Comerciantes de Barroso (SP) crescem 64% com projeto

Por: GIFE| Notícias| 09/02/2009

Com 64% de aumento médio no faturamento em dois anos e a criação de 20% mais empregos, foi concluído, em dezembro, o projeto Rumo Certo, um trabalho de revitalização e expansão do comércio do Município de Barroso (MG).

A ação foi promovida pelo Instituto Holcim, pela Associação Ortópolis Barroso e pela Associação Comercial e Industrial da cidade. A iniciativa faz parte do Projeto Ortópolis, uma proposta do instituto de desenvolvimento local integrado de Barroso.

Sob o comando do consultor de gestão Alecsandro Souza, o Rumo Certo teve início em agosto de 2006. Na ocasião, houve um mapeamento do comércio na região. Encontrou-se um setor estagnado. Havia uma grande quantidade de estabelecimentos tradicionais administrados de forma familiar, bem como negócios informais, alguns mantidos temporariamente, enquanto o proprietário buscava um novo emprego.

“”Quando iniciamos os trabalhos, encontramos lojas que ainda utilizavam o velho esquema da caderneta””, lembra Souza. “”Poucos registravam seus funcionários e uma quantidade menor ainda tinha noção exata de seus custos. Hoje, cerca de 25% dos participantes do programa abriu seu segundo negócio. Revendedores de porta e porta se estabeleceram e temos casos de comerciantes que aumentaram em até 70% seu faturamento””.

A capacitação que reuniu 20 pequenos comerciantes dos mais variados setores durante dois anos. Até o asilo municipal integrou-se ao projeto para melhorar sua gestão. Com o encerramento dos trabalhos, espera-se que os próprios comerciantes repliquem o aprendizado para outros pequenos empresários da região.

“”Direta ou indiretamente, esses comerciantes influenciaram outros, seja na sua forma de gerir o negócio, seja no aspecto visual das lojas. É só andar pelas ruas de Barroso que a diferença é facilmente notada. Ao se tornar mais atrativo e diversificado e ao melhorar o atendimento aos clientes, o comércio de Barroso cativou barrosenses que se deslocavam até a vizinha Barbacena para fazer compras e também atraiu compradores de outros municípios””, afirma o consultor.

O evento de dois dias que finalizou os trabalhos do Rumo Certo fez um balanço dos dois anos de atividades e abriu um debate sobre a situação econômica mundial. “”É muito importante ampliar o grau de visão desses pequenos negociantes inserindo-os no contexto mundial. Dessa forma eles percebem os reflexos diretos e indiretos da economia mundial no seu cotidiano”” explicou a coordenadora-geral do Instituto Holcim, Juliana Andrigueto..

Em dois anos, os comerciantes foram capacitados em diversos temas como controle de estoque, planejamento de custos, gestão de pessoas, atendimento a clientes, programação visual de seus estabelecimentos etc. “”O encerramento dos trabalhos não significa que a partir de agora o crescimento vai parar. Deixá-los caminhar com as próprias pernas faz parte do aprendizado””, explicou Souza. “”Eles já sabem aonde buscar informações e parcerias e se tornaram multiplicadores. Os comerciantes de Barroso têm consciência de que o crescimento conjunto trará benefícios individuais bem maiores””.

Barroso durante décadas teve sua economia dependente dos empregos públicos e daqueles gerados pela fábrica de cimento, atualmente sob o controle do grupo suíço Holcim, mantenedora do instituto que leva seu nome. Hoje, o município mostra novas potencialidades econômicas como o desenvolvimento dos setores eletromecânico e pecuário, além do crescimento do próprio comércio, hoje o segundo maior gerador local de empregos.

Histórias de sucesso

De uma pequena lanchonete com cardápio reduzido a restaurante mais badalado da cidade. Essa é a trajetória da Lanchonete e Restaurante do Gambá, mantida pelo casal Renato e Vicentina Fonseca. Dobrou a área, reformou a estrutura, ampliou o cardápio e o faturamento. Renato e “”Tina””, como é mais conhecida, estão entre os mais ativos multiplicadores dos conceitos do Rumo Certo com os outros comerciantes de Barroso.

“”Eu era uma pessoa muito insegura. Ficava aterrorizado se um dia o movimento ia mal porque havia chovido. Eu não tinha números na mão. Olhava apenas para o momento e me desesperava. Eu não conseguia ver que um mês poderia ser ruim e eu poderia me recuperar no outro”” lembra Fonseca.

