Congresso GIFE reúne 800 lideranças no Rio de Janeiro
Por: GIFE| Notícias| 12/04/2010 Apesar das fortes chuvas que castigaram a cidade do Rio de Janeiro desde o dia 05 de abril, o 6º Congresso GIFE sobre Investimento Social Privado reuniu cerca de 800 lideranças nacionais e internacionais ligadas ao campo social entre os dias 8 e 9 de abril, na capital fluminense. Com o tema Visões para 2020, o evento apresentou quais serão os rumos a serem seguidos pelo setor pela próxima década.
“É justamente a partir dessa composição de visões – e muitas vezes de sua oposição – que é possível construirmos um olhar compartilhado. Um olhar que seja ao mesmo tempo positivo em relação ao futuro e não condescendente frente aos desafios que se apresentam pela frente”, afirmou a presidente do Conselho de Governança do GIFE, Denise Aguiar, durante a abertura.
O Futuro
O Futuro
A síntese desse pensamento pôde ser vista no lançamento do Visão do Investimento Social Privado para 2020, apresentada pelo secretário-geral do GIFE, Fernando Rossetti. Pelo documento, espera-se abrir um espaço na agenda nacional, para um setor mais relevante e legítimo, abrangendo diversos temas, regiões e públicos, formado por um conjunto sustentável e diversificado de investidores.
“Embora seja um material ainda em construção, a Visão já deixa claro quais são os desafios, as principais linhas de ação e os indicadores propostos para o aprimoramento e expansão do setor no Brasil”, explicou Rossetti.
Elaborado de forma participativa, não apenas com associados à Rede GIFE, mas também com organizações sociais convidadas a participar dos quatro encontros que fundamentaram todo o material, a visão foi elaborada a partir de três grandes eixos temáticos:
– Relevância e Legitimidade
– Abrangência (temática e geográfica)
– Diversidade de investidores
O primeiro está relacionado à atuação dos investidores sociais que, segundo Rossetti, deve ser reconhecida como relevante pelo público envolvido e pela sociedade em geral. “A legitimidade social só se constrói se o setor tiver relevância”, argumentou.
Para isso, as organizações devem aprimorar seus indicadores de gestão e transparência, que servirão de base para a elaboração de estratégias de interlocução com a sociedade. “Estas são regras imprescindíveis para o futuro da filantropia, não apenas no país, como também no mundo. Passamos por uma espécie de ‘darwinismo social’ em que só as organizações mais preparadas sobreviverão”, avaliou o presidente da Foundation Center (EUA), Bradford Smith.
Já o segundo eixo, o da Abrangência, tem como base o fato de que o investimento social de origem privada está concentrado tanto regionalmente como tematicamente. “Por um lado, o investimento está centralizado no Sudeste e no Sul do Brasil. De outro, há temáticas mais consensuais – como educação, saúde, cultura e juventude – que deixam alguns assuntos e públicos descobertos”, lembrou Rossetti.
Para assegurar essa abrangência é necessário, no entanto, ampliar a prática de doação e diversificar as estratégias de investimento. Como ações prioritárias, o documento defende, por exemplo, incidir no marco regulatório no terceiro setor. “A legislação brasileira não incentiva a diversidade filantrópica. Pelo contrário, além de toda a burocracia, taxam sua criação”, lembrou Rossetti.
Assim, o terceiro eixo temático, dedica-se a alterar esse contexto e estimular a diversidade do setor da filantropia no Brasil. Pesa para os próximos 10 anos, fomentar um ambiente mais propício para a criação de fundações independentes, sejam elas comunitárias, individuais ou familiares.
Na equação do secretário-geral, e de todas as organizações que colaboraram com o GIFE na construção da Visão, quanto maior a diversidade de fundações, maior será a diversidade de temas a serem beneficiados. “Em países em que a filantropia é madura, são os indivíduos, famílias e as organizações independentes que financiam temas de pouco consenso”, concluiu.
Para Barry Gaberman, vice-presidente aposentado pela Fundação Ford, o Brasil é um caso interessante. O mecanismo da filantropia no Brasil parece ser liderado pelo setor empresarial e isso provavelmente tem a ver com o fato de que muitas das grandes corporações ainda estão nas mãos de famílias.
“A segunda coisa que me surpreendeu é que eu esperaria encontrar um setor de fundações comunitárias mais ativo e dinâmico. Mas a verdade é que há muito poucas no Brasil. É estranho que isso aconteça aqui enquanto no México, por exemplo, há 40 fundações desse tipo, 20 na Tailândia, muitas na África do Sul, na Índia, 725 nos Estados Unidos”, reconheceu.
