Combate ao câncer requer mais investimento financeiro, comunicação e mobilização

Por: GIFE| Notícias| 18/04/2005

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

No último dia 8 de abril – quando aconteceu o que foi estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como Dia Internacional de Combate ao Câncer -, o Instituto Ronald McDonald comemorou 6 anos de atuação. Apenas no ano passado, a organização investiu cerca de R$ 10 milhões em ações voltadas ao tratamento do câncer infanto-juvenil.

Também neste mês de abril, a Fundação Orsa comemora um ano de atividades de sua Quimioteca, espaço lúdico para tratamento de quimioterapia construído no hospital do Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer), em São Paulo (SP), que já atendeu 2.767 crianças e adolescentes. Recentemente a Fundação anunciou a destinação de R$ 118 mil para o hospital. Desde 1996, foram R$ 3,8 milhões em recursos investidos nesta instituição.

Os próprios investidores e profissionais da área, no entanto, alertam para o fato de que ainda é pequeno o investimento em organizações e projetos voltados ao combate e tratamento do câncer. O superintendente do Instituto Ronald McDonald, Francisco Neves, afirma que a organização pôde colaborar com 1/3 da demanda. “”Recebemos solicitação de R$ 35 milhões em 2004. Acredito que o baixo investimento se dê porque muitas instituições preferem destinar recursos para questões mais ′macro′, pois vêem o câncer como um foco muito específico. No entanto, essa é uma visão equivocada, se levarmos em conta que a doença é a segunda principal causa de mortes em crianças e adolescentes no Brasil””, explica.

Segundo dados fornecidos pelo Instituto, o câncer infantil varia de 0,5% a 3% dos 467 mil casos novos de câncer estimados para 2005 no Brasil. Os tipos mais comuns são leucemias, tumores do sistema nervoso central e linfomas. Cerca de 70% dessas crianças podem ser curadas se as doenças forem diagnosticadas precocemente.

Além das crianças e adolescentes, as mulheres são um grupo para o qual é preciso atentar. Numa pesquisa realizada pela Avon Global em 2000, com 30 mil mulheres de 33 países, o câncer de mama foi apontado como a principal preocupação no quesito saúde. No Brasil, ele é o que mais causa mortes entre as mulheres. De acordo com estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), em 2005, serão diagnosticados 49,4 mil novos casos da doença.

O tratamento do câncer é um dos mais caros que existem. Por isso, uma das principais dificuldades é conseguir financiamento para as ações voltadas a ele. Silvia Regina Brandalise, presidente do Centro Boldrini, lembra que falta orçamento público para o atendimento médico-hospitalar aos pacientes com câncer. “”Quando o poder público compreender que uma ONG pode ser seu parceiro, definindo-se competências, atribuições e responsabilidades, teremos a sociedade organizada como fiscalizadora de ações específicas dirigidas como essa.””

Segundo ela, são urgentes as ações das organizações da sociedade civil vinculadas aos grandes centros de diagnóstico e de tratamento, complementando o suporte social e emocional ao doente e seus familiares. Isso inclui prover casas de apoio, alimentação, auxílio no transporte, busca de soluções sociais, advocatícias ou de trabalho vinculadas ao doente.

Crianças – O Boldrini é um centro hospitalar formador de profissionais especializados nas áreas de oncologia e hematologia pediátrica, abrangendo os aspectos de diagnóstico, tratamento e reabilitação física, mental e social dos pacientes. Criado em 1978, em Campinas (SP), hoje é um dos hospitais mais importantes da América Latina especializado no tratamento e cura de crianças que sofrem de câncer e outras doenças sangüíneas.

A instituição é uma das três com as quais o Instituto Ayrton Senna (IAS) desenvolve, desde 1995, o programa Brinquedotecas Terapêuticas. Também contam com a iniciativa o Graacc e o Grupo de Apoio à Criança com Câncer (Gacc), de Salvador (BA). As brinquedotecas são grandes espaços coloridos, repletos de brinquedos e atividades para todas as idades. O IAS promoveu sua implantação física e fornece apoio pedagógico e supervisão a estes núcleos.

