Comunicação e incentivos fiscais são aliados na captação de recursos

Por: GIFE| Notícias| 22/03/2004

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

Nesta semana (de 26 a 28 de março) acontece em Johannesburgo, na África do Sul, a 5ª Conferência Internacional em Mobilização de Recursos – IWRM. Organizado anualmente pela The Resource Alliance, o evento promove articulação, debate e troca de informações entre organizações locais sem fins lucrativos, ONGs internacionais e grupos de financiadores e governos de todo o mundo.

Em entrevista ao redeGIFE, Simon Collings, diretor executivo da The Resource Alliance, fala sobre as novidades da conferência, as dificuldades do captador e do financiador no processo de mobilização de recursos e a importância dos incentivos fiscais para essa atividade.

redeGIFE – Nestes 23 anos de atuação, quais os principais avanços que a The Resource Alliance percebe com relação à capacidade de mobilização de recursos das organizações sem fins lucrativos em todo o mundo?
Simon Collings – Tem havido enormes mudanças. Na Europa e na América do Norte, a captação de recursos se tornou altamente profissionalizada. As ONGs hoje executam campanhas de marketing tão sofisticadas quanto as que existem no setor privado. Muitas técnicas foram absorvidas das empresas. No hemisfério sul, organizações internacionais usam estas habilidades de marketing e negócios para captar mais recursos, e as ONGs locais estão tentando cada vez mais aprender e aplicar esse tipo de abordagem. Há dez anos, havia pouca captação profissional nesta região, e agora em todo lugar vemos um rápido crescimento no número de organizações da sociedade civil e cada vez mais indícios de mobilização local de recursos. Esse é hoje um cenário muito dinâmico e em grande transformação.

redeGIFE – Quais são as diferenças desta edição da conferência para as outras e quais as expectativas?
Collings – A maior diferença desta vez é que dedicamos todo o primeiro dia a questões maiores que afetam a mobilização de recursos. Nas conferências anteriores, a maior parte das sessões foi sobre técnicas específicas de captação. Agora, o dia de abertura examinará questões como o papel do governo na criação de um ambiente favorável, as políticas das instituições financiadoras com relação aos investimentos em capacitação e fortalecimento para a mobilização de recursos, novidades nas áreas de treinamento, concorrência entre ONGs locais e internacionais, além das atuais mudanças no cenário dos recursos disponíveis.

redeGIFE – O evento terá um dia focado especificamente no universo de políticas em que operam as organizações sem fins lucrativos e nos desafios e oportunidades do hemisfério sul, o “”Dia de Políticas””. Qual a importância de promover esse momento em específico?
Collings – É importante focar nisso porque não basta ensinar técnicas de captação às ONGs. No hemisfério sul há muitas barreiras para os captadores, como obstáculos legais e fiscais, comportamentos públicos e falta de informação. Governos, instituições financiadoras, ONGs internacionais e organizações tipo “”guarda-chuva”” podem ajudar a criar um ambiente em que os captadores têm maior chance de sucesso. Na América do Norte e na Europa, os captadores têm acesso a muitas informações, treinamento, serviços de consultoria, redes profissionais e um ambiente legal e fiscal favorável. No Sul, isso precisa ser ampliado se quisermos o desenvolvimento das organizações da sociedade civil.

redeGIFE – Quais são as principais dificuldades encontradas pelas ONGs ao buscar recursos para seus programas?
Collings – No Hemisfério Sul, os maiores desafios são a escassez de recursos locais, a baixa credibilidade das ONGs e a falta de habilidade na execução de programas eficazes de captação de recursos.

redeGIFE – E o que pode ser feito para facilitar a captação de recursos por essas organizações?
Collings – Há muito que pode ser feito. As organizações precisam primeiro saber comunicar o que estão tentando fazer e porquê o trabalho é importante. Devem saber explicar os benefícios que resultarão de suas ações. Muitas não sabem fazer isso, mas podem aprender. As ONGs precisam aprimorar a maneira com que relatam suas conquistas e se tornar mais transparentes e responsáveis. Também podem aprender técnicas específicas que permitirão que elas captem os recursos. Elas podem ser ajudadas com informações sobre potenciais doadores, notícias sobre o que outros estão fazendo e estudos de caso de programas de captação bem-sucedidos. Redes profissionais, como a ABCR (Associação Brasileira de Captadores de Recursos), podem promover um espaço para que os captadores ajudem uns aos outros pela troca de informações e conhecimento. Muitos governos estimulam a filantropia com incentivos fiscais aos doadores. Esses são alguns exemplos.

redeGIFE – O senhor acredita que países que possuem incentivos fiscais têm um volume maior de recursos direcionados para o terceiro setor?
Collings – Sim, acredito que os incentivos fiscais ajudam. Os governos da Polônia, da República Tcheca e da Eslováquia recentemente aprovaram leis que permitem ao cidadão doar até 1% de seu imposto de renda para organizações da sociedade civil oficialmente registradas. Isso é muito inovador para sociedades que há apenas 15 anos eram economias socialistas. No Reino Unido, qualquer bem deixado para uma entidade registrada não acarreta impostos de sucessão.

redeGIFE – É possível identificar em quais países a mobilização de recursos pelas organizações da sociedade civil têm sido mais bem-sucedida?
Collings – A captação de maior sucesso ocorre nos Estados Unidos. Outros países, como o Canadá e o Reino Unido, também têm muito sucesso. As principais razões disso são a riqueza desses países e o fato de existir uma cultura de apoio filantrópico a causas sociais, criada há muito tempo. As organizações da sociedade civil têm boa reputação e credibilidade nesses países. Os doadores também sabem que as ONGs são reguladas e que a corrupção é baixa. Em muitos países do Hemisfério Sul, há fortes tradições filantrópicas, com centenas, milhares de anos, mas as doações tendem a ser canalizadas por meio de organizações religiosas em redes locais e familiares, em vez de ONGs.

redeGIFE – Para os financiadores, quais são os principais obstáculos encontrados no apoio às ONGs?
Collings – Para os grandes doadores, fazer diversas doações de pequeno valor é impossível, então eles tendem a canalizar os recursos por intermediários. Às vezes isso ocorre por estruturas de governo, às vezes por ONGs internacionais ou fundações financiadoras. Doadores que financiam organizações de base precisam identificar quais delas são bem geridas e estão causando impacto, ao mesmo tempo sem onerá-las demais com exigências de relatórios e prestação de contas. Também precisam poder financiar o tempo que gastam avaliando e trabalhando com parceiros. Isso pode ser desafiador.

redeGIFE – Entre os objetivos da Resource Alliance está o advocacy para apoiar o crescimento do investimento social e para que organizações voluntárias atinjam seus fins. Quais são as ações desenvolvidas para atingir este objetivo?
Collings – Nossas principais atividades nesta área são incluir sessões sobre questões de políticas em nossas conferências, participar em outras conferências de terceiro setor, pesquisar e documentar situação em diferentes partes do mundo e estimular o debate por meio do nosso boletim – Global Connections – e do nosso site.

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