Canal Futura completa seis anos de parcerias pela TV educativa

Por: GIFE| Notícias| 22/09/2003

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

O Canal Futura completa nesta segunda-feira (22/9) seis anos de existência. Iniciativa de 14 parceiros – CNI (Confederação Nacional da Indústria), CNN International, CNT (Confederação Nacional dos Transportes), Fiesp (Federação das Indústria do Estado de São Paulo), Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro), Fundação Bradesco, Fundação Itaú Social, Fundação Vale do Rio Doce, Instituto Ayrton Senna, Rede Globo, Sadia, Schering, Sebrae (Serviço de Apoio a Micro e Pequena Empresa) e Votorantim – o Futura tem como principal missão contribuir para a formação educacional no Brasil.

Em entrevista ao redeGIFE, a gerente-geral do canal, Lúcia Araújo, fala sobre parcerias e o acesso à programação educativa no país.

redeGIFE – Como surgiu a idéia de criação do Canal Futura? Qual o seu principal objetivo?
Lúcia Araújo – O Futura surge, de um lado, como mais um passo na trajetória da Fundação Roberto Marinho de unir a força da televisão à prática educativa. Nessa trajetória, o primeiro marco foi o telecurso e a metodologia desenvolvida pela Fundação de trabalhar os produtos audiovisuais em ambientes de aprendizagem, as tele-salas. É por isso que o maior diferencial do Futura é o fato de ele não ser apenas um canal educativo para se assistir, mas principalmente um canal para se utilizar, cujos conteúdos cada escola ou instituição pode construir seu próprio projeto pedagógico.Além disso, em pesquisas realizadas antes da criação do canal, identificamos que havia uma enorme disponibilidade dos brasileiros para aprender e uma grande oportunidade para se criar formatos que unissem conteúdo de qualidade a linguagens capazes de interagir, de tocar o público. O Futura também nasce com uma proposta nova de relacionamento com o público, de menos virtualidade e mais materialidade, de mais enraizamento no universo de seu público.

redeGIFE – Quais são os principais temas abordados nos programas do Futura?
Lúcia – O Futura procura ser um canal plural, com um caráter extremamente pragmático, que discute menos as teses e mais as práticas, que mostra mais as soluções, que vai além das dificuldades, que tenta ser claro e inteligível. Do ponto de vista de recorte conceitual, os nossos programas tentam dialogar, dentro do possível, com várias áreas do conhecimento, tentando romper com uma visão fragmentária do mundo. Dentro dessa perspectiva, trabalhamos também com algumas referências que têm a ver com nossos valores: a capacidade empreendedora, o espírito comunitário, o desenvolvimento sustentável, a prestação de serviços, a saúde, a formação de crianças e jovens e o pluralismo cultural brasileiro.

redeGIFE – Como foi o processo de criação das parcerias para o Canal? Elas existem desde a concepção do projeto ou foram conquistadas após seu lançamento?
Lúcia – O conceito de uma parceria da iniciativa privada em torno da educação faz parte do nosso DNA, assim como o conceito da mobilização comunitária, por meio do qual trabalhamos os conteúdos do canal de forma presencial nas escolas e comunidades. Há seis anos, quando o canal foi criado, a palavra parceria ainda não estava na moda, mas a Fundação Roberto Marinho já tinha uma história de articulação de parceiros. Por isso, o Futura também se beneficia dessa sensibilidade de unir ao projeto as iniciativas pela melhoria da educação que já vinham sendo desenvolvidas por instituições e empresas. Essa característica faz dele um dos poucos canais privados e coletivos de educação do mundo. Privado e não comercial.

redeGIFE – Quantas cidades brasileiras têm acesso à programação do Canal Futura?
Lúcia – O acesso é feito de muitas maneiras, além da distribuição televisiva (cabo, parabólica, VHF e UHF, por meio de TVs ligadas a universidades). Os passageiros da ferrovia Carajás assistem aos programas do canal dentro dos trens, numa parceria do Futura com a Fundação Vale do Rio Doce. Na Febem de Ribeirão Preto (SP), existe uma videoteca com mais de 6.000 programas que são assistidos pela comunidade. Estamos em todos os estados e em mais de 10.300 instituições, das quais 85% são escolas públicas e as demais estão distribuídas entre presídios, hospitais, creches, associações comunitárias e ONGs. Muitos dos nossos programas também são doados para projetos sociais por todo o Brasil.

redeGIFE – O Futura é transmitido prioritariamente via cabo ou antena parabólica. No entanto, podemos dizer que as pessoas que mais necessitam da programação por ele veiculado não têm acesso a esses meios. É viável implementar em canal aberto uma programação como a do Canal Futura?
Lúcia – A idéia é que a programação do Futura possa ser disponibilizada por meio de diferentes suportes. É importante que ela possa ser acessível via televisão, mas é tão ou mais importante que ela se multiplique por meio do apoio a ações concretas. Temos muitos casos em que o mobilizador grava o programa do Futura, e ele é visto coletivamente na praça pública, no sindicato e na escola. De qualquer modo, temos feito parcerias com novas emissoras educativas, em geral ligadas a universidades, que operam em ambiente aberto (VHF e UHF) e retransmitem a nossa programação.