“”No começo eu não queria participar, mas logo depois do primeiro dia de atividades cheguei em casa querendo mudar o mundo. Quando eu vi o questionário inicial de diagnóstico da lanchonete, percebi que eu não sabia nada do negócio que já tínhamos há muitos anos. Gastava mais do que deveria, não conhecida meus custos fixos. Tínhamos um projeto de reformar a lanchonete há quase dez anos e não conseguíamos””, complementa a esposa Vicentina.

A diversidade dos negócios incorporados ao projeto chama a atenção. De uma preocupação inicial em tirar o lixo do rio que percorre os arredores da cidade, Luiz Carlos de Melo montou a MLJ Ferro Velho e Reciclagem. Notou que tudo aquilo que as pessoas jogavam fora poderia virar matéria-prima e gerar renda. E, se bem administrado, ser um negócio lucrativo. “”Cresci tendo como única perspectiva trabalhar na fábrica de cimento, o que não aconteceu. Consegui me estabelecer, mas trabalhava sem parâmetros. Queria fazer a coisa certa, mas não sabia como fazer, como resolver os problemas do dia-a-dia. Hoje, traço planos para ampliar o meu negócio””, declara Melo, que recentemente mudou seu negócio para um terreno maior, logo na entrada da cidade.

As histórias são muitas. Daise Almeida F. Damasceno, que se emociona quando fala do programa, deixou a carreira de pedagoga para administrar uma loja do pai. Hoje a Loja DLuigi (ex-Loja do Luiz), que vende roupas, calçados e acessórios, é um dos maiores estabelecimentos comerciais de Barroso. Seu marido, Dilson Damasceno entrou no ramo. Montou a DCouros Calçados, na mesma rua em que fica a empresa da esposa. Este ano Damasceno ampliou ainda mais com a abertura da DLux materiais elétricos

Maria José de Oliveira, dona da Tok Interiores diz que até sua hipertensão foi contida ao aprender a administrar sua loja de decoração. “”Aprendi a entender a minha empresa e a delegar. Sinto que eu mudei pessoalmente também, me tornei uma pessoa mais tranqüila na minha vida pessoal””.

Produtores de leite unidos

Depois de mais de um ano de reuniões, aproximadamente 30 micro e pequenos produtores de leite de Barroso e municípios vizinhos fundaram a Associação Pró-leite de Barroso e região. A iniciativa, que aconteceu na mesma semana do encerramento do Rumo Certo, visa a melhorar a produtividade e a infra-estrutura da pecuária local. Fazem parte da associação desde micro-produtores sem infra-estrutura nem para manipular e armazenar o alimento do gado na época de seca, até algumas fazendas com o mínimo de mecanização, como trator e outros equipamentos.

A integração desses produtores busca fortalecer o setor, tanto nas negociações com laticínios, quanto melhorar a estrutura dos negócios por meio de compras conjuntas de insumos e do uso rotativo de equipamentos. A associação nasceu da necessidade de organização detectada pelo projeto Vaca Gorda, uma das vertentes do Projeto Ortópolis de desenvolvimento local, apoiado pelo Instituto Holcim.

Os produtores rurais terão o apoio de um engenheiro agrônomo que percorrerá as propriedades dando orientações técnicas. A ação atinge mais de 100 pessoas entre proprietários de terra e prestadores de serviço. Em médio prazo, os planos são montar uma linha de produção de queijos, iogurte e outros derivados.

Projeto Ortópolis

Fomentado em 2003 pelo Instituto Holcim, o Projeto Ortópolis surgiu para promover o desenvolvimento local integrado de Barroso, município que durante muitos anos dependeu fortemente dos empregos públicos e daqueles gerados pela fábrica de cimento. Diferentemente dos tradicionais programas sociais, o Ortópolis promove a participação da comunidade tanto na concepção quanto na condução dos projetos voltados principalmente para geração de renda, promoção da cultura e da cidadania e preservação ambiental.

Entre os resultados desses cinco anos de trabalho estão a formação de uma biblioteca comunitária, o fortalecimento de uma cooperativa de artesãos, um projeto apoio à associação de recicladores, o Vaca Gorda com os pecuaristas, o Rumo Certo, entre outros. O Instituto Holcim age como facilitador. A meta é, gradativamente, envolver toda a população na articulação para desenvolver os trabalhos por conta própria. Em 2007, a iniciativa ganhou o Prêmio Eco 2007, da Amcham (Câmara de Comércio Americana), na categoria comunidade.

Com a participação efetiva da população de Barroso, o Ortópolis ser propõe maximizar a interação da comunidade com os setores público e privado. Como parte dessa iniciativa, foi criada a Associação Ortópolis Barroso, que reúne 180 membros atuando diretamente na promoção de uma nova linha de pensamento, na qual o assistencialismo cede lugar à sustentabilidade.

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