Congresso Internacional Cidades & Transporte reúne lideranças mundiais no Rio de Janeiro

Por: GIFE| Notícias| 11/09/2015

Mais de mil pessoas, entre especialistas, prefeitos e lideranças nacionais e internacionais, participaram nos dias 10 e 11 de setembro do Congresso Internacional Cidades & Transporte, promovido pelo WRI Brasil | EMBARQ Brasil (World Resources Institute), no Rio de Janeiro. A proposta foi compartilhar boas práticas e iniciativas bem-sucedidas na construção de cidades mais inclusivas e humanas e debater o futuro das cidades.

Na pauta do evento estiveram presentes temáticas como mobilidade e transporte; resiliência, vulnerabilidade e adaptação; desenvolvimento urbano sustentável; políticas públicas inovadoras; equidade econômica; novas tecnologias; entre outras, em mais de 30 sessões.

Na abertura oficial do Congresso, Rachel Biderman, diretora do WRI Brasil, destacou a importância do momento atual para pensar em ações inovadoras. Isso porque, apesar de ocuparem somente 2% do território terrestre, as áreas urbanas emitem 70% dos gases relacionados ao setor de energia, por exemplo, e mais 1,2 milhão de pessoas falecem em acidentes de trânsito no mundo.

“O planeta vive seu maior desafio – o clima, e estamos aqui para fazer mudanças. Para tanto, precisamos de dois motores – um que reduza as emissões, e outro que adapte as cidades aos impactos das mudanças”, disse Rachel.

O presidente do WRI, Andrew Steer, ressaltou que é justamente nas cidades que se concentram os grandes desafios das próximas décadas. “As cidades são uma invenção maravilhosa, mas estamos atrasando seu sucesso. Por exemplo, Beijing perde 50% de sua renda pelos congestionamentos, 10% pela poluição e 6% em acidentes. E não é um problema econômico”, salientou.

Durante o Congresso, foram destacados os diversos desafios que deverão ainda ser enfrentados pelas cidades, mas também deu-se destaque para as várias oportunidades de ação que vêm sendo desenvolvidas ao redor do mundo.

O prefeito de Belo Horizonte e Presidente da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), Márcio Lacerda, por exemplo, em sua palestra magna “O legado das cidades brasileiras”, destacou a transformação pela qual a capital mineira tem passado nos últimos anos. “As cidades são o nosso espaço ideal para inovação e renovação para prosperidade e inclusão social. Para isso, no entanto, é necessário investimento em desenvolvimento urbano, tornando nossas cidades mais conectadas”, pontuou Lacerda.

A cidadede Belo Horizonte conta com um Plano Estratégico para 2030, com foco em diferentes áreas com influência direta na qualidade de vida de seus cidadãos. Além disso, mesmo antes de sancionada a Política Nacional de Mobilidade Urbana, Belo Horizonte elaborou seu Plano de Mobilidade Urbana, documento norteador das ações em transporte coletivo, individual e não motorizado, instituído em 2013 para atender às necessidades da população.

Filantropia e transformação

O GIFE esteve presente no Congresso e participou de um painel sobre como a filantropia privada tem um papel catalisador no apoio às soluções urbanas que melhorem a qualidade de vida nas cidades.

Andre Degenszain, secretário-geral do GIFE, afirmou que muitas inovações em políticas públicas e mecanismos de participação têm se desenvolvido no âmbito das cidades e, os investidores sociais e organizações filantrópicas, podem ter uma contribuição relevante nas dinâmicas locais, aproveitando o seu campo de atuação ou contribuindo diretamente com agendas de interesse comum.

“Investidores sociais têm se desenvolvido no âmbito das cidades e podem ter uma contribuição significante nas dinâmicas locais, pois possuem mobilização ágil de recursos para impulsionar ações”, acredita.

Na ocasião, Ana Toni, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (ICS), destacou que a filantropia brasileira ainda não descobriu a agenda urbana que está acontecendo no país e como é possível trabalhar de maneira muito clara.

Já Shirley Rodrigues, diretora de Mudanças Climáticas da Children’s Investment Fund Foundation (CIFF), de Londres, ressaltou que, mesmo quando acontecem falhas, é preciso saber que as fundações estão tentando transformar questões críticas para o planeta. “A filantropia não é diferente de outras organizações, pois é baseada em evidencias e fatores de sucesso critico e formas de medir o impacto na sociedade”, destacou.

Mobilidade em destaque

O tema da mobilidade foi pauta de vários painéis durante o Congresso, tendo em vista que a Política Nacional da Mobilidade Urbana, sancionada em 2012, trouxe uma oportunidade para a mudança nos rumos do desenvolvimento urbano no Brasil.

