Cresce número de projetos sociais que visam a participação da comunidade

Por: GIFE| Notícias| 06/12/2004

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

De acordo com os resultados preliminares do Censo GIFE 2004, apresentados em novembro, a área de atuação que mais cresceu entre a rede nos últimos três anos foi desenvolvimento comunitário. Passou do 8º para o 3º lugar, com 48% dos associados promovendo iniciativas neste sentido. O levantamento considerou como desenvolvimento comunitário as ações que visam satisfazer necessidades fundamentais de uma comunidade por intermédio da participação ativa e democrática da população no estudo, no planejamento e na execução de programas específicos.

A maioria dos associados do GIFE que atuam nesta área apóia o fortalecimento de organizações comunitárias (69%) e a formação de lideranças (62%). Além disso, há as que trabalham com capacitação (55%), assessoria técnica (45%) e mobilização popular (41%). O volume de recursos investido em 2003 foi de mais de R$ 9 milhões, beneficiando cerca de 57 mil pessoas.

“”Creio que esta é uma conseqüência natural do amadurecimento institucional. O foco deixou de ser o projeto e passou a ser as pessoas. Projetos sociais pontuais, realizados de fora para dentro e de cima para baixo já não resultam. O desenvolvimento comunitário é mais eficaz e sustentável, pois tem a própria comunidade como principal agente de transformação e co-responsável pela obtenção dos resultados””, afirma Marta Castro, coordenadora da área de comunicação e relações institucionais da Fundação Odebrecht.

Ela acredita que o que gera resultados neste tipo de atuação são atividades integradas, que reúnam primeiro, segundo e terceiro setores, e que desenvolvam ao mesmo tempo o potencial das pessoas (capital humano), sua cooperação e participação (capital social), oportunidades de trabalho e geração de renda (capital produtivo) e conservação do meio ambiente (capital ambiental).

A Fundação Odebrecht faz parte da Rede América – Rede Interamericana de Fundações Corporativas e Ações para o Desenvolvimento de Base, iniciativa latino-americana que reúne países como Brasil, México e Argentina e é incentivada pela Fundação Interamericana (IAF). A rede desenvolve uma série de atividades com e para seus membros. O Programa de Construção de Capacidades, por exemplo, está sistematizando a experiência dos membros e transformando esse conhecimento em guias e manuais sobre desenvolvimento de base. Já o Programa de Aprendizagem viabiliza o intercâmbio entre as instituições para troca de informações e experiências.

Outra referência de atuação na área de desenvolvimento comunitário, a Fundação Otacílio Coser também faz parte da Rede América. A diretora da organização e conselheira do GIFE, Elizabeth Kfuri, conta que a instituição trabalha com conceito e prática do desenvolvimento de base, que é a capacidade dos grupos e organizações se autoconvocarem e se mobilizarem, definindo coletivamente suas necessidades e reconhecendo potencialidades, identificando alternativas para superação de problemas, criando uma rede de integração entre todos os atores – inclusive poder público – e participando ativamente da construção de sociedades democráticas. “”Trabalhamos com o conceito de desenvolvimento. Há várias formas de denominação: de base, comunitário, sustentável, local, etc, mas essencialmente estamos tratando de desenvolvimento com melhor distribuição de riqueza, para diminuir pobreza e fortalecer processos democráticos.””

Participação – Para que se alcance esse desenvolvimento, é fundamental formar redes sociais e fóruns gestores, capazes de refletir sobre a realidade comunitária, focando suas ações nas potencialidades e riquezas – e não só nas carências e problemas. Elizabeth acredita que o crescimento da atuação na área de desenvolvimento comunitário se trata de um caminho natural para aqueles que trabalham com comunidades, em especial as de baixa renda e situação de risco. “”Nossa responsabilidade como investidores sociais é contribuir para a transformação social da realidade brasileira e só faremos isso com a amplitude que o desenvolvimento de base proporciona, inclusive fortalecendo a atuação das organizações de ponta, aquelas que operam diretamente””, afirma.

O aumento do investimento nesta área acontece paralelamente ao crescimento da participação da população nos programas. Maria Arlete Gonçalves, gerente do Instituto Telemar, cita como exemplo os 402 projetos comunitários desenvolvidos a partir dos laboratórios de informática das 67 escolas envolvidas no Projeto Telemar Educação. “”São iniciativas que nascem nas escolas, mas que envolvem, na maior parte das vezes, toda a comunidade””, conta. Por meio de parcerias com ONGs e outras entidades locais, o instituto investe nas tecnologias de comunicação e de informação como fator de aceleramento de ações comunitárias e para o processo de inclusão social.

Com o uso da informática, dezenas de localidades realizam projetos para o bem-estar e o desenvolvimento da cidadania e promovem troca de informações e de experiências. “”Acreditamos na força dos movimentos surgidos dentro das próprias comunidades, ao mesmo tempo em que sabemos da necessidade de se fomentar ações que possam estimulá-las na descoberta de meios para alcançarem melhor qualidade de vida””, afirma Maria Arlete.

Desde sua concepção, há dez anos, a Fundação Acesita – que também participa da Rede América – promove o desenvolvimento comunitário em Timóteo (MG). Na medida em que os trabalhos foram sendo feitos, surgiu a necessidade de aprofundar conceitos sobre o desenvolvimento comunitário. “”Em 1997, com a avaliação das ações da fundação, sentimos a necessidade de ampliar as relações com a comunidade e, dois anos depois, implantamos o Programa Vale Cidadania“”, explica a diretora de ação comunitária da organização, Rosaly Todeschi Bandeira.

O Programa Vale Cidadania tem como objetivo fortalecer as organizações sociais situadas no Vale do Aço, em Minas Gerais, que atendem diretamente crianças, jovens e adultos de baixa renda e em situação de risco social. Entre as ações desenvolvidas estão a capacitação das equipes das instituições, orientações quanto à administração do trabalho voluntário, estímulo à formação de redes, informatização das entidades e apoio a projetos de melhoria da qualidade do atendimento.

Rosaly conta que um dos principais obstáculos encontrados é que algumas associações ainda vêem a fundação apenas como uma organização que repassa recursos captados, desconsiderando sua proposta educativa. Além disso, ainda existe dificuldade em tomar decisões conjuntas, especialmente por conta de uma cultura paternalista e assistencialista arraigada nas entidades, que impede o alcance de sua autonomia.

Para superar tudo isso, é necessário estimular a participação popular, envolver a comunidade nas ações propostas e estimular o trabalho em rede. “”Realizar um diagnóstico compartilhado da realidade da comunidade é imprescindível para a estruturação dos projetos, além de definição clara e objetiva dos papéis e responsabilidades de todos os atores envolvidos e planejamento conjunto, estimulando a co-gestão e a co-responsabilidade. Políticas públicas serão mais fortalecidas com entidades mais participantes e esclarecidas sobre seus direitos e deveres””, afirma Rosaly.

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