Desenvolver a capacidade de pensar estrategicamente

Por: GIFE| Notícias| 29/04/2013

Antonio Luiz*

Parece que foi há muito tempo atrás, mas faz apenas doze meses que paramos para refletir sobre as novas fronteiras do investimento social, durante o Congresso promovido pelo GIFE em abril de 2012. Eu entendi aquele momento como uma oportunidade para fazer uma “reflexão estratégica” e muitos cuidados foram tomados para isso.

Tenho percebido, por contatos com diversas organizações que trabalham pelo desenvolvimento no Brasil e fazem investimento social, que dedicar tempo para parar e refletir é considerado um privilégio em tempos modernos – um privilégio tão extremo que quase se transforma em sacrilégio. Há sempre muita coisa por fazer e há muita pressão para que tudo seja rápido, sintético, barato e direto.

Existe um perigo significativo em se habituar à correria e a ocupação, embora as justificativas sejam muitas: perde-se capacidade “estratégica”, essa palavrinha tão usada hoje em dia, mas nem sempre bem compreendida. Por que será que isso acontece? O pensamento “estratégico” tem a ver com discernimento e a habilidade de fazer escolhas. Devemos desconfiar da nossa capacidade de fazer escolhas quando nos encontramos sobrecarregados e exauridos – não seria isso justamente um sintoma da dificuldade de compreender profundamente as situações e tomar boas decisões?

O pensamento “estratégico” também tem a ver com a capacidade de pensar junto. Pensar junto é necessário para pensar além. Talvez estejamos acostumados, sem querer estar, com uma noção de estratégia como algo fixo, como nos foi ensinado nas escolas mais antigas de planejamento e por líderes com estilos mais autocráticos. Talvez simplesmente ainda não saibamos direito como trabalhar com a noção de estratégia emergente, compatível com a complexidade contemporânea, mas muito mais difícil de ser articulada em conjunto. O desacordo quase impossível de suportar é essencial para vislumbrar o que é emergente e subjacente…

O pensamento “estratégico”, aliás, não pode ser confundido com uma capacidade ou competência conquistada. Não se conquista o pensamento estratégico, nem o ganhamos como um dom, como às vezes insistimos em nos orgulhar. O pensamento dessa natureza oscila entre a perda e o reencontro. A necessidade de organizar, padronizar e racionalizar que a correria demanda acaba burocratizando o pensamento e isso é um perigo para quem quer fazer a diferença. A ambição de fazer a diferença deveria nos fazer acostumar com a necessidade de fazer sempre mais e melhores perguntas, não repetir as mesmas respostas com diferentes roupagens. Mas como isso é difícil…

O Congresso GIFE 2012 gerou muitos insights brilhantes, insumos importantes para quem trabalha para potencializar o impacto do investimento social no Brasil. Você se lembra de algumas dessas “sacadas”? Como a organização a que você pertence fez uso delas nestes 12 meses? Se ainda não deu tempo, é uma boa hora para refletir sobre isso.


* Antonio Luiz é associado ao Instituto Fonte e consultor do GIFE no curso Ferramentas de Gestão. O módulo “Planejamento Estratégico” está com inscrições abertas para a edição que acontece nos dia 09 e 10 de maio, em São Paulo. Saiba mais aqui.

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