A política previa um prazo de três anos para que municípios entregassem seus planos de mobilidade urbana a fim de obter recursos para implantação de infraestrutura de transportes. No entanto, segundo Dario Lopes, Secretário Nacional de Mobilidade Urbana, do Ministério das Cidades, está tramitando  “um projeto de lei para ampliar o prazo por mais três anos, tempo para resolver a questão com consistência”, disse o secretário durante painel realizado no dia 10, lembrando que, dos quase 5.600 municípios brasileiros, a Política Nacional se aplica a 3.326 deles.

“O plano é a cara da cidade. A realidade dela deve estar lá”, enfatizou Dario Lopes, reconhecendo que um problema recorrente no qual as cidades esbarram é a falta de capacitação. Um dos maiores desafios, segundo ele, são as cidades pequenas. “Elas precisam crescer de forma sustentável para evitar um futuro com os problemas atuais das cidades grandes”, pontuou.

O Secretário Nacional de Mobilidade Urbana falou de iniciativas do Ministério das Cidades que visam capacitar os gestores locais para a elaboração dos planos, como seminários de sensibilização sobre a Política Nacional de Mobilidade Urbana e workshops práticos.

Ele lembrou, porém, que é preciso ter calma para elaborar um plano “organizado, bem elaborado, que abranja características e infraestruturas locais, para facilitar a obtenção dos recursos”. Por fim, recomendou aos municípios que ainda não elaboraram: “Mesmo que demore, tenham o compromisso com a qualidade. A pressa pode comprometer o crescimento da cidade”.

Alertas

Na abertura do segundo dia de Congresso, Ani Dasgupta, diretor global do WRI Ross Centro para Cidades Sustentáveis e porta-voz do New Climate Economy, trouxe diversos alertas para os presentes. Ele lembrou que os centros urbanos continuam crescendo e devem abrigar mais 2,5 bilhões de pessoas e o mesmo número de carros privados até 2050. O especialista lembrou que 86% das maiores cidades do mundo estão excedendo os padrões da Organização Mundial da Saúde (OMS) para qualidade do ar, o que resulta em 700 mil mortes ao ano.

“Precisamos de um novo caminho urbano urgente para frear as duras consequências deste desenvolvimento desordenado”, disse.

Em sua visão, os centros urbanos têm potencial de mudar os paradigmas do desenvolvimento ao conciliar crescimento econômico e sustentabilidade. Para ele, é preciso que as cidades sigam três diretrizes: cidades conectadas, com sistemas de trânsito inovadores; compactas, com construções mais sustentáveis e adensadas; e ações coordenadas para conjugar planejamento e investimento. “Se as cidades fossem construídas dessa maneira, a economia movimentaria 3 trilhões de dólares nos próximos anos”, explicou.

Alguns exemplos de projetos nesse sentido são os BRT (Bus Rapid Transit), ciclovias e infraestrutura para pedestres. Desde a implantação do BRT em Curitiba, lembrou Ani, os gastos com transporte não atingem mais de 10% do salário dos curitibanos. “Os sistemas eficientes de transporte podem gerar 17 trilhões de dólares em economia de energia, e uma redução de até 50% do CO2 que emitimos hoje”, destacou. A capital paranaense iniciou o sistema BRT que hoje está em 195 cidades do mundo com mais de 5.229 km de corredores e faixas construídos.

Exemplos práticos

Ao longo do Congresso, os palestrantes puderam compartilhar boas práticas que estão sendo desenvolvidas neste campo para melhorar a qualidade de vida das pessoas nos centros urbanos. Entre elas, está o projeto SOLUTIONS, da União Europeia, que promove o intercâmbio de experiências entre dez cidades do mundo, divididas em duplas, sobre suas atitudes para melhorar as emissões de carbono e o transporte da população. Entre as participantes estão: Belo Horizonte e Curitiba, no Brasil; Budapeste, na Hungria; Barcelona, na Espanha; Leon, no Mexico; e Bremen, na Alemanha.

O projeto visa ajudar a melhorar o transporte e desenvolver estudos de viabilidades, divididos em diretrizes e recomendações, além de estudar as especificidades políticas para tal.

Outro exemplo é o Colab, um aplicativo que conecta as esferas de poder e os habitantes das cidades. Por meio do Colab, os cidadãos propõem melhorias, avaliam serviços públicos e as autoridades respondem.

Outra experiência compartilhada foi a da Legion, uma companhia de desenvolvimento de softwares, do Reino Unido. A empresa produz simulações que mostram a interação de pedestres com infraestruturas, prevendo como governos e empresas podem tornar mais eficientes os espaços de grande circulação de pessoas, como aeroportos, estações de trem e estádios esportivos.  O conhecimento da companhia já chegou ao Brasil: há alguns anos, ela tem como clientes os operadores de trens e metrôs de São Paulo.

*Com informações do site: www.cidadesetransportes.org 

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