Conferência Ethos 2014 promove um “olhar 360⁰” para a sustentabilidade e a inovação social
Por: GIFE| Notícias| 06/10/2014Profissionais da área social estiveram reunidos entre 24 e 25 de setembro em um dos principais eventos do setor: a Conferência Internacional do Instituto Ethos. Ao longo dos dois dias de atividades, mais de 1100 participantes – representando empresas, institutos, fundações, ONGs, governos e academia – estiveram presentes no Golden Hall do World Trade Center de São Paulo. Em formato inovador, a conferência de 2014 buscou promover novos olhares para temas estratégicos da agenda socioambiental.
Inspirada pelo conceito de 360⁰, a edição de 2014 da conferência foi realizada em um espaço completamente aberto, com atividades conectadas por recursos multimídia. A proposta foi experimentar um formato inovador de evento, adotando como referência a ideia de ângulo de 360⁰ e suas múltiplas condições de visão para o mundo.
“É papel do Ethos ser vanguarda e se reinventar sempre que necessário para manter a atenção das empresas nas transformações necessárias”, explicou Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos. Pela diversidade e relevância de temas, além da forma inovadora de apresentar e conduzir as atividades, o evento cumpriu seu objetivo.
Nos diversos palcos disponíveis, executivos e especialistas convidavam os participantes para uma experiência inusitada. Por meio de fones de ouvidos, os presentes conseguiam sintonizar diferentes frequências, selecionando a palestra de seu interesse. Tudo acontecia de forma simultânea. Em questão de minutos era possível percorrer os diversos temas que estavam sendo apresentados sem precisar sair do lugar.
Esporte e ação social
Aproveitando o gancho da última Copa do Mundo de Futebol e da preparação para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o evento colocou em pauta o esporte como mecanismo de transformação social, destacando a importância da eficiência na gestão e a busca por práticas mais transparentes de prestação de contas.
Ana Moser, ex-atleta, ícone do vôlei e atual presidente da Atletas pelo Brasil, chamou a atenção para importância do tema, reforçando a necessidade de gestores públicos, grandes investidores sociais e a sociedade civil atuarem de forma integrada para promover a transparência na gestão esportiva.
“A iniciativa por melhor governança ainda é tímida, mas muito significativa. A estrutura que temos hoje não é nada sustentável. O mundo pede transparência, bom uso dos recursos e acesso para muitos, não só pra poucos”, concluiu.
Gestão pública em debate
Outro grande momento do evento foi a atividade que contou com a participação dos prefeitos de Palmas, Carlos Amastha, e de São Paulo, Fernando Haddad. Os gestores falaram sobre planejamento urbano e os desafios para gerir o espaço público. Amastha lembrou a construção da capital de Tocantins e as divisões sociais que a cidade impõe. “Construíram uma bela cidade, com grandes espaços e avenidas, mas empurraram os pobres para longe.” Hoje, segundo ele, o desafio é levar infraestrutura para regiões cada vez mais distantes do centro.
Haddad levou para o evento a experiência da gestão da maior metrópole do Brasil. “Estamos com espaços urbanos conturbados, com mais de 20 milhões de habitantes, como São Paulo, onde 39 municípios se confundem em uma mesma mancha urbana”, disse. Para o prefeito, não é possível governar metrópoles tendo que negociar caso a caso todas as políticas públicas, principalmente de mobilidade urbana, com gestores que tem interesses políticos e partidários muitas vezes opostos.
Inovação em pauta
Como construir modelos de negócios inovadores que estejam conectados ao desenvolvimento sustentável? A pergunta permeou uma mesa chamada “A Economia do Futuro e o Futuro da Economia”, apresentada pelo Banco Santander, que contou ainda com a participação de Elizabeth Ploshay, membro da Bitcoin Foundation, Alejandro Perez, cofundador da Broota Chile, e Frederico Rizzo, sócio-fundador da Broota Brasil.
Elizabeth levou para o evento o exemplo de um modelo para atrair negócios e incentivar a inclusão financeira. A Bitcoin Foundation, criada em setembro de 2012, atua na padronização, proteção e promoção do uso de sua moeda digital, a Bitcoin, que pode ser transferida por um computador ou smartphone sem intermediação de uma instituição financeira. “Não é apenas uma moeda. Serve para promover liberdade no mundo, permitindo que pessoas que estavam excluídas tenham acesso a fundos”, explicou.
Em outro momento da conferência, Thoroh de Souza, coordenador do Centro de Pesquisas Avançadas em Grafeno e Nanomateriais, mostrou que não há limites para a inovação e que ela pode ter a espessura de um átomo. O pesquisador levou para o evento uma experiência curiosa, que inspirou reflexões: o grafeno, uma folha de carbono com a espessura de um átomo, rígida e flexível ao mesmo tempo. Além de reforçar a importância da tecnologia, Souza salientou o quanto é importante investir em inovação e pesquisa no Brasil.
Investimento privado e desafios globais
A conferência também reforçou a importância da construção coletiva de políticas públicas, integrando organizações da sociedade civil, governo e, particularmente, iniciativa privada. O economista indiano Pavan Sukhdev, CEO da Gist Advisory e autor do livro “Corporação 2020”, explicou que cerca de 75% dos empregos estão em empresas e elas devem ter um papel relevante na estruturação de uma economia mais relevante em relação à qualidade de vida e uma economia de bem social.
“Empresas não devem atender apenas aos interesses dos acionistas, precisam ter um papel na sociedade em que estão inseridas”, disse. Sukhdev listou uma série de setores que podem (e merecem) incentivos de forma sustentável – entre eles agricultura, energia, turismo e construção civil. “A economia deveria ter como objetivo a manutenção de serviços públicos e ambientais garantindo os ecossistemas para o amanhã.”
Fechando o evento, Luciano Coutinho, presidente do BNDES, apontou alguns avanços em direção a uma economia mais sustentável, como a recente conversão dos Estados Unidos ao time dos que veem as mudanças climáticas como um desafio global. “Eles estabeleceram limites para as emissões de termoelétricas a carvão.” Coutinho defendeu para o Brasil mais eficiência no uso da energia e mais tecnologia em negócios como agricultura e pecuária, setores intensivos em emissões de gases estufa. “É preciso mimetizar mecanismos de mercado, para induzir mudanças. Temos o compromisso, como banco de desenvolvimento, de levar a agenda sustentável à frente.”
O exemplo
Em um momento inspirador, Oded Grajew, presidente emérito e membro do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos, compartilhou com os presentes sua trajetória a serviço da sustentabilidade e do empreendedorismo social no Brasil. Lembrando um determinado momento de sua carreira, no início dos anos 80, falou sobre como buscou impulsionar parcerias entre empresas e governo para a construção de políticas públicas. “Sempre acharam que era utopia, poesia. Essas coisas que as pessoas falam pensando em te desanimar, como se ser poeta fosse ruim.”
Com uma trajetória ímpar no meio empresarial e em organizações da sociedade civil, Oded é um dos nomes mais influentes do setor e mostrou durante a conferência como é desafiador o compromisso com a transformação social. Um exemplo inspirador para as centenas de profissionais que passaram pelo evento.
A cobertura completa você pode acompanhar no site da conferência.
Com informações da Envolverde e do Instituto Ethos