Cultura de doação faz parte do processo democrático
Por: GIFE| Notícias| 15/09/2010Rodrigo Zavala*
Como assegurar a sustentabilidade financeira diante das adversidades apresentadas pelo contexto internacional e os desafios domésticos impostos não apenas às fundações, mas também às sociedades civis organizadas dos países que compõem a comunidade de língua portuguesa?
O questionamento que pautou uma das mesas de debates do VII Encontro de Fundações da CPLP mostrou que as respostas não são fáceis e devem preceder uma mudança de gestão por parte dos movimentos sociais, tal como uma mudança de cultura nesses países.
Pelos discursos e discussões apresentados na mesa, a experiência internacional mostra – e o caso brasileiro confirma – que o tema não pode ser tratado apenas sob a óptica financeira. Mas, sim, um olhar estratégico mais além da própria governabilidade das fundações.
Pelo menos foi o que constatou a representante da Fundação Ford (Brasil), Ana Toni. Partindo do pressuposto que o Brasil é protagonista de um extraordinário enredo de progresso e amadurecimento, e por essa razão as agências de cooperação diminuíram o repasse de recursos para o setor social, cabe à riqueza nacional dar conta do fortalecimento da sociedade civil organizada.
Segundo ela, essas agências tiveram um papel essencial no fomento e estímulo de organizações sociais em períodos de exceção, quando direitos humanos básicos eram suprimidos, como em ditaduras, por exemplo. A situação, no entanto, mudou. “Elas dizem que vão sair há 10 anos. Agora, saíram. Não dá mais para esperar que o país dependa de recursos internacionais para aprofundar sua democracia”, argumentou.
O problema, não apenas constatado por Ana, mas pelos próprios participantes do Encontro, como visto nos debates que se seguiram a sua fala, é que os brasileiros ainda não possuem uma cultura de doação. “Isso precisa mudar, senão vamos estar sempre correndo atrás. As organizações vão ter que se refazer, pois esse movimento não tem volta”, constatou, lembrando que também cabe ao movimento social fazer os brasileiros porem a mão no bolso.
Salvo as devidas proporções territoriais e culturais, os demais países que compõem a CPLP passam pelo mesmo imbróglio. Como disse o diretor da Fundação AMI (Portugal), Manuel Lucas, “rendimentos garantidos não existem”. Para ele, diminuir o grau de dependência de fontes únicas de recursos é vital para qualquer organização social.
Assim, além de ter que lidar com os desafios de uma mudança cultural, ainda precisarão ser reavaliadas as formas de captação de recursos, não apenas para diversificar o perfil dos doadores, mas também para potencializar as práticas já implementadas com sucesso. “Não podemos ficar em risco de sobrevivência quando alguma fonte seca”, disse.
O debate, moderado pela presidente da Fundação Bissaya Barreto (Portugal), Patrícia Nascimento, contou também com a diretora da Fundação Infância Feliz (Cabo Verde), Júlia Martins, que completou a discussão com elementos que demonstram a solidez de uma organização social, traço impreterível na hora de captar.
Ao fazer uma intersecção entre mercado e setor social, ela apresentou conceitos que podem ser transferidos de uma área para outra, como os preceitos de eficácia e eficiência, planejamento estratégico, flexibilidade e receptividade a novas demandas e, claro, confiabilidade e relevância.
“Sustentabilidade não é a capacidade de captar recursos, mas maximizar os resultados e manter o respeito do público. Credibilidade, enfim”, concluiu.
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*Rodrigo Zavala é editor de Conteúdo do GIFE.
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