Cidadania envolve participação da sociedade na cobrança de ações do governo

Por: GIFE| Notícias| 08/09/2004

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

Lançado recentemente, o livro Práticas da Cidadania (Editora Contexto) traz artigos de especialistas brasileiros em diversas áreas que buscam demonstrar como, quando e onde a cidadania pode e deve ser colocada em prática.

Entre outros aspectos, são abordadas as possibilidades da globalização da cidadania, a busca pela igualdade de direitos entre homens e mulheres, justiça para negros e migrantes, relação entre desenvolvimento econômico do país e preservação do meio ambiente, planejamento urbano, educação, inclusão social pelo trabalho, responsabilidade social empresarial e voluntariado no Brasil.

Em entrevista ao redeGIFE, o professor e historiador Jaime Pinsky, organizador do livro, fala sobre a evolução da prática da cidadania no Brasil e a importância da responsabilidade das empresas, da sociedade civil e do governo neste processo.

redeGIFE – O que podemos identificar como ações práticas da cidadania?
Jaime Pinsky – É preciso compreender que a verdadeira cidadania não consiste simplesmente em “”ajudar o outro””, mas, na verdade, em “”servir ao outro””. A chamada responsabilidade social não pode se tornar apenas mais um modismo passageiro, um surto de marketing a mais entre os tantos que surgem no cotidiano das organizações. Uma nova consciência social não pode, por exemplo, fazer nenhuma espécie de concessão à violência e à corrupção. A participação da sociedade organizada é valiosa, mas tem seus limites e, assim, é necessário que o cidadão cobre do poder público a sua inegociável cota de responsabilidade.

redeGIFE – Podemos dizer que o Brasil hoje é um país avançado no que diz respeito à prática da cidadania?
Pinsky – Podemos dizer que ele está caminhando para isto. Para o livro Práticas de Cidadania convidamos uma série de cidadãos especiais para narrar suas experiências e, a partir delas, tentar traçar parâmetros que possam auxiliar tanto a elaboração de políticas públicas mais consistentes quanto práticas empresariais mais comprometidas com a responsabilidade social, passando, evidentemente, pelo desenvolvimento de uma mentalidade menos autocentrada e consumista.

redeGIFE – Quem mais tem atuado no sentido de estender a cidadania a todos no país? Empresas, fundações e institutos têm feito sua parte da maneira como deveriam ou poderiam?
Pinsky – Há uma multiplicidade de caminhos possíveis e o livro dá conta de uma parte deles. Diria que ainda estamos na pré-história. Espero que, dentro de dez anos, cada consumidor analise os produtos oferecidos a partir da responsabilidade social de cada empresa, o que ainda não acontece.

redeGIFE – O senhor acredita que a reforma do Poder Judiciário brasileiro, da maneira como é proposta, de fato possibilita maior participação da sociedade civil? Até que ponto essa participação pode trazer melhorias para a prática da cidadania no país?
Pinsky – No livro, o juiz José Renato Nalini discute os caminhos para o acesso efetivo e integral da população à Justiça e para uma ordem jurídica verdadeiramente justa e cidadã, onde os valores em prol da dignidade humana não sejam apenas adornos retóricos e declarações de boas intenções contidas no texto da lei. O promotor Vidal Serrano, por sua vez, discorre sobre a importância crescente do Ministério Público que, ao atuar como uma espécie de “”advogado da sociedade””, tem feito de sua independência e vigilância uma ferramenta fundamental para a construção de uma verdadeira democracia em nosso país. Estes são dois exemplos de melhorias para a prática da cidadania. Mas é claro que, ao contrário do que afirma o ditado popular, quando a justiça tarda muito, por vezes ela não chega. E isso acontece muito em nosso país.

redeGIFE – A escola é considerada um dos principais locais de formação do cidadão. No entanto, a educação brasileira passa por diversos problemas. É possível criar cidadãos conscientes para o futuro num ambiente como este?
Pinsky – Educação, como não poderia deixar de ser, é a palavra-chave. A existência de um projeto educacional consistente seria fundamental para transformar as raízes de nossas mazelas nacionais. A educação é o principal instrumento de promoção da cidadania. Projetos como Escola-Cidadã, Bairro-Escola e programas municipais voltados à cidadania conquistam resultados surpreendentes. Experiências como essas levam o sentido de cidadania à rua e a toda a comunidade em seu entorno, conseguem ultrapassar as fronteiras dos muros escolares. Contudo, enquanto não tivermos uma escola pública de qualidade, não se pode pensar num país verdadeiramente cidadão, pois só essa permitirá uma certa igualdade de oportunidades.

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