Da responsabilidade ao impacto
Por: GIFE| Notícias| 29/10/2007Barry D Gaberman*
Em agosto, o Centro de Filantropia da Universidade de Indiana dedicou sua Quarta Cúpula Anual de Filantropia à avaliação. A sexta EFC Summer Academy, em setembro, foi sobre a “”Filantropia Voltada ao Impacto””. Finalmente, o “”Philanthropy Summit”” de 2008, do Council on Foundations, terá com um de seus temas o impacto.
Se a transparência e a responsabilidade foram as palavras de ordem para a filantropia na Europa, na América do Norte e, provavelmente, em todo o mundo no fim do século XX, o mantra no princípio do novo milênio parece ser a avaliação, a eficácia e o impacto.
Isso não se deve à sofisticação ou ao poder da metodologia de avaliação, na verdade, algumas das primeiras tentativas de avaliação foram embaraçosamente pueris. O motivo, acredito, é a situação de escassez de recursos enfrentada pela maioria das sociedades. Na medida em que os governos buscam novos fluxos de receita, a base de ativos da filantropia organizada, protegida por um tratamento fiscal preferencial, pode se tornar um alvo fácil, uma vez que alguns abusos reais no setor filantrópico da sociedade civil assumiram importância desproporcional, devido a uma imprensa voltada para a venda de cópias e a uma elite política desejosa de marcar pontos.
É isso que os processos de transparência e responsabilidade buscam melhorar. A busca por novas receitas acrescenta uma camada adicional de dificuldade. Ela sugere que sem um impacto comprovado, pode haver poucos motivos para a continuação do tratamento fiscal preferencial. A única maneira da filantropia organizada se proteger, na minha opinião, é abraçar completamente o novo mantra de avaliação, eficácia e impacto. Isso significa apoiá-lo para que ele cresça em maturidade e sofisticação metodológica, além de cooperar com seus profissionais, dando a eles acesso ao nosso trabalho. Acredito que, se formos avaliados, não seremos reprovados, e se formos, é justo questionar os privilégios fiscais quando trazem apenas benefícios marginais para o público.
Tendo feito minha aposta na avaliação, algumas coisas me preocupam. Primeiro, quando falamos em avaliação, precisamos reconhecer que estamos essencialmente nos restringindo à pequena parte da filantropia organizada que englobamos na liderança da filantropia estratégica. Isso tende a significar instituições com recursos financeiro significativos, equipe capacitada e diversidade no conselho. Nos EUA, isso significaria cerca de três ou quatro mil das mais de 70.000 fundações, e eu suspeito que não seria diferente na Europa.
É muito fácil e muito simplista concluir que a grande maioria das fundações não são estratégicas e, portanto, não valem a avaliação. Seria também uma tragédia concluir que elas não merecem um tratamento fiscal preferencial. Nosso problema é que não desenvolvemos uma linguagem para descrevê-las. Sugerindo que ′não são estratégicas′, nós as relegamos a um nível inferior na cadeia alimentar filantrópica. De fato, elas podem fazer mais, em suas localidades, para construir o capital social do que todas as filantropias estratégicas juntas. No entanto, o capital social é muito difícil de avaliar.
Uma segunda preocupação associada é de que a avaliação nos leva em direção ao que podemos contar, em vez daquilo que conta, e subestima o valor do trabalho qualitativo. Um estudo de caso detalhado pode ser muito elucidativo, da mesma forma que uma boa história pode afastar os dados quantitativos. Precisamos estar vigilantes para que os itens que escolhemos como métricas sejam significativos, que tenhamos os dados quantitativos devidos e que não nos furtemos de avaliar os grandes conceitos que desafiam a quantificação.
Finalmente, e uma variação desse último ponto, está a preocupação de que, na busca pela determinação do impacto, nós nos concentremos nas funções instrumentais da filantropia organizada e nas organizações da sociedade civil que ela apóia, perdendo de vista o fato de que essas instituições formam, de fato um quinto poder.
A função instrumental de prestar serviços – nos educando em nossas vidas, fazendo análises de políticas, engajando na defesa de idéias, apoiando a expressão artística – é muito importante. No entanto, nas sociedades complexas, também é importante se proteger contra a concentração e o abuso de poder.
A separação tradicional de poderes em executivo, legislativo e judiciário não é suficiente, mesmo considerando-se a existência de um quarto poder na forma de uma imprensa independente. As instituições da sociedade civil constituem um quinto poder, ajudando a proteger contra o abuso de poder. Precisamos ter cuidado para que qualquer tentativa de avaliação não diminua esta função.
Barry D Gaberman é ex-vice Presidente da Fundação Ford. Pode ser contatado em [email protected]