Causa e participação são vitais para articulação intersetorial

Por: GIFE| Notícias| 16/09/2010

Rodrigo Zavala*

Imprescindíveis para qualquer processo de desenvolvimento social, as parcerias intersetoriais foram o ponto central da mesa “A Relação entre Fundações, Governo e Comunidade no Investimento Social”, realizada na tarde do dia 13, no Museu da Língua Portuguesa, sede do VII Encontro de Fundações da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), em São Paulo.
Mais do que falar sobre sua importância, era pressuposto de seus convidados responderem aos participantes como incorporar a diversidade de atores na prática das ações que desenvolvem. Sob essa lógica, eles direcionaram seus comentários a dois pontos específicos: o de não fazer para, mas sim com o público a que se quer atender; e, que, trabalhar estrategicamente a partir de uma causa torna mais fácil a mobilização de todos os atores de interesse.
Um exemplo veio de Angola. Depois de uma guerra civil fratricida que durou três décadas, o país apenas começou a se reerguer no início da década de 1990, mas com um saldo dramático: além da indústria e comunicação em frangalhos, praticamente inexistente, 4 milhões de refugiados, 730 mil crianças órfãs, 100 mil mutilados, entre outras calamidades.
Foi nessa época que o governo de Angola criou uma legislação que reconheceu as organizações sociais com o objetivo de ajudar a desenvolver o país. O administrador da Fundação Sagrada Esperança (Angola), Pedro Petersonn, lembrou: “o Estado reconheceu o papel dos outros atores”.
A fundação, cuja bandeira é a paz e estabilidade política, fez um diagnóstico das regiões mais afetadas pelos conflitos e se colocou líder em um processo de reconstrução dessas áreas. Para isso, passou a encaminhar pressionar para que os setores público e privado assinassem convênios e protocolos que garantissem sua participação na iniciativa.
Concomitante a esse processo, com a radiografia social em mãos, passou a mobilizar organizações sociais e as populações locais para aderirem ao projeto. “Fizemos um trabalho junto com autoridades e comunidades mostrando as vantagens da implementação dos programas. Conseguimos apoio político e participação efetiva da população em um trabalho multidisciplinar”, assegurou Peterson.
A reconstrução do país como causa e a forma participativa de planejamento e execução do projeto, garantiu o administrador, foram essenciais para o êxito da ação da Fundação, que não confere a si o sucesso da empreitada. “A ação da fundação é um esforço complementar ao do Estado e da sociedade civil organizada”.
Trabalhar conjuntamente para fortalecer o país também foi a preocupação da Fundação Guineense para o Desenvolvimento Empresarial Industrial (Guiné-Bissau), representada no Encontro por sua presidente, Macária Barai. Em um país cujos produtos de exportação são majoritariamente agrícolas (80%), a instituição empreendeu, junto ao governo de Guiné-Bissau e da Suécia, uma iniciativa de apoio a ações de em prol à indústria nacional.
Em um esforço também multisetorial, o propósito da empreitada é dar apoio ao desenvolvimento tecnológico e de formação profissional da indústria de micro a médio porte. “Trata-se de uma assistência técnica e custeio ao lado de linhas de crédito, principalmente no interior”, descreveu Macária, lembrando que se trata da indústria agrícola.
A mobilização dos possíveis beneficiários do projeto não apenas garantiu, segundo ela, sua adesão como também a dois pontos chaves: a apropriação do conceito de desenvolvimento do país e o ressarcimento das linhas de crédito, que chegaram a impressionante cifra de 99%. Ou como a própria presidente diz: “reembolso”.
A presidente da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (Portugal), Maria de Lurdes Rodrigues, no fim da mesa, afirmou que esses iniciativas só dão certo porque o Estado entende que, sozinho, não consegue promover o desenvolvimento. “Estados fortes, protetores, que têm o monopólio das ações sociais, têm dificuldades em igualar e universalizar oportunidades. Além de ineficácia e ineficiência na hora de prestar os serviços, mais e melhor com os mesmos recursos”.
Segundo ela, é ainda mais daninho o fato de esse Estado “pai” provoque uma cidadania passiva na sociedade, em que os cidadãos “apenas entendem seus direitos, mas não seus deveres sociais”. Isto é, Estados fortes inibem o fortalecimento da sociedade civil organizada, o que interfere na dinâmica de entender as demandas sociais.

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*Rodrigo Zavala é editor de Conteúdo do GIFE.

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