redeGIFE – O que é a Audiência Dirigida?
Lúcia – É a rede que o Futura cria por meio do trabalho de Mobilização Comunitária. É formada por escolas, presídios, hospitais e organizações sociais espalhadas em todo o território nacional, que são capacitados para identificarem na nossa grade de programação o conteúdo que pode ser útil para o seu trabalho. Por exemplo, um grupo de mães de meninos da Febem de Ribeirão Preto aprendeu com uma série do Futura, produzida com a Fundação Bradesco, chamada Feita à Mão, diversas técnicas para fazer artesanato. A partir desse trabalho, elas formaram uma cooperativa para ajudar na geração de renda. Temos 50 escolas em Camaçari (BA), que todos os anos fazem um projeto pedagógico a partir de um programa – já fizeram com Um pé de quê?, da Regina Casé, e com o Afinando a Língua, do Tony Belotto -, que sempre culmina numa exposição ou num grande evento. Em geral, o produto da interação do público com os programas também se transforma em programação.

redeGIFE – Quem compõe a equipe de Mobilização Comunitária e como ela atua?
Lúcia – A área da mobilização comunitária está vinculada à gerência de implementação e de educação da Fundação e ao Canal Futura. Além da programação do canal, a equipe trabalha com material impresso para apoiar e organizar as atividades. Uma das principais ferramentas é o nosso cartaz de programação que, além de conter a sinopse e os horários dos programas, traz novidades, depoimentos, reportagens sobre o trabalho presencial que é desenvolvido nas diferentes partes do país.

redeGIFE – Quando começou e como funciona a transmissão do canal em escolas, creches, hospitais e presídios? Como essas instituições são cadastradas e o que elas necessitam para fazer a transmissão do Canal?
Lúcia – Inicialmente, as próprias Net e Sky (operadoras de TV por assinatura) foram parceiras na disponibilização gratuita do sinal nas instituições. Em 98, quando o canal passou a ser exibido na banda C (parabólicas), a recepção ficou mais fácil porque o valor de uma antena é relativamente pequeno. Nossa equipe de mobilizadores faz a aproximação com as escolas e outras instituições, as capacita, ajuda a criar videotecas, apóia e acompanha a construção de cada projeto. Periodicamente, as instituições de cada estado se reúnem, trocam experiências e avaliam os resultados. Muitos desses resultados acabam se transformando de novo em programação. Infelizmente, ainda que tivéssemos recursos de sobra, seria difícil atender a todos os projetos e as instituições que nos procuram. Nossa equipe é limitada. Agora que estamos disponibilizando a programação para algumas emissoras educativas em sinal aberto, temos a chance de expandir esse trabalho. Como já temos núcleos que conhecem e trabalham com o Futura em todos os estados, junto com as universidades, eles serão nossos multiplicadores nos locais em que o sinal está aberto. Também estamos nos associando às redes sociais de nossos parceiros. A maioria deles desenvolve ações de impacto social no entorno de suas plantas, dentro das empresas, em escolas e comunidades. Todo trabalho presencial é de formiguinha, o importante é que ele não pare e que seja uma rede permanente, que vá se unindo e fortalecendo outras redes.

redeGIFE – Como é o trabalho dos parceiros na definição da programação do canal?
Lúcia – Hoje eles são parceiros de grandes sucessos de programação. Alguns dos programas mais populares do canal, como o Feito à Mão (Fundação Bradesco), o Sexualidade, Prazer em Conhecer (Schering), o Alimente-se Bem Por um Real (Fiesp/Sesi), o Diário de Bordo (Vale do Rio Doce), o Mãos à Obra (Votorantim), entre tantos outros, foram feitos a partir de conteúdos desenvolvidos por nossos parceiros e se transformaram em atrações de primeira linha do canal ou da nossa ação comunitária. Ser parceiro no conteúdo ou na ação comunitária faz parte da natureza do relacionamento que estabelecemos com eles. São laços consistentes e duradouros que construímos juntos e que faz do Futura verdadeiramente uma obra coletiva.

redeGIFE – Existem novos projetos de programas para o Canal?
Lúcia – Sempre existem. Mas, além dos projetos novos que ainda estão sendo testados e não devem ser anunciados precocemente, estamos trabalhando na melhoria dos programas existentes, que são definidores da nossa grade de programação. Neste ano, por exemplo, o programa juvenil Alô Vídeo Escola focou muito no crescimento dos meninos, das dificuldades dos pré-adolescentes. O infantil Teca na TV, que anteriormente misturava dramaturgia com desenhos animados, ganhou uma nova versão, totalmente feita com a Teca e sua Turma, explorando mais as brincadeiras infantis populares e interagindo com crianças reais. O programa Ao Ponto, feito e apresentado pelo psiquiatra Jairo Bouer, é outro exemplo. Ele começou com pílulas de dez minutos e agora vai crescer para meia hora. Estamos também lançando uma série sobre expressões brasileiras regionais, chamada Do Jeito que eu Falo, e uma outra sobre filosofia.

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