Comparando Conferências: Brasil, Estados Unidos e Europa

Por: GIFE| Notícias| 28/06/2010

Fernando Rossetti*

Quando se tem o privilégio de participar de três dos principais congressos de associações de fundações, institutos e empresas em apenas dois meses – GIFE (Brasil), CoF – Council on Foundations (EUA), Centro Europeu de Fundações (Bélgica) – é inevitável identificar semelhanças e diferenças entre essas reuniões.

O Brasil é – evidentemente – mais animado e colorido. As informações e conhecimentos que detém são muito bem apresentados. Embora tenda a ser uma reunião mais informal, do programa do congresso à etiqueta com nome do participante, em todo ambiente há um investimento evidente em design e comunicação.

Enquanto isso, o evento americano é o mais focado, dirigido pelo conteúdo. Quase impessoal, entrega muito rapidamente algumas das melhores informações. Tem o plano de negócios mais elaborado: você pode pagar pela conferência toda ou simplesmente participar de um jantar de gala, sendo possível customizar sua participação a preços diferentes.

Longe da praticidade, o encontrou europeu baseia-se sobre tradição e inovação. Fundações com séculos de idade dialogam em alguns dos formatos mais criativos. É a reunião que melhor transmite um sentimento de diversidade, devido às múltiplas nacionalidades que compõem a conferência.

Chama a atenção, no entanto, que nenhuma das três conferências promoveu uma clara política de envolvimento de organizações não-governamentais. Nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, havia uma clara ênfase no diálogo com o Estado e com representantes de governo.

O CoF levou a assessora principal em sociedade civil do presidente Barack Obama e o chefe da receita federal americana (IRS). Do outro lado do Atlântico, o EFC fez uma semana inteira de evento, em Bruxelas, capital da Comunidade Européia, com visita ao parlamento incluída. Enquanto isso, muitos participantes criticaram a falta de presença do governo no evento brasileiro.

Outro ponto que deve ser destacado é a presença de empresas e corporações, notável nos Estados Unidos e no Brasil, e quase imperceptível na Europa. Nota-se, aqui, que o investimento social europeu não envolve ou não dialoga com o campo dos negócios. Uma escolha que pode ser considerada negativa, visto os esforços intersetoriais nas outras partes do mundo.

A idade do público também é bastante variada. Se por um lado a audiência brasileira é a mais nova (reflexo da prática filantrópica mais estruturada), os EUA mantêm uma boa mistura. A idade média no encontro europeu é provavelmente a mais alta – embora nesta conferência a participação de jovens mostrou que o segmento começa a estar mais presente nas discussões.

A explicação clara é que tanto nos Estados Unidos como na Europa há um perceptível movimento de renovação geracional na liderança do campo filantrópico. No Brasil o próprio campo de investimento social ainda está na sua adolescência.

As refeições são muito reveladoras de cada cultura – especialmente no que ocorre na hora de sentar à mesa. Enquanto o almoço europeu é o mais longo, tem até duas horas e meia, o brasileiro reserva duas horas para comer e conversar. Nos EUA, porém, durante a hora e meia, o participante deve se alimentar enquanto presta atenção a sessões de plenária (seja almoço ou cafés coletivos). Isto é, espera-se que você consuma comida e informação ao mesmo tempo.

Curioso: só na Europa há vinho em todas as refeições e confraternizações. Nos Estados Unidos, quando há vinho ou cerveja, invariavelmente, terá de pagar. No Brasil há, sim, caipirinhas, mas com tamanha experimentação, às vezes é difícil encontrar a fórmula original de limão e cachaça.

*Fernando Rossetti é secretário-geral do GIFE e chairman da Wings (Worldwide Initiatives for Grantmakers Support). Tem especialização em Direitos Humanos pela Universidade Columbia (EUA, 1997). Fundou, com Gilberto Dimenstein, a ONG Cidade Escola Aprendiz, que dirigiu de 1999 a 2002. Atuou como consultor para diversas organizações nacionais e internacionais do terceiro setor, como o Unicef, para quem escreveu o livro “Mídia e Escola – Perspectivas para políticas públicas”. É comentarista do Canal Futura desde 1997, Synergos Senior Fellow e líder-parceiro Avina.

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