Como não aprender com os beneficiários
Por: GIFE| Notícias| 21/08/2006David Bonbright*
Com o risco de ser contestado por outros especialistas sobre o assunto nesta questão, desejo destacar uma forma criticamente importante através da qual os doadores não aprendem: com os futuros beneficiários do trabalho que apóiam.
Baseio o meu ponto de vista em uma recente pesquisa da Keystone sobre as formas como as organizações de sociedade civil e os doadores aprendem e como levam em conta os pretensos beneficiários do seu trabalho**. A pesquisa com 155 doadores mostra uma discrepância marcante entre a avaliação dos doadores a respeito do valor da responsabilidade e da aprendizagem dos beneficiários e as suas práticas.
Na avaliação:
90% dos doadores acharam “”essencial”” ou “”importante”” ter os pontos de vista dos beneficiários na compreensão do desempenho do beneficiado.
83% concordaram com a afirmação de que “”informações mais rapidamente disponíveis originadas pela perspectiva dos beneficiários finais ajudariam que melhores decisões de doações estratégicas fossem tomadas””.
94% acharam que seria “”extremamente valioso”” ou “”valioso”” receber relatórios de beneficiados com comentários de qualidade de beneficiários sobre o trabalho dos seus beneficiados.
Mas quando se trata de fazer o que é dito:
17% exigem rotineiramente que os beneficiados informem os pontos de vista dos beneficiários sobre o desempenho cotidiano, e apenas 20% exigem rotineiramente que os beneficiados façam relatórios sobre os pontos de vista dos beneficiários relativos às suas contribuições para o impacto no desenvolvimento de longo prazo.
14% fornecem rotineiramente aos beneficiados recursos para desenvolver as capacidades necessárias para eliciar comentários honestos dos beneficiários. (Em comparação, 6% das organizações de sociedade civil indicaram que recebem rotineiramente apoio do doador para isso. Com poucas exceções desse tipo, a versão das organizações de sociedade civil da pesquisa tendeu a estar de acordo com a versão do doador.)
23% rotineiramente discutem os comentários dos beneficiários com os beneficiados.
Os comentários livres na pesquisa sugerem algumas explicações possíveis para a disparidade. Um tema que surgiu é expresso de forma clara nesta citação:
“”Embora estejamos muito interessados em entender a tomada de decisões e as motivações dos pretensos beneficiários em todo o nosso trabalho, isso não significa necessariamente que os nossos beneficiados, ou seus sub-beneficiados, precisem ser diretamente responsáveis pelos beneficiários. Pelo contrário, eles sempre precisam ser responsáveis por demonstrar impacto real nos objetivos sociais que tentam alcançar. Em alguns casos, a melhor forma de fazer isso seria direcionar a responsabilidade final aos beneficiários, em outros casos, direcionar a responsabilidade final a outros stakeholders pode servir como uma forma mais eficaz e eficiente de operação (presumindo-se, claro, que os pontos de vista dos beneficiários sejam efetivamente reunidos e apresentados aos outros stakeholders).””
Isso sustenta a observação de que é um exercício razoavelmente direto especificar as situações nas quais os comentários dos beneficiários diretos podem ser mais úteis.
Um grantmaker levantou outro tema:
“”Minha abordagem se baseia em apoiar uma boa liderança. Prossigo baseado no fato de que lideres realmente bons sempre consultarão os seus beneficiários e trabalharão em parceria com eles. A menos que façam isso, não serão bem sucedidos. Se houvesse métodos econômicos e eficazes para a obtenção dos comentários dos beneficiários, tenho certeza de que isso seria valioso, mas, como uma regra, estou bastante satisfeito em contar com os relatórios das instituições beneficentes que apoio. Estou muito interessado em métodos para determinar a eficácia das instituições beneficentes e o impacto que causam. Os pontos de vista dos beneficiários são obviamente críticos na determinação da eficácia e do impacto. Por outro lado, não sou muito entusiástico em ver grandes quantias gastas para medir o impacto buscando diretamente os pontos de vista de beneficiários individuais e, como regra, estou disposto a correr o risco de me iludir com as instituições beneficentes que apoio.””
Mas talvez o comentário livre mais comumente compartilhado refletiu uma percepção de que essa era uma área que precisava de mais atenção. Quando foi apresentada uma lista de novos serviços possíveis para abordar a falha, todas as sugestões obtiveram “”interesse”” ou “”grande interesse”” em mais de 80%.
Além disso, a pesquisa traz algum encorajamento de que temos uma oportunidade de fechar a lacuna entre a retórica e a realidade que envolve a aprendizagem do doador nos meses e anos que estão por vir.
*David Bonbright é Chefe Executivo da Keystone. Email: [email protected]
** O relatório final pode ser encontrado em www.keystonereporting.org