Crescimento econômico do país permite aumento do investimento social privado

Por: GIFE| Notícias| 10/01/2005

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

No início do mandato do presidente Luís Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2003, dirigentes de empresas e fundações e institutos de origem privada ouvidos pelo redeGIFE apontavam otimismo com relação ao novo governo. Eles destacavam que o bom relacionamento que vinha se estabelecendo entre os setores público e privado deveria levar ao aumento do volume dos recursos investidos por eles na área social.

Dois anos depois, e após um período no qual o crescimento da economia no país foi uma das principais notícias, organizações da rede GIFE confirmam a tendência de aumentar suas aplicações nessa área. “”O investimento social privado tende a acompanhar o desempenho da economia. Se forem dadas as condições para que as empresas cresçam, elas expandirão sua atuação na área social, pois esta é uma postura que já aderiu à cultura corporativa pelos benefícios efetivos que traz ao clima organizacional””, explica a diretora presidente da Fundação Iochpe, Evelyn Ioschpe.

Ela conta que a empresa Iochpe Maxion já anunciou que seus bons resultados no balanço de 2004 terão reflexo na doação feita anualmente à Fundação Iochpe. “”Nossa expectativa é de um aumento de 60%. Além disso, projetamos também ampliação na captação, que será da ordem de 100%.””

Francisco Tancredi, diretor regional para América Latina e Caribe da Fundação Kellogg, concorda que a manutenção das taxas de crescimento da economia será o fator decisivo para o aumento do investimento social privado no país. “”Se as perspectivas econômicas apontarem para um crescimento sustentável nos próximos anos, as empresas mostrar-se-ão mais dispostas a comprometer recursos com ações sociais””, afirma. Para a América Latina e Caribe como um todo, a Fundação Kellogg prevê um aumento de 15% no volume de recursos disponíveis para este ano.

Outro fator importante, de acordo com Tancredi e com o presidente da Fundação Orsa, José Montagnana, é dar impulso à disseminação da cultura do investimento social entre as empresas. “”É necessário buscar o engajamento do empresariado em ações efetivas e realizadas por meio de uma articulação de redes que envolvam também o poder público. Essas ações precisam gerar impactos e resultados concretos, palpáveis e mensuráveis, que se tornem ′sementes′, com potencial de serem difundidos por outras organizações e pelo poder público, criando, influenciando ou melhorando políticas públicas””, diz Montagnana.

O Grupo Orsa investe 1% de seu faturamento bruto anual nos programas eprojetos sociais gerenciados pela Fundação Orsa. O presidente da organização conta que, se levada em consideração a previsão de crescimento do Grupo em 2005 e a ampliação de parcerias com outras empresas e órgãos públicos, o orçamento destinado a ações sociais aumentará em 15% neste ano, totalizando R$ 19 milhões.

Para Maurício Medeiros, superintendente da Fundação Odebrecht, é preciso que as empresas continuem apostando no investimento social, que passou a ser uma questão estratégica para as organizações. “”Nos dias de hoje, a opinião pública, a imprensa nacional e estrangeira e, principalmente, os investidores internacionais estão atentos à postura socialmente responsável das empresas para a realização de parcerias estratégicas, visando o desenvolvimento sustentado e tendo como base as cadeias produtivas, gerando oportunidade de trabalho, renda e sua justa distribuição.””

Ele conta que, em 2005, a Fundação atuará prioritariamente na ampliação justamente dos projetos de geração de trabalho e renda, que fazem parte do Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável da Região do Baixo Sul da Bahia, em parceria com os governos federal, estadual e municipais e a outras instituições da sociedade civil.

O diretor executivo do Instituto Telemig Celular, Francisco Azevedo, lembra que tão importante quanto crescer é fazer uma boa aplicação dos recursos já disponíveis. Alguns fatores, diz ele, poderiam contribuir para aumentar o número de empresas com ações sociais, como o desenvolvimento de ferramentas que meçam o impacto da atuação tanto para a comunidade como para a empresa, a criação de leis que estimulem o investimento social privado, maior valorização de empresas socialmente responsáveis pelo consumidor e maior interação do terceiro setor com o mundo empresarial.

Neste sentido, Anfilófio Salles Martins, presidente da Fundação Acesita, acredita que um caminho para promover o crescimento é as grandes organizações estimularem as micro, pequenas e médias empresas a também fazerem este tipo de trabalho. “”Organizações maiores têm o importante papel de estimular outras a fazerem investimento social. Também é necessário ter instituições e organismos que reconheçam e dêem cada vez mais visibilidade para que as menores possam fazer este trabalho. Toda iniciativa de estímulo e oportunidade de parceria é fundamental.””

Martins conta que a Fundação Acesita ampliará seus investimentos em 2005, especialmente na linha de atuação no Vale do Jequitinhonha e no desenvolvimento de comunidades de base. Na Fundação Banco do Brasil, também haverá aumento dos recursos destinados para projetos sociais: 35% a mais do que a verba de 2004, totalizando R$ 132 milhões. Segundo Jacques Pena, presidente da instituição, eles serão destinados à continuidade dos programas atuais e à implementação de novas iniciativas com foco em educação e geração de trabalho e renda, por meio da atuação em cadeias produtivas e replicação de tecnologias sociais.

Ele afirma que sensibilização e envolvimento das organizações do setor privado nas causas sociais são fundamentais para que o Brasil tenha cada vez mais ações neste sentido, a partir de definição clara e segura de políticas públicas que permitam a formulação de projetos viáveis, com foco na sustentabilidade. “”A atuação em parceria, estruturada em redes, propicia a potencialização dos recursos existentes, o aumento da transparência dos investimentos e a efetividade das ações desenvolvidas.””

O fortalecimento do conceito de parceria e o entendimento do papel de cada setor da sociedade para o desenvolvimento sustentável é outro aspecto fundamental, de acordo com o vice-presidente responsável por sustentabilidade para a América do Sul da Basf, Rui Goerck. “”Os projetos devem ser pensados de forma participativa e com visão de longo prazo. Os grupos ou entidades a serem benefiados devem entender e conceber projetos sustentáveis financeiramente””, explica.

O diretor executivo do GIFE, Fernando Rossetti, entende que, além do desenvolvimento econômico no país – o que permite a ampliação da capacidade do setor privado investir no social -, é preciso construir mecanismos cada vez mais eficientes para o investimento social privado, desde instrumentos que possibilitem avaliar os resultados efetivos de um projeto até a produção de conhecimento para tirar o máximo das alianças e parcerias. “”Além disso, deve-se continuar promovendo no país valores como responsabilidade empresarial e investimento social privado. A primeira ação favorece a segunda, já que bons resultados atraem novos investidores sociais.””

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