Conferência Internacional promove seminário e lança livro inédito sobre a mídia e a RSE*

Por: GIFE| Notícias| 16/06/2006

O reconhecimento da imprensa como elemento de estímulo e apoio à transformação social foi o que, segundo Guilherme Canela, gerente do Núcleo de Qualificação e Relações Acadêmicas da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), estimulou a parceria com o Instituto Ethos e a Fundação Avina para a criação do livro Empresas e Imprensa: Pauta de Responsabilidade, apresentado no seminário de abertura da Conferência Internacional – Empresas e Responsabilidade Social 2006.

A publicação, cujo conteúdo é inédito no Brasil, é resultado de uma pesquisa que avaliou 750 textos de 54 jornais brasileiros. Seu objetivo é oferecer um quadro geral do tratamento dado pela imprensa brasileira ao tema de responsabilidade social empresarial (RSE). A pesquisa apresentou dados positivos como a representação do tema em 75% do universo analisado, demonstrando o interesse das redações brasileiras, mas constatou também que 24% desse total de textos apresentam o conceito de RSE atrelado à promoção de eventos por entidades ou empresas, o que caracteriza uma falta de espaço para discussões relevantes ou o aprofundamento do tema.

Como desafio à discussão que se seguiu, com a participação dos jornalistas Heródoto Barbeiro, Célia Rosemblum, Miriam Leitão e Cláudia Vassalo, Guilherme convidou os participantes do evento a pensarem no papel da própria imprensa numa sociedade responsável. Além de seu compromisso social, como geradora e legitimadora de discussões, o gerente da ANDI sugeriu que se discuta o papel da imprensa em relação à cobertura de ações de RSE de empresas e entidades, como forma de promover a evolução desse modelo e de suas aplicações.

Crise de valores da sociedade brasileira gera discrepância nas ações de RSE

Quem melhor definiu o tom da acalorada discussão que seguiu-se ao lançamento da publicação inédita Empresas e Imprensa: Pauta de responsabilidade – Uma análise da cobertura jornalística sobre a RSE, no primeiro dia da Conferência Internacional 2006 do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, foi a editora de projetos especiais do jornal Valor Econômico, Célia Rosemblum: “”para mim, o grande problema é o conceito de RSE””. De acordo com ela, muito da resistência da mídia em relação ao tema pode residir no fato de que “”em última instância, a RSE talvez esteja mesmo ligada ao mercado e por isso há muitas resistências de ambos os lados””, ponderou.

O debate, moderado pelo presidente do Instituto Ethos, Ricardo Young, levantou variáveis tão diversas quanto complementares, deixando evidente que falta a todos os segmentos de imprensa que lidam com responsabilidade social e ética muito mais do que a isenção do jornalista. Falta também uma maior transparência e coerência de empresas e de ONGs quando a pauta são as más práticas. Resta, ainda, a questão do preconceito de alguns jornalistas, que acreditam que falar bem de empresas é merchandising.

Para o editor do Jornal da Cultura e gerente de jornalismo do Sistema Globo de Rádio-SP, Heródoto Barbeiro, “”ainda que os jornalistas persigam isenção, há que se considerar o capitalismo, seus objetivos e as mudanças que causaram, na verdade, uma mudança de nomes para as mesmas coisas””. Para ele, jornalismo não é dar somente boas notícias, mas criticar a sociedade.

A necessidade de uma ação crítica sobre a sociedade também foi a opinião da colunista do jornal O Globo, comentarista da Rádio CBN, do Bom Dia Brasil e da GloboNews, Miriam Leitão, que cobrou das organizações não-governamentais (ONGs) um posicionamento mais efetivo para a consolidação dos princípios da RSE: “”As ONGs também devem cutucar, como os jornalistas, questões como as que envolvem empresas que usam trabalho escravo, por exemplo””, enfatizou. Para ela, se uma empresa que tem ações de RSE está envolvida no ´Valerioduto´, por que quando questionada sobre a resposta padrão “”A empresa não se pronuncia sobre o assunto”” é aceita pela mídia e pela sociedade?

A resposta a esse questionamento foi, de certa forma, feita pela diretora de redação da revista Exame, Cláudia Vassalo, que admitiu que “”nenhuma empresa é perfeita””.

De acordo com Cláudia, “”quando estas empresas são abordadas sobre uma matéria mais contundente, elas não gostam e não falam, porque são formadas por pessoas, e, como pessoas, têm defeitos também. As empresas refletem o que o ser humano é””. Segundo sua análise, é burrice achar que a sociedade não terá acesso a esse tipo de informação, porque a empresa não consegue se esconder da boa imprensa ou do bom jornalista; da imprensa analítica, que tenta achar um equilíbrio em sua cobertura. “”A realidade é cheia de matizes e esses matizes todos devem ser considerados. Coisas ruins e coisas boas não são 100% de um lado ou de outro. Jornalistas precisam ser críticos em relação a esse maniqueísmo””, concluiu a diretora de redação.

Ao término do encontro, a conclusão dos profissionais pôde ser resumida numa frase de Miriam Leitão: “”Estamos com valores inadequados, e isso é o que precisa ser questionado. Precisamos dar um passo adiante. Eu acho que RSE é uma nova atitude, de cobranças de todo o tipo de informação, e não somente as negativas ou positivas””.

*As informações são do site oficial d Conferência Internacional – Empresas e Responsabilidade Social 2006.

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