Desafios da transição energética no Brasil para um futuro sustentável
Por: GIFE| Notícias| 25/11/2024Parque Eólico Chafariz. Santa Luzia - PB. Foto: Ricardo Stuckert/PR
A transição energética se apresenta como uma alternativa importante e urgente para o mundo, tendo em vista que é uma oportunidade de diversificar suas fontes de energia, reduzir as emissões de gases de efeito estufa e impulsionar a sustentabilidade econômica. Com a crescente pressão global por ações contra as mudanças climáticas, o Brasil tem potencial de se destacar como líder em energias renováveis, especialmente por sua vasta oferta de recursos hídricos, solares e eólicos.
“Nos últimos tempos, o Brasil passou por diversos eventos climáticos extremos que tem assustado toda a população. A transição energética desempenha um papel importantíssimo para a mitigação desses eventos”, destaca Wendy Wicks, analista de Sustentabilidade na Fundação Norberto Odebrecht.
O país tem mostrado potencial para isso, tendo em vista que é o 6º maior produtor de energia eólica do mundo, posição também ocupada no quesito produção de energia solar, de acordo com dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Além disso, o Brasil também é um dos maiores produtores mundiais de energia elétrica. Segundo informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a capacidade máxima de produção de energia do Brasil é de 203,8 gigawatts.
Apesar da capacidade que possui, o país enfrenta muitos desafios para alcançar um patamar adequado de transição energética, em conformidade com a demanda ambiental apresentada pelo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 7 (ODS 7), que trata de Energia limpa e acessível. Esse objetivo visa até 2030 garantir o acesso universal, confiável, moderno e a preços acessíveis a serviços de energia, além de aumentar significativamente a participação das energias renováveis na matriz energética global.
“Acredito que os principais desafios são a necessidade de altos investimentos em infraestrutura para transmissão e distribuição de energia, a quebra da inércia da dependência histórica de combustíveis fósseis e a necessidade de modernização das regulamentações existentes”, reitera Wendy Wicks.
Brasil ainda prioriza combustíveis fósseis
Debate amplificado através do estudo “Subsídios às fontes fósseis e renováveis (2022-2023) – Reforma para uma transição energética justa”, realizado pelo Inesc. Um dos dados apresentados mostra que para cada R$ 1,00 investido em fontes renováveis, R$ 4,52 são direcionados a combustíveis fósseis.
Ou seja, a maior parcela dos subsídios continua sendo destinada às fontes fósseis, totalizando R$ 81,74 bilhões, o que corresponde a 81,9% do total. Em contraste, as fontes renováveis receberam R$18,06 bilhões, equivalente a 18,1%. Embora os incentivos para energias renováveis estejam em crescimento, o desequilíbrio ainda persiste.
“Levando em consideração que estamos exportando grande parte do que exploramos de petróleo aqui no Brasil, a produção que está indo para o mercado global está sendo subsidiada por nós, contribuintes, ou até mesmo consumidores de energia elétrica, de forma indireta”, explica Cássio Cardoso Carvalho, engenheiro eletricista e assessor Político no Inesc.
Com a proximidade da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que será sediada em Belém (PA) em novembro de 2025, o engenheiro eletricista acredita ser um momento propício para reverter esse cenário. “A COP 30 servirá para isso, para mostrar que um dos principais instrumentos para a produção de combustíveis fósseis são os incentivos fiscais, os subsídios que nós brasileiros e brasileiras estamos concedendo sem uma maior discussão a nível de sociedade, petróleo esse que é explorado em nossas reservas e é enviado para o comércio global.”
O fortalecimento do financiamento voltado para iniciativas em prol da transição energética foi um dos pontos abordados durante a COP 29, realizada em Baku, Azerbaijão. O rascunho de um acordo financeiro global, divulgado na sexta-feira (22), defende que países ricos direcionem US$ 250 bilhões por ano a nações vulneráveis com o intuito de colaborar com o processo de adaptação climática e a transição para energias renováveis.
Caminho que também aponta para a relevância do investimento social privado (ISP). “O ISP pode desempenhar um papel fundamental na transição energética de diversas maneiras, como por meio de investimentos em pesquisa, educação e conscientização, mas, principalmente, incentivando a adoção de modelos de negócios mais sustentáveis”, detalha Wendy Wicks.