Desenvolvimento de liderança, liderança para o desenvolvimento

Por: GIFE| Notícias| 28/03/2005

Andrés Falconer
Coordenador executivo da ABDL (Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Lideranças)

Liderança é um termo crescentemente evocado no campo do desenvolvimento. O sucesso de uma iniciativa social é, muitas vezes, atribuído à “”qualidade da liderança””. Também é comum o uso do termo para se referir à sua ausência, ou a “”problemas de liderança”” nas organizações. Normalmente, ao se falar em liderança, faz-se referência a uma pessoa, aquela que está à frente dos processos, em posição de tomada de decisão.

Liderança é um termo que desperta paixões no campo social: uns atribuem a ela um peso desproporcional, enquanto outros a desprezam, preferindo priorizar processos coletivos. Para os primeiros, são os “”líderes”” que produzem a verdadeira transformação. Para os outros, a ênfase no indivíduo não permite reconhecer a verdadeira natureza das mudanças. Sentidos diferentes são dados à mesma palavra: liderança, para alguns, resume-se ao conjunto de atributos de uma pessoa; para outras, refere-se ao desempenho ou aos resultados alcançados; na maioria das vezes liderança é tomada como sinônimo de autoridade: líder é o chefe.

Muitas questões emergem ao se abordar o termo. Afinal, este tema, que prolifera no mundo empresarial competitivo, tem valor no campo social ou ambiental? Um líder é líder em qualquer espaço de atuação, sempre? Há um perfil específico de liderança para o setor social? Liderança é compatível com processos mais horizontais, democráticos e participativos? É possível ser líder sem ser chefe? Líderes nascem prontos ou podem ser desenvolvidos? Como se forma um líder? Todos podem ser líderes? O tempo todo?

Eu também posso ser líder?

Embora algumas correntes ainda insistam em associar liderança a atributos, a qualificações ou ao “”carisma”” de indivíduos, os teóricos há muito passaram a priorizar as relações, e não a pessoa, como o objeto de estudo da liderança. A liderança como o exercício de um papel, não necessariamente de uma autoridade formal, já está estabelecida na literatura. Por que, no entanto, sobrevive o olhar do líder como pessoa sobrenatural, predestinado a nos comandar? No outro extremo, os programas gerenciais de liderança que proliferam, que se concentram em habilidades individuais (como comunicação, negociação…), embora desenvolvam competências úteis, jamais formam algo que mereça ser chamado de “”líder””.

A minha experiência aponta que é justamente no estranhamento que o conceito de liderança provoca que reside a oportunidade de aprendizagem relevante para o campo do desenvolvimento (sustentável, social ou como preferirem qualificá-lo).

Todas as pessoas, gostem ou não do termo, têm uma imagem internalizada sobre o que é liderança. Esta baliza as suas exigências sobre si mesmo em relação aos seus pares, as suas expectativas frente aos seus subordinados e seus chefes no trabalho e reflete a sua opinião sobre aquelas autoridades que dirigem os destinos das organizações, da nação e do mundo. Esta imagem forma o julgamento de cada pessoa de “”porque as coisas são como são”” e “”o que precisaria ser feito para mudar””. Todos têm uma imagem de líder: próxima ou distante, positiva ou negativa, explícita ou não. Reconhecê-la é um passo importante para o seu desenvolvimento pessoal.

Explorar liderança é uma oportunidade fascinante de compreender uma parte importante do que nos move e de como julgamos o mundo. Permite explorar como se repetem, no campo social, padrões de conflito e disputa de poder, mesmo sob as melhores intenções de promover o desenvolvimento.

Acredito ser mais interessante falar em liderança – em processos – do que em líder – uma pessoa. Liderança, em última instância, reconcilia o indivíduo como protagonista com as relações sociais, com os processos e com o contexto maior. Permite reintegrar, na prática, a dimensão pessoal com a social. O exercício da liderança depende, sem dúvida, das competências individuais de quem a exerce, mas também da qualidade de uma relação estabelecida entre pessoas e da exigência do momento, construindo, assim, a ponte entre o desenvolvimento pessoal e o desenvolvimento social. Desenvolvimento que é desenvolvimento é um, e não deveria requerer qualificação adicional.

Liderança, portanto, não se refere àquelas pessoas eleitas para dirigir nossos destinos, nem tampouco se limita a uma caixa de ferramentas ou habilidades individuais. Desenvolver liderança para o desenvolvimento não é redundância. É o nosso desafio.

Andrés Falconer ([email protected]) é coordenador executivo da ABDL, a Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Lideranças (www.abdl.org.br), ONG que, desde 1991, se dedica à formação de liderança para o desenvolvimento em programas como LEAD, Pronord, Profissão: Desenvolvimento e Redesenvolvimento.

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