Coletivo apoiado pela FEAC usa esporte para ampliar visibilidade trans
Por: Fundação FEAC| Notícias| 03/04/2023O Pogonas Futebol Clube é considerado o primeiro time de futsal trans do interior paulista
Campinas sediou este ano um evento inédito do estado de São Paulo: o 1º Campeonato Paulista de Futsal Trans, o Paulistrans. Três times formados apenas por jogadores e jogadoras transexuais duelaram em um fim de semana agitado no CEU Estação Cidadania – Cultura Thaís Fernanda Ribeiro. O evento, realizado em janeiro, foi organizado pelo Pogonas Futebol Clube e é uma das iniciativas promovidas pelo coletivo para ampliar a voz e a visibilidade trans nos territórios.
O Pogonas é integrante do Hub Conexão Quilombo Amarais, iniciativa do projeto Hub de Cidadania Ativa que pertence ao Programa Cidadania e Impacto Social da Fundação FEAC. O projeto oferece espaço para estimular discussões sobre os principais temas sociais que envolvem territórios do município e potencializar ações de coletivos.
“É um projeto inclusivo que fortalece os grupos e dá voz e visibilidade às causas da comunidade. A visibilidade traz presença e força, e isso é muito importante para o empoderamento, reconhecimento dos coletivos e para que avancem em suas pautas”, diz Daniela Vieira, líder do programa.
Futsal trans em Campinas
O Pogonas Futebol Clube é um coletivo de jogadores e jogadoras transexuais – é considerado o primeiro time de futsal trans do interior paulista. Em 2022, ficou em terceiro lugar na Taça da Diversidade, campeonato nacional de futebol que reúne times da comunidade LGBTQIA+. No mesmo ano, o coletivo se tornou integrante do Hub Conexão Quilombo Amarais.
Após completar as mentorias e oficinas de capacitação oferecidas pelo hub, o Pogonas recebeu um investimento financeiro que viabilizou o Paulistrans, que reuniu outros times transexuais do interior do estado de São Paulo.
Foram seis jogos entre o Pogonas Futebol Clube, o Sport Clube T Mosqueteiros e o Instituto Meninos Bons de Bola – considerado o primeiro time de futsal transexual do Brasil. Os dois dias de evento reuniram atrações como bazar de roupas, rodas de conversa, shows e oficinas de vogue, pilates, defesa pessoal e jogos teatrais.
O campeonato significa um avanço para a visibilidade e inclusão de pessoas transexuais na cidade de Campinas e no Brasil, especialmente no cenário do futsal e do futebol. “O futebol trans é algo que está ganhando espaço e nós estamos ajudando a abrir esse caminho”, diz o cofundador e diretor do coletivo, Tiago Miguel Pires de Abreu.
Apoio à visibilidade trans
Além do investimento do coletivo, o Paulistrans recebeu apoio da Prefeitura Municipal de Campinas, dos restaurantes Outback e Abbraccio e da Ambev para a distribuição de alimentos e bebidas para os organizadores e jogadores.
A Ambev também montou um estande de empregabilidade no espaço para apresentar as oportunidades de trabalho: os interessados podiam cadastrar o currículo em um banco de vagas da empresa exclusivo para pessoas trans.
Tiago reconhece que esses apoios foram essenciais para a realização do Paulistrans e para a visibilidade do Pogonas e da luta trans – dentro e fora do esporte. “Eu acho que as parcerias foram muito importantes para a gente conseguir realizar esse evento e mostrar que somos capazes. Foi um evento relativamente pequeno, mas que atraiu não só a comunidade LGBTQIA+ como muitos outros públicos da região”, diz.
Esporte como inclusão da comunidade trans
O Pogonas enxerga o esporte como um meio de inclusão de pessoas transexuais – mas ainda há muito o que avançar. A maioria das pessoas trans se afasta do meio esportivo por sentirem que não se encaixam em um time feminino nem em um masculino e acabam sofrendo transfobia.
A falta de representatividade, senso de pertencimento e segurança impulsionaram a criação do coletivo. “A gente viu a necessidade de ter um time trans e incentivar as pessoas a voltarem ao esporte. Ali ninguém vai sofrer transfobia”, conta Tiago.
O coletivo, que começou apenas como um grupo de pessoas trans criado para jogar futsal, identificou potencial em expandir para outras modalidades esportivas. Neste mês, foram anunciadas aulas de vôlei. “O que move a gente é a criação de um espaço seguro e acessível para pessoas trans praticarem esportes”, diz Tiago.
Voz a coletivos formados por minorias
Em fevereiro, o Pogonas entrou em quadra novamente em um jogo contra o time feminino Athletico Unidos. A partida amistosa aconteceu no Festival das Ideias, promovido pelo Hub Conexão Quilombo Amarais.
O evento reuniu todos os coletivos que fazem parte do hub para apresentarem aos moradores do bairro Jardim São Marcos suas ações, futuros projetos e receberem doações. Além da partida, houve apresentação de capoeira, show de música e barracas de alimentação.
A participação do Pogonas no hub é significativa para que transexuais da região conheçam e se sintam acolhidos. O educador social e gestor de projetos do Conexão Quilombo Amarais, Milton Cesar de Souza Alves, afirma que é essencial dar visibilidade e voz aos coletivos formados por minorias.
“O Conexão tem uma particularidade que é o fato de a maioria dos coletivos é formado por mulheres, pessoas negras e pessoas trans. Essa visibilidade que estamos dando para as pessoas trans é muito importante. A gente tem a diversidade como ponto principal do Conexão”, fala Milton.
Por Pietra Bastos