“”As Brinquedotecas Terapêuticas desenvolvem o conceito de espaços lúdicos inseridos em núcleos de saúde, onde atendem crianças e adolescentes portadores de câncer. O objetivo é contribuir, por meio da terapia do lúdico, para o aumento das chances de sobrevida, a melhoria da qualidade de vida durante e após o tratamento e o desenvolvimento integral do paciente. E ainda ajuda na melhoria da qualidade do atendimento prestado às crianças, adolescentes e famílias e para a maior aderência e complacência ao tratamento””, explica Margareth Goldenberg, diretora executiva do Instituto Ayrton Senna.

A assistência lúdica ameniza o trauma da criança com relação ao câncer, levando mais confiança e segurança. Tendo isso em vista, a Fundação Orsa inaugurou um espaço cheio de cores na ala de quimioterapia do Graacc, que recebe investimento da organização desde seu surgimento. A Fundação financiou a construção dos primeiros três andares do hospital, apóia todo o trabalho desenvolvido no espaço e, em 2004, teve seu instituidor, Sérgio Amoroso, assumindo o cargo de diretor presidente do grupo.

A equipe da Quimioteca da Fundação Orsa é formada por 14 enfermeiras e outros profissionais do Graacc, como psicólogos, assistentes sociais, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e endocrinologistas. Hoje, atuam também uma ludotecária, que organiza todo o material lúdico e pedagógico ideal para cada criança, de acordo com sua fase de desenvolvimento, e 60 voluntários, que desenvolvem projetos como o Palavras Voadoras, que incentiva a leitura, o contato com o livro e a interação com pessoas de ambientes externos ao convívio comum dos hospitais.

O desafio agora é desenvolver indicadores e metodologia para a mensuração dos resultados. “”Queremos comprovar em números a percepção das enfermeiras e das famílias de que o tratamento na quimioteca contribui para minimizar o trauma da criança, aumentar a assiduidade ao tratamento e até a sobrevida, em muitos casos, uma vez que o tratamento torna-se menos invasivo que o convencional””, afirma o diretor presidente da Fundação Orsa, José Montagnana.

Mulher – Voltada para a mulher, a Avon adotou a causa do câncer de mama, apoiando projetos que incentivam o diagnóstico precoce da doença e disseminando informações. “”O objetivo é diminuir a mortalidade causada pelo câncer de mama no Brasil. Estas ações se iniciaram muitas décadas antes da formação do Instituto no Brasil e se intensificaram há três anos, com sua criação””, conta Lírio Cipriani, diretor executivo do Instituto Avon.

No Brasil, a empresa desenvolve diversos projetos para melhorar a qualidade de vida das mulheres. Contra o câncer, as principais ações são a Avon Running – Corrida e Caminhada Contra o Câncer de Mama, evento que beneficia entidades locais voltadas a essa questão e dissemina informações sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama; e a campanha Um Beijo Pela Vida, lançada em 2002 e que já envolveu iniciativas que vão desde a disseminação da informação até a arrecadação de fundos e a doação de cinco mamógrafos à cidade de São Paulo.

Para Cipriani, na área de saúde, são primordiais ações de disseminação de informação para a população e de prevenção. “”A população precisa estar informada sobre os cuidados básicos com a saúde e procurar atendimento. Por sua vez, o atendimento deve ter caráter preventivo. Quanto mais isso acontecer, mais os recursos existentes serão otimizados””, explica.

Ele acredita que, cada vez mais, as empresas estão se sensibilizando pela causa do câncer, mas que essa escolha depende também do público-alvo da organização. “”Um bom investimento social deve estar alinhado com sua estratégia. As empresas e organizações que lidam com o câncer deveriam formar uma rede para aumentar o conhecimento e gerar soluções para a realidade da doença no Brasil.””

Mobilizar os empresários em ações pela conscientização sobre saúde e a importância de exames médicos anuais é uma das ações indicadas pelo diretor administrativo do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC), Antônio Passos. Isso acontece na parceria com entidades que necessitam e que comprovam que fazem um trabalho de qualidade com seus pacientes.

O IBCC é referência em todo o Brasil com relação ao câncer de mama e ginecológico e tem a licença exclusiva da campanha O Câncer de Mama no Alvo da Moda no país. Passos lembra que a maioria dos tipos de câncer necessita de uma detecção precoce para o tratamento ter mais sucesso, e às vezes até a cura. “”Isso significa fazer os exames médicos de rotina com a periodicidade necessária e estar atento às alterações do corpo. Por isso, a melhor ação que pode ser feita é o apoio à divulgação massiva da importância de se cuidar e realizar esses exames.””

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