Como as mulheres estão mudando o jeito de fazer política

Por: GIFE| Notícias| 24/08/2020

Atualmente, apenas 24% dos espaços de tomada de decisão nos parlamentos do mundo são ocupados por mulheres. No Brasil, esse número é ainda menor: 15%.

Mas, o que acontece na política quando mais mulheres são eleitas? O que muda quando as mulheres estão no poder? Essas e outras questões fundamentais da sociedade contemporânea foram o motor do estudo Eleitas: Mulheres na Política, idealizado pelo Instituto Update.

Ao longo de mais de um ano de pesquisas, entrevistas, viagens de campo e um mapeamento de cerca de 600 nomes, a iniciativa examinou a atuação de mulheres em cargos eletivos de seis países latino-americanos (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia e México) para mostrar como essas lideranças vêm transformando a política, a sociedade e a democracia.

O resultado do estudo foi combinado a uma série audiovisual de três episódios realizada em parceria com Quebrando o Tabu, Maria Farinha Filmes e Spray Content.

Beatriz Pedreira, cofundadora e diretora do Instituto Update, conta que a iniciativa foi inspirada por duas pesquisas realizadas anteriormente pelo Update: Emergência política na América Latina e Emergência política nas periferias. Ambas apontaram de modo recorrente a associação entre os termos mulheres e inovação política.

“A primeira nos mostrou como a inovação política está promovendo uma mudança de paradigmas de uma estrutura patriarcal para uma estrutura feminina com valores como empatia, colaboração e descentralização. Já na segunda, quando perguntadas sobre o que é inovação política, todas as pessoas respondiam: mulheres negras e periféricas. Ou seja, a mulher está muito presente no conceito de inovação política”, explica.

Para a diretora, a violência política de gênero é o principal desafio para a conquista efetiva da paridade de gênero na política e passa por questões atreladas ao financiamento de candidaturas femininas e à construção de uma narrativa interna dos partidos de deslegitimação das mulheres.

“A violência política de gênero é o maior vilão da mulher na política, seja para entrar, seja para se manter. 99% das entrevistadas alegam ter sofrido algum tipo de violência: psicológica, física ou sexual. O caso Marielle é um recado de que mulheres lésbicas, negras e periféricas não serão aceitas na política, o que pode inviabilizar que outras se candidatem futuramente. Essa violência deve ser combatida com punição, mas também com uma lei que proteja as mulheres e garanta esse debate de forma ampla na sociedade.”

Jornada e achados

Ao todo. o estudo entrevistou 96 mulheres eleitas de diferentes campos políticos, linhas ideológicas, territórios e etnias, que falaram de suas trajetórias, práticas, desafios, visões e sonhos. Entre as fontes ouvidas estão as deputadas brasileiras Érica Malunguinho, Marina Helou e Priscila Krause, a senadora mexicana Kenia Lopez e as prefeitas Raquel Lyra (Caruaru/PE) e Claudia Lopez (Bogotá/Colômbia).

Além das lideranças políticas, também foram ouvidos onze especialistas em política e gênero, representantes de movimentos sociais dos seis países pesquisados.

Ao longo de cinco capítulos, a publicação contextualiza as mudanças culturais que têm marcado a América Latina e discute temas como equidade em espaços de decisão, combate à violência e o papel das mulheres na construção de novas formas de exercer a política.

Apresentada por Beatriz e dirigida pela documentarista Isadora Brant, a série audiovisual oriunda da iniciativa é composta de três episódios que destacam os achados do estudo e explicam conceitos como paridade e violência de gênero.

Beatriz ressalta a importância da pesquisa para o entendimento do porquê uma mudança na política é necessária, enriquecendo o debate sobre paridade de gênero nos espaços de poder.

“A partir da investigação foi possível observar como as mulheres pragmaticamente atacam os vícios do velho sistema político com uma atuação transversal, que constrói alianças para além de suas ideologias e partidos; com empatia pragmática, que possibilita uma escuta mais ativa para buscar convergências; com uma orientação para a resolução de problemas, de maneira menos implicada com o acúmulo de capital político; com mais criatividade, construindo e utilizando novas formas de fazer política; e com uma articulação intrínseca com seus territórios e pautas, comportamento fundamental para a construção de uma coletividade plural. Por tudo isso, nós acreditamos que mais mulheres com consciência de gênero na política é o caminho para superar vícios do sistema como coronelismo e clientelismo e fortalecer a democracia”, observa a diretora.

Saiba mais

A iniciativa contou com o apoio de Fundação Tide Setubal, Open Society Foundations, OAK Foundation, Ford Foundation, Luminate e BMW Foundation. Para o processo de mapeamento e análise das entrevistas e contextos locais, o Instituto Update contou com a colaboração de cinco organizações latino-americanas: Instituto Simone de Beauvoir (México), Extituto de Política Abierta e Artemisas (Colômbia), Democracia en Red (Argentina), ComunidadMujer (Chile), Coordinadora de la Mujer (Bolívia) e Instituto Alziras.

O estudo na íntegra e a série podem ser acessados neste link. Os três episódios também estão disponíveis no canal do Quebrando o Tabu no YouTube e na plataforma Videocamp.


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