Conferência defende novos modelos empresariais

Por: GIFE| Notícias| 18/06/2007

Não é por acaso que “”sociedade sustentável”” tornou-se um tema freqüente nos mais diferentes fóruns e debates do setor privado. A hipercompetitividade global, aliada a crescente demanda socioambiental, tem exigido padrões de governança e sustentabilidade cada vez maiores dos negócios.

As preocupações inerentes a essa discussão tiveram, assim, especial destaque nos debates realizados durante a Conferência Internacional de Empresas e Responsabilidade Social, promovida pelo Instituto Ethos, entre os dias 12 e 15 de junho. Neles, as quase 1300 pessoas participantes puderam dialogar sobre os assuntos que estão em voga como aquecimento global, agronegócios e preservação de recursos naturais – com o foco evidente na responsabilidade dos empresários.

“”Essa foi a maior Conferência do Ethos. Muitos empresários vieram para cá para saber o que fazer e como agir diante desse cenário””, comemorou Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos. Para ele, “”estamos em um processo inexorável de mudança de curso para evitar o desastre””.

A explicação para esse sucesso, no entanto, tem mais a ver a um momento vivido mundialmente do que com um aumento recorde na conscientização empresarial brasileira (por mais que venha em uma crescente nos últimos anos). Segundo Young, neste ano, o mundo se deu conta, por meio da visibilidade dada pela mídia aos resultados dos relatórios internacionais do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), “”de que, se nada for feito, o planeta caminhará rumo a dificuldades – senão à inviabilidade – para a presença de vida na Terra””.

Mesmo assim, os especialistas convidados mostraram-se bastante reticentes em relação aos atuais discursos sobre a preocupação empresarial e o desenvolvimento sustentável. Na mesa-redonda que debateu os Avanços da Responsabilidade Social Empresarial nos Cinco Continentes, por exemplo, a diretora do Corporate ResponseAbility, Linda Funnell-Milner, chegou a afirmar que “”as empresas precisam ser mais do que uma pintura verde.””

Linda apresentou as dificuldades que as empresas australianas, americanas e européias encontraram para implantar o Pacto Global – iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) para o fomento da cidadania corporativa global – e os dez princípios que as empresas assumem quando decidem aderir a ele. Segundo ela, os indicadores simplesmente não são cumpridos. “”O ideal é ter movimentos da sociedade civil que o Brasil tem. Lá não temos ações da sociedade civil voltadas para o meio ambiente em grande quantidade, como existem aqui””, disse ela.

Nesse mesmo contexto, o fundador e diretor do Institute of Social Sciences de Nova Délhi, George Mathew, afirmou que ainda falta mais seriedade nas políticas empresariais de RSE, dando como exemplo a Índia. “”Grande parte das empresas parecem estar mais preocupadas em fazer marketing social do que ações de responsabilidade social. Infelizmente, das 140 filiais de multinacionais instaladas no país, ainda são poucas as que estão preocupadas em colaborar para o desenvolvimento sustentável””.

A representante do African Institute, Daisy Kambalane, fez coro ao colega indiano e explicou que o principal motivo para isso é a inexistência de qualquer pressão para que o setor privado passe a ter uma atitude baseada na sustentabilidade, e não somente no lucro. Ela argumentou que a situação só mudou na África do Sul quando foi firmado um acordo de conduta entre o governo e as empresas.

Para o presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos e membro do Conselho do Pacto Global da ONU, Oded Grajew, a responsabilidade social é, em muitos países, confundida com filantropia. No Brasil, essa discussão já evoluiu bastante e a cultura da responsabilidade social está mais evoluída.

“”Raras empresas ultrapassam 1% dos lucros em investimentos filantrópicos. E, além disso, mostrar cifras impressiona. Mas, a RSE não pode ser mensurada financeiramente, porque envolve muitos fatores: pagamento de impostos, funcionários legalmente contratados, consumo consciente de forma geral etc””, defendeu.

Globalização – Um dos destaques do evento foi a apresentação da pesquisa Melhorando o Jogo – A Globalização É Sustentável? , realizada pela SustainAbility, que mostra os grandes cenários globais pelos quais Estados, empresas e pessoas deverão transitar daqui para a frente.

A apresentação, realizada por Jodie Thorpe, gerente do SustainAbility e responsável pelo Programa para Economias Emergentes, mostrou que o movimento de globalização já responde por 20% do PIB global. Entretanto, como aponta a pesquisa, esse crescimento tem um preço em termos de degradação ambiental.

No levantamento, foram evidenciados sete pontos relevantes como diretrizes de ação das empresas em compasso com as diretivas para ser sustentável:1 – Planeje para o Inesperado. A flexibilidade em cadeias de valor, plataformas tecnológicas e políticas de trabalho são fatores de eficácia.
2 – Encontre o Verdadeiro Sul. Não subestime a importância das economias emergentes. Há regiões e cidades onde o desenvolvimento é mais rápido.
3 – Não Espere os Bons Chegarem na Frente. Mesmo os melhores podem ser atingidos por escândalos e crises. O importante é a capacidade de criar valor.
4 – Colabore com o Sistema Imunológico da Terra. Faça parte das soluções nas crises ambientais e sociais. Sirva como fonte de inteligência e criatividade.
5 – Pense em Oportunidades e Inovações. Repense as questões ambientais e sociais não como riscos, mas como grandes oportunidades.
6 – Supere-se. A escala dos desafios é muito grande e exige abordagens radicais. Líderes precisam sair de sua zona de conforto para encontrar novos modelos, novos parceiros e novas soluções.
7 – Faça Política. A agenda agora é política. É preciso se envolver e assumir posições.

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