Censo GIFE
No 6º Congresso GIFE foram divulgados também os primeiros registros da quinta edição do Censo da entidade sobre investimento social privado (ISP) no Brasil. O documento reúne dados do último biênio (2007 – 2009) e ressalta que ainda em 2010 o setor prevê investir mais de R$ 2 bilhões no país, registrando crescimento de 6,23% sobre 2009.
O Censo indicou também que Educação ainda permanece como o principal setor que recebeu mais recursos no período. O estudo teve a parceria do IBOPE Inteligência/ Instituto Paulo Montenegro e do Instituto Itaú Cultural.
A relação entre o investimento social privado e a crise financeira, deflagrada no final de 2008, sofreu pouco impacto. No ano passado os investimentos tiveram uma redução de 6% em relação ao ano anterior. Porém, vale ressaltar que 45% dos investimentos originalmente planejados, representando a maioria, permaneceram no ano passado, 29% teve uma ligeira redução e 18% teve uma significativa redução.
Os associados à rede estão presentes com projetos e programas em todo Brasil. A distribuição está mais concentrada no Sudeste, seguido pela região Sul. Logo depois vem o Centro-Oeste, seguido pelo Nordeste. A região Norte tem o menor volume de atuação. Além de Educação, no ano passado, algumas áreas tiveram aumento importante de investimento como Cultura e Arte, Formação para o Trabalho, Esportes e Comunicação.
Julgamento do Investimento
Poucas vezes nos eventos do GIFE foi possível encontrar um equilíbrio tão grande entre as complexidades dos debates sobre investimentos social e o bom humor, como o apresentado durante o encerramento do 6º Congresso, na tarde do dia 9. A comicidade da ocasião ficou por conta do julgamento “Qual o Impacto do ISP na Realidade Brasileira”, que arrancou risos da platéia, apesar da seriedade do tema.
Como um exercício de reflexão sobre o setor, a simulação de um tribunal trouxe à mesa uma leveza que conquistou a plateia de 800 pessoas, aqui, no papel de júri. “Os investidores sociais brasileiros são ora processados sob a acusação de que atuam com ênfase na satisfação dos interesses de seus instituidores, privilegiando-os em detrimento aos reais interesses e necessidades da sociedade”, pronunciou Francisco Tancredi, consultor, na pele do juiz.
Segundo ele, os investidores sociais privados também foram acusados de promover suas ações por meio de “generosos incentivos fiscais”, sem transparência e gerando “transformações que ficam aquém de suas promessas”. Como réu, o setor foi representado pelo secretário-geral do GIFE, Fernando Rossetti, que ouviu as acusações.
Para inquirir o réu, foram convidados como promotores a coordenadora institucional da Oficina de Ideias e Marketing Cultural, Cenise Monte Vicente, e o coordenador geral dos Doutores da Alegria, o Clown Wellington Nogueira. “Só podemos avançar se houver crítica, análise e reflexão. Sabemos que não estamos trabalhando de modo sistêmico para uma real transformação social”, lembrou Cenise, em seu discurso de abertura.
No outro lado da mesa, o superintendente de Atividades Culturais do Itaú Cultural, Eduardo Saron, dividia as obrigações da defesa com a socióloga e diretora do Ipea, Anna Maria Peliano. “Não podemos cobrar apenas dos investidores a responsabilidade de reverter o quadro de concentração de poder, renda e privilégios. Tal como é um erro acreditar que apenas o Estado pode mudar isso. É um esforço coletivo e o ISP tem contribuído nesse sentido”, argumentou Anna.
No final dos depoimentos, o juiz Tancredi considerou que o setor ainda é muito jovem e o balanço das circunstâncias foi possível dizer que o réu é, até evidências em contrário mais substanciais, sujeito de boa índole e caráter . “Ainda que nas atuais circunstâncias seja considerado um delinqüente considerado culpado de vários delitos – não oferecendo riscos graves à sociedade a ponto de ser condenado à reclusão”, ponderou.
“Por esses elementos, e face à decisão dos jurados, eu o absolvo das acusações maiores, mas o condeno a regime de liberdade vigiada e medidas sócio-educativas em face de vários traços de conduta delinquencial”, argumentou Tancredi, arrancando risos da plateia.
Por fim, o juiz determinou que o réu deve se reapresentar perante o tribunal dentro de dois anos, quando da realização do próximo congresso do GIFE (2012), para ser submetido a avaliação dos resultados das medidas aqui propostas.
Neutralização
Em parceria com O Boticário, o GIFE irá neutralizou os gases de efeito estufa emitidos no 6º Congresso GIFE. Esses gases são responsáveis pelo fenômeno do aquecimento global e conseqüentes mudanças no clima de todo o Planeta. Qualquer atividade humana é geradora de gases de efeito estufa, como a geração de resíduos, consumo de energia, e principalmente as emissões decorrentes de transportes.
A neutralização é uma forma de compensar as emissões de gases resultantes destas atividades, necessárias para realização do evento.
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