebook fez um banner chamando para o Giving Tuesday, por exemplo, e ele foi clicado mais de 1 milhão de vezes. Várias outras iniciativas conquistaram ótimos resultados em 2015, como a empresa de transporte Uber, que, na data, direcionou suas ações para a Fundação Bill & Melinda Gates e esta conseguiu um dia de recorde de doações direcionadas. A PayPal também bateu recorde de doações online levantando 45 milhões de dólares para várias organizações em 24 horas.

Asha destacou a importância das organizações adaptarem a ideia do Giving Tuesday em acordo com suas propostas mobilizando as pessoas, inclusive, para outras maneiras de doação, que vão muito além dos recursos financeiros. A instituição Organize.org, por exemplo, chamou a atenção da sociedade sobre a importância de se doar órgãos e conseguiu, assim, o dia de maior doação de órgãos da sua história.

Já em Ruanda, na África, diversas comunidades se uniram para fazer ações mais comunitárias, como a limpeza ou reforma de uma escola, por exemplo. “É essencial também trazer para esses locais essa perspectiva de que eles têm algo para ajudar, doar e fazer e não apenas para receber, o que acontece, normalmente, em locais mais desfavorecidos”, destacou Asha.

Ao longo destes anos de campanha foi possível aprender, de acordo com Henry, três lições principais. A primeira é dar liberdade às organizações para adaptarem as ferramentas e fazerem suas próprias campanhas, sem regras pré-estabelecidas. “Isso é atraente porque empoderamos as pessoas a fazerem como querem e não como nós queremos”, ressaltou.

O segundo aprendizado diz respeito à importância da missão da organização estar acima da marca, garantindo que mais pessoas queiram participar desse movimento, independentemente da instituição levar os créditos para tal ou não. E, por fim, destacou a relevância das organizações no setor serem “condutoras de luz”, ou seja, aquelas que iluminam o caminho para que mais doadores se unam à sua causa.

Como engajar

Mas, afinal, como mobilizar mais pessoas para a causa? Como fomentar essa prática doadora? Segundo Henry e Asha, é preciso fazer dois movimentos: pedir mais para que as pessoas doem e solicitar isso, principalmente, aos conhecidos. “As pesquisas têm mostrado justamente que a primeira razão que faz com que doem é se alguém pede. Por isso, façam mais pedidos regularmente de doação à sua causa. E, o segundo fator social que mais influencia a doação, é se esse pedido é feito pelos amigos”, comentou Henry.

De acordo com o especialista, é preciso que as organizações, portanto, mobilizem seus stakeholders e sua comunidade de influência para pedir em seu lugar, garantindo resultados muito mais relevantes. Foi o que aconteceu, por exemplo, na Universidade de Michigan no Giving Tuesday do ano passado. A partir da mobilização da sua comunidade, a Universidade conseguiu levantar 4.3 milhões de dólares.

Asha destacou ainda a relevância do trabalho colaborativo, com várias organizações atuando de forma conjunta e em rede, para potencializar os resultados a aumentar as doações para o setor.

Outro ponto fundamental, destacou Henry, é fazer com que as pessoas se sintam capazes de doar. Para isso, o discurso do pedido tem que mudar: algo invés de pedir “doe”, apenas, diga “faça a sua doação, um dólar já ajuda muito”. “As pessoas não doam porque acham que não podem fazer parte disso. Meu conselho: empodere as pessoas e façam com que elas se sintam importantes”, destacou.

Criar um ambiente de confiança também é uma questão essencial para fomentar a cultura de doação, acreditam os especialistas. Para Henry, é preciso que as organizações mostrem mais as suas histórias e o poder de transformação desse trabalho no mundo. “Novamente o discurso tem que mudar. Não é para as entidades dizerem: ‘Você precisa confiar em mim’. A conversa deve ser: ‘Estou fazendo um trabalho fantástico, olhe os dados e resultados como são ótimos, e, por isso, me ajude a continuar. Passe então da conversa de ‘confie em mim’, para a conversa de ‘demonstração dos fatos’”, ponderou.

No Brasil, um dos desafios das organizações não-governamentais para aumentar ainda mais a cultura de doação é a questão regulatória que, muitas vezes, dificulta ou inibe as doações. Na opinião de Asha, porém, essas questões não têm se mostrado impeditivas em outros países para um engajamento das pessoas no Dia de Doar.

“Não acredito que sejam obstáculos intransponíveis. As pessoas não doaram, por exemplo, porque tiveram incentivo fiscal, mas sim porque sabiam que era positivo. Isso é muito importante. O movimento social faz isso: captura a imaginação das pessoas e faz com que caminhem para a ação. Esse sentimento de que você é parte de uma coisa maior é o grande motivador para a doação”, destacou Asha.

Próximos passos

A partir de agora, o Movimento por uma Cultura de Doação irá disseminar os materiais da campanha e acionar a sua rede para que mais organizações participem da iniciativa. Na opinião de Joana Lee Ribeiro Mortari, articuladora do movimento, o mote do Dia de Doar pode ser uma ótima oportunidade para as entidades realizarem suas próprias campanhas de arrecadação de fim de ano, assim como uma possibilidade das empresas mobilizarem seus funcionários e clientes direcionando recursos às organizações na data.

As possibilidades de atuação para os institutos e fundações também são diversas, passando pelo papel de influenciadores, ou seja, ativando sua própria rede para que mais pessoas doem, como também sensibilizando e orientando as empresas mantenedoras para que possam adotar na campanha.

A Associação CitiEsperança, por exemplo, irá participar pela primeira vez do Dia de Doar e já definiu como será sua ação. Articulada à data, a entidade fará durante toda a semana do dia 29 de novembro uma campanha de marketing interno no Citi a fim de conquistar novas doações para a sustentabilidade da associação, assim como palestras e oficinas sobre o tema da doação e de voluntariado, com a proposta de engajar mais funcionários da empresa para as atividades da entidade, que atua na área de educação transformadora.

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