Como investimento social pode fortalecer a sociedade civil?
Por: GIFE| Notícias| 23/03/2014 Saída de recursos internacionais, complexa relação com o governo e o aumento no número de organizações trouxeram grandes desafios financeiros às organizações da sociedade civil no Brasil, que também sofrem com a perda de confiança da população. Qual o papel do investimento social nesse cenário?
É perceptível para organizações da sociedade civil que houveram mudanças estruturais no financiamento de suas atividades nos últimos anos, o que vem trazendo grandes desafios para a manutenção de sua existência e, ao mesmo tempo, a preservação e garantia de sua legitimidade política e autonomia, seus capitais mais fundamentais. Debater os dilemas e desafios dessa discussão foi o tema do painel “O que a sustentabilidade das organizações da sociedade civil tem a ver com o Investimento Social?” durante o segundo dia do 8º Congresso GIFE.
Paula Fabiani, diretora-executiva do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), destacou a importância do investimento social privado para o desenvolvimento das OSCs. “Houve grande retirada do investimento internacional e essa lacuna não foi preenchida por recursos locais, apesar do acúmulo de riqueza sem precedentes no pais”, critica.
Segundo pesquisa sobre financiamento das OSCs apresentada por Vera Masagão, diretora executiva da Associação Brasileira das Organizações Não-Governamentais (Abong), a principal fonte de recursos das OSCs é proveniente de empresas. “Contudo, muito mais de empresas públicas do que empresas privadas”, destaca. Vera chama também a atenção que alguns setores de atuação das OSCs têm mais facilidade de conseguir financiamento – como educação – em detrimento de outros temas de grande relevância e até mesmo urgência da realidade de seus locais de atuação.
Domingos Armani, sociólogo e mestre em ciência política da UFRGS, ressaltou que há dificuldade do setor privado em lidar com o tema de direitos humanos, e que hoje, na mídia, existem debates muito fortes em torno de temas que são fundamentais para a legitimação de direitos no Brasil. “As organizações da sociedade civil ajudam neste processo. De várias formas, elas estão ligadas ao setor privado e não é fácil persuadir o investidor de que as OSCs são essenciais para a Democracia”, analisa.
Dados da pesquisa Trust Barometer – que tem por objetivo comparar o grau de confiança da população – foram apresentados pela diretora da Abong. Comparando empresas, OSCs, mídia e governo, sempre houve uma tendência da população mundial em apontar as OSCs como as entidades mais confiáveis e o governo como o menos confiável. No Brasil, contudo, apesar do o governo continuar como menos confiável – o que ela afirma ser resultado de uma crise de representação governamental –, as OSCs ocupam a terceira posição, tendo mídia em primeiro e empresas em segundo. “Isso é um grande desafio para as OSCs, pois vivemos em uma sociedade que não acredita em sua própria capacidade de se organizar”, lastima Vera.
Paulo Castro, diretor do Instituto C&A, acrescentou novas perspectivas para o debate ao mencionar que o investimento não deve ser feito somente com foco nas organizações, mas também na infraestrutura do setor, como por exemplo, a construção da plataforma do Marco Regulatório para Organizações da Sociedade Civil (MROSG). “Esse tipo de investimento serve para o fortalecimento das organizações da sociedade civil enquanto campo de atuação política”, ressalta.
O Instituto C&A é associado GIFE
“Debora Souza, da Envolverde – Especial para o GIFE