Cultura incorpora temática sustentável

Por: GIFE| Notícias| 16/02/2007

Rodrigo Zavala

Moda, cinema, teatro, música e carnaval. Ações culturais têm cada vez mais incorporado conceitos como desenvolvimento sustentável e responsabilidade socioambiental. O que antes era um assunto restrito a fóruns temáticos do terceiro setor, hoje é passado ao público como parte do entretenimento.

No final do mês passado, o mais badalado evento de moda no Brasil, a São Paulo Fashion Week (SPFW), foi o primeiro a difundir essas preocupações com seus participantes. Realizado entre os dias 24 e 29 de janeiro, a SPFW teve como tema central a sustentabilidade, trabalhada de forma transversal em desfiles, exposições e confecção de roupas.

“”É um projeto muito claro que iniciamos este ano. A ecologia, o ambiente, a inclusão social e o desenvolvimento econômico podem representar o futuro da moda no Brasil””, explicou Paulo Borges na abertura do evento.

Há mais de 10 anos na coordenação do evento, ele crê que o futuro da moda no país passa pelo ambiente e pela criatividade. “”A moda na França se destaca pelo luxo; na Itália, pelo design; o Brasil poderá se afirmar nas próximas décadas com uma moda sustentável e criativa””, sonha.

No entanto, há quem acredite que, pela regra de exclusividade de convite e participação imposta pelo evento, as conclusões de Borges não seriam amplamente divulgadas. Assim, uma prova natural de que a discussão poderia chegar à população é a sua inclusão na maior festa popular brasileira: o carnaval.

Quem acompanhar o carnaval de São Paulo, vai vivenciar uma experiência inédita de preservação do meio ambiente. Com o slogan “”No calor do carnaval estamos combatendo o aquecimento global. Plante árvores você também””, em troca do gás carbônico (CO2) emitido durante os desfiles, serão plantadas 1.200 árvores nativas da Mata Atlântica. A iniciativa é resultado de um acordo firmado pela São Paulo Turismo (SPTuris) e a Fundação SOS Mata atlântica.

Todas as árvores serão plantadas nos meses de março e abril para recuperar a mata ciliar na região de Mogi das Cruzes, perto de reservatórios e nascentes de rios. O número foi calculado com base na expectativa de emissão de 675 toneladas de gás carbônico nos quatro dias de folia. “”É uma gota de água de um processo que em pouco tempo vai mobilizar toda a sociedade””, disse o presidente da SPTuris, Caio Luiz de Carvalho.

Já no nordeste, a embaixadora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, Daniela Mercury, quer ajudar a reverter a imagem que muitos brasileiros têm do Semi-árido, região conhecida pela seca e pela pobreza. Em pleno carnaval soteropolitano, a cantora irá, a partir das tradições culturais, ressaltar as riquezas da região e pedir maior empenho na garantia dos direitos das crianças e adolescentes que vivem no Semi-árido brasileiro.

“”Reconhecemos que a região tem os piores indicadores sociais do Brasil. Mas sabemos também que o sertanejo sonha e trabalha duro para ter uma vida melhor. Queremos destacar a força dessa gente criativa e o potencial de transformação da região””, diz Daniela Mercury.

O material que será distribuído – uma revista em quadrinhos – foi produzido por jovens de comunidades de baixa renda de Salvador, que estão se profissionalizando na Kabum! Novos Produtores núcleo de produção da ONG Cipó – Comunicação Interativa, parceira do Unicef em Salvador. Assim, ao mesmo tempo em que lêem o material, entendem o papel diferenciado que o terceiro setor pode ter para buscar soluções para problemas sociais.

Audiovisual – Para quem não gosta do esquindô-esquindô, também poderá encontrar atrações culturais de cunho social fora do sambódromo. O Instituto Itaú Cultural, por exemplo, traz o Margem, um dos documentários selecionados pelo programa Rumos Itaú Cultural 2006/2007. Na linha de “”turistas aprendizes””, a produção traz informações sobre a fronteira tríplice entre o Brasil, a Colômbia e o Peru, às margens do Rio Amazonas.

Segundo a diretora, Maya Da-Rin, a fronteira é aberta e as pessoas transitam livremente, assim, quase não há controle das autoridades responsáveis nos portos e faixas de fronteira. “”A região é marcada por muitos conflitos decorrentes de diferenças culturais e sociais, mas, curiosamente, há conflitos entre culturas brasileiras que são mais presentes que conflitos entre os três diferentes países””, explica.

Seja como for, o cinema sempre foi considerado uma das linguagens mais importantes de experimentação e a temática sustentabilidade faz parte, de tempos em tempos, de seu repertório. Um filme marcante é, sem dúvida, São Paulo S.A. (1965), do diretor Luís Sérgio Person. Ao utilizar São Paulo como personagem, o diretor mostra a origem da nova classe média nascida à sombra do “”boom”” da indústria automobilística.

Resultado: narra as seqüelas do progresso perverso e desordenado. A classe média nascida à sombra da Anchieta, o novo-riquismo que despontava na periferia da industrialização avassaladora, é detectada implacavelmente pelo cineasta, com toda a sua carga de falso civismo, boçalidade e corrupção.

No rol de produções que podem ser lembradas, como A Coorporação, Obrigado por fumar, Cronicamente Inviável, Pixote – A Lei do Mais Fraco, Falcão – Meninos do Tráfico – e são apenas alguns exemplos, há um destaque: Quanto Vale Ou É Por Quilo?.

Livremente inspirado no conto “”Pai Contra Mãe””, de Machado de Assis, o longa de Sérgio Bianchi apóia-se nas contradições históricas do Brasil para mostrar um novo tipo de escravidão social. Histérico e exagerado, porém mordaz e cínico, o filme deslegitima o trabalho do terceiro setor em um generalismo crônico.

Algo que era de se esperar. Com uma predileção pela verborragia e provocação, Bianchi é um diretor que chama a atenção pelo meticuloso trabalho de zombar das instituições brasileiras. Suas produções baseiam-se em revelar, a torrentes de sarcasmo, toda a grosseria dos velhos preconceitos nacionais, ridicularizando passagens da história oficial, levando, assim, o espectador a refletir sobre os mecanismos de dominação social. Serve, pelo menos, como anti-exemplo.

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