Debate evidencia novas responsabilidades de fundações

Por: GIFE| Notícias| 11/06/2007

Rodrigo Zavala

Os institutos e fundações de origem privada começaram a enfrentar novos desafios nos últimos anos, principalmente no que se refere à inter-relação entre Investimento Social Privado (ISP) e Responsabilidade Social Empresarial (RSE). Considerados a “”inteligência social das empresas””, eles passaram a incorporar novas responsabilidades trazidas por suas mantenedoras, que vêem neles a possibilidade efetivar uma gestão corporativa sustentável, tal como serem facilitadores de diálogos entre o setor privado e a sociedade.

Essas novas vocações foram abordadas durante encontro que reuniu, em São Paulo, representantes dos principais institutos e fundações empresariais que atuam no Brasil. Promovido pela Aliança Capoava – organização composta pela Fundação Avina, Ashoka Empreendedores Sociais, Instituto Ethos e o GIFE -, o evento analisou esses recentes papéis, buscando formas para que possam ser assumidos.

Divididos em seis grupos de trabalho, os 48 convidados foram estimulados a listar as demandas emergentes nos institutos e fundações que representam. Entre as principais conclusões foram apresentadas:

– Ser consultor interno para as mais diversas áreas da empresa, promovendo uma coerência entre discurso e prática;
– facilitador de diálogos entre as empresas e a sociedade civil, conscientizando-a sobre temas como RES, ISP e sustentabilidade;
– mobilização de recursos, otimizando-os a partir de parcerias intersetoriais com foco no desenvolvimento local;
– estimular a definição de papéis do Estado, sociedade civil e setor privado;
– tornar-se indutor/tradutor/mediador das demandas sociais;
– e ser responsável pela melhoria no processo de gestão do investimento social.

Embora a lista concentre idéias genéricos, ela pode ser entendida por meio da relação histórica entre ISP e RSE no país. Segundo o secretário geral do GIFE, Fernando Rossetti, o boom do terceiro setor na década de 90 mobilizou empresas na criação de seus institutos e fundações no investimento maciço ao fomento de projetos comunitários.

No entanto, a hipercompetitividade global – que exige padrões de governança e sustentabilidade cada vez maiores dos negócios -, somada à profissionalização do terceiro setor, vem impondo novos desafios a essas instituições. “”A busca por modelos de gestão coorporativas mais sustentáveis mostrou que responsabilidade social empresarial é muito maior do que um trabalho comunitário. Ao perceberem isso, as empresas acabaram pedindo ajuda às suas fundações e institutos, que antes respondiam apenas pelo investimento social””, explica o secretário.

As considerações de Rossetti levam à pauta do encontro da Aliança Capoava: em busca de práticas corporativas mais responsáveis, as empresas se aproximam cada vez mais de seus institutos, que, por sua vez, passam a agregar atribuições muito além do viés comunitário. Para os participantes, essa tendência levou a um questionamento: se as fundações são consideradas recursos privados para fins públicos, o direcionamento de suas ações para o estímulo da responsabilidade social da empresa não inverteria essa premissa?

“”Essas novas responsabilidades começam a ser discutidas de forma mais sistemática no mundo inteiro. Existe uma zona cinzenta em que não está claro o que é fim público ou privado. Por exemplo, uma empresa de cosméticos, cuja prática social é investir em áreas de extração sustentável de produtos naturais com foco no desenvolvimento local. Ela está, ao mesmo tempo, trabalhando o interesse público e o privado””, argumenta Rossetti.

Para o diretor executivo do Instituto Ethos, Paulo Itacarambi, a característica principal do RSE está no interesse de estabelecer padrões éticos de relacionamento com funcionários, clientes, fornecedores, comunidade, acionistas, poder público e com o meio ambiente. “”As fundações podem facilitar o diálogo com esses stakeholders, que levariam a uma mudança social da empresa, voltada a uma gestão sustentável. E isso é de interesse de todos””, argumentou durante o encontro.

De acordo com o representante para a região Sudeste da Fundação Avina, Marcus Fuchs, uma questão para se refletir é como o social entra no dia-a-dia da empresa. “”Ele não pode ficar fechado nas fundações. Existe uma necessidade real de troca. Mas o tema é polêmico, já que muitos gestores sociais acreditam que os institutos devem focar esforços no investimento e avaliação de programas próprios e em projetos de ONGs””, pontuou.

A dissociação, no entanto, é apenas aparente, segundo a diretora-superintendente da Fundação Vale do Rio Doce, Olinta Cardoso. “”O social é inerente ao negócio. Quando uma empresa discute suas ações em médio ou longo prazo, a questão socioambiental já está incluída nesse planejamento””, argumentou.

Nas discussões com os grupos de trabalho ela considerou como exemplo uma empresa que se instala em determinada localidade, distante dos grandes centros urbanos. “”Ao chegar lá, a tal empresa percebe que a população não tem a escolaridade necessária para trabalhar no empreendimento. É nesse momento em que sua fundação, a partir de políticas de desenvolvimento local, torna-se parte integrante do negócio””, resumiu a diretora-superintendente.

Ao fazer coro a Olinta, a diretora da Fundação Nestlé Brasil, Silvia Zanotti, argumentou, contudo, que para entender a lógica de alinhamento entre o negócio e a ação social se faz necessário um profissional que consiga conjugar as ações de dois mundos. “”A formação para esses gestores sociais deve englobar tanto os conhecimentos corporativos, quanto a experiência social. Mas o que se vê hoje nos organogramas é apenas um dos casos.””

Para Fernando Rossetti, o encontro promovido pela Aliança Capoava é um primeiro passo na busca de soluções e entendimentos. “”Os problemas discutidos nesse evento mostram que o Brasil está alinhado aos debates internacionais sobre o tema, já que se trata de uma preocupação internacional. Não há bibliografia, pesquisas ou estudos consistentes para se apoiar. A solução será baseada em diálogos sistemáticos como o realizado no encontro””, acredita.

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