Dia Nacional da Leitura: data promove reflexão sobre a importância de incentivar o hábito de ler no Brasil

Por: GIFE| Notícias| 13/10/2014

No último dia 12 de outubro, o Brasil comemorou o Dia das Crianças e, na mesma data, o Dia Nacional da Leitura, fato instituído em 2009 pela Presidência da República. A regulamentação aconteceu após uma grande mobilização de organizações da sociedade civil.

A articulação ganhou força em 2006, quando diversas organizações atuantes na causa da educação se uniram para chamar a atenção da sociedade para a importância da oferta de leitura literária para crianças na primeira infância, desde a gestação. O grupo conquistou importantes espaços de diálogo com o poder público e o resultado é essa data, considerada um marco para a promoção da cultura da leitura no país.

Durante o processo de mobilização para a criação da data, mais de 3 milhões de pessoas foram impactadas e a articulação intersetorial resultou em eventos de leitura que envolveram 70 cidades em dez estados brasileiros. O trabalho envolveu organizações como Instituto Ecofuturo, Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, Ministério da Cultura, Ministério do Desenvolvimento Social, OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos), Associação Nacional de Jornais (ANJ), Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Instituto C&A, Fundação Vitor Civita, Biblioteca do Estado de São Paulo, Bibliotecários Sem Fronteiras, Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, Alfasol, Todos pela Educação, Aliança pela Infância, Movimento Brasil Literário, entre outros.

Nosso objetivo foi chamar a atenção para a importância de ‘brincar de ler’, oferecendo leituras diárias de literatura, que é uma valiosa alimentação afetiva e constitutiva da linguagem. Aprendemos a ler literalmente no colo dos nossos pais, ouvindo histórias, dormindo ao som de histórias. Por isso é tão importante que se leia com e para as crianças. A continuidade dessa formação leitora se dará na escola e nas bibliotecas abertas à comunidade”, lembra Christine Fontelles, diretora de Educação e Cultura no Instituto Ecofuturo.

Um momento dessa história recente foi a realização da ‘Primavera Ler É Preciso’, iniciativa encampada pelo Ecofutoro em parceria com a educadora Maria Betânia Ferreira (Pingo é Letra) em 2006. A ideia era incluir no calendário nacional um dia de mobilização e leituras públicas. O evento recebeu, então, o apoio da Secretaria de Educação de São Paulo e aí nascia uma articulação com uma instância do poder público nesse sentido.

Já no ano de 2007, um grupo de organizações promoveu o simpósio ‘Ave, Palavra’ na Assembleia Legislativa de São Paulo, em defesa da criação do Dia Estadual da Leitura. No ano seguinte veio a conquista: a promulgação da Lei n.º 12.876, instituindo a data no estado de São Paulo.

Foi então que, em 2009, a Presidência da República regulamentou o Dia Nacional da Leitura, em 12 de outubro, e também a Semana da Leitura e Literatura (lei nº 11.899). Desde então, diversas organizações da sociedade civil, entre elas institutos, fundações e empresas, promovem ações específicas no mês de outubro, a fim de colocar o tema da promoção da leitura como prioridade na agenda política nacional.

“Uma data como esta tem efeito educativo, pois abre espaço para informar que deve-se instituir uma dinâmica de educação para a leitura desde a primeira infância, em casa, de modo que assim, pouco a pouco, de uma experimentação individual, familiar, possa evoluir para um comportamento leitor, aprimorado na escola e ao longo da vida”, explica Christine Fontelles.

Ela lembra a reflexão de James Heckman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia: “uma criança de oito anos que recebeu estímulos cognitivos aos três conta com um vocabulário de cerca de 12 mil palavras, o triplo do de um aluno sem a mesma base precoce. E a tendência é que essa diferença se agrave”.

Para a gestora, é importante ressaltar que a leitura literária atende não apenas as demandas intelectuais. Ela cita outra referência no assunto, a escritora e educadora colombiana Yolanda Reyes, para ilustrar a ideia do empoderamento e da autonomia promovidos pela leitura e, por consequência, pelo conhecimento. “A literatura é expressão da nossa humanidade comum e material simbólico fundamental que deve ser oferecido à criança e ao jovem para que descubra não apenas quem é, mas também quem quer e pode ser.”

Patricia Mota Guedes, gerente de educação da Fundação Itaú Social, outra organização com forte atuação na área da educação, comenta o quanto é importante implementar ações para virarmos o quadro de um país de não-leitores. “O potencial de mobilização e formação nessa área é grande.”

“Uma pesquisa da Fundação Itaú Social e do Datafolha de 2012 mostrou que 96% da população brasileira consideram importante incentivar crianças de até cinco anos a gostar de ler, embora apenas 37% dos entrevistados afirmem ler livros ou histórias para os pequenos. O estudo também avaliou a experiência pessoal de leitura dos entrevistados na infância. Apenas cerca de quatro em cada dez participantes afirmam que tiveram alguém que costumava ler livros ou histórias para eles nessa fase. Pesquisas mostram que o hábito da leitura deve ser estimulado desde a primeira infância, pelos pais e familiares, e começa no gesto de ler para crianças”, explica.

O Instituto C&A, desde o início da campanha nacional de sensibilização para o Dia Nacional da Leitura, também tem atuação destacada em programas, projetos e articulações em rede em prol da cultura da leitura. “Entendemos que a leitura é uma prática social e, como tal, é desejável que toda a população tenha capacidade de ler, tenha acesso a bons livros e que veja sentido e valor nesta prática”, explica Patrícia Lacerda, gerente da área Educação, Arte e Cultura do Instituto C&A.

Além da criação da data que marca o Dia Nacional da Leitura, a gestora lembra uma outra política pública que contou com o apoio da sociedade civil durante sua elaboração. “A agenda da promoção da leitura e escrita é intersetorial com forte entrelaçamento entre Cultura e Educação e está incorporada, em grande medida no Plano Nacional de Livro e Leitura (PNLL). O plano foi construído com ampla participação social e representa uma agenda que pode ser vista como expressão do interesse publico.”

O Plano Nacional de Livro e Leitura foi lançado em 2006 e instituído pelo Decreto 7559, assinado pela presidenta Dilma Rousseff, em 1º de setembro de 2011. Trata-se de um conjunto de projetos, programas, atividades e eventos na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas em desenvolvimento no país empreendidos pelo Estado e pela sociedade. Sua implementação, ainda considerada tímida por boa parte dos especialistas, demanda grande mobilização da sociedade civil e compromisso do poder público para, de fato, acontecer. Ou seja, apesar das importantes conquistas dos últimos anos, muito trabalho ainda se apresenta pela frente.

Formando leitores

Muitas ações hoje já são consideradas benchmarking no setor. São práticas que inspiram novas iniciativas. Entre as ações do Instituto Ecofuturo, destaque para os diversos materiais disponibilizados em uma biblioteca virtual. Neste ano está sendo lançado o livro “Leitura para crianças, jovens e adultos”, organizado pela bibliotecária e especialista da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), Gláucia Mollo (o material também está disponível na biblioteca virtual).

Christine Fontelles diz que, apesar de os números mostrarem que o brasileiro ainda não está lendo mais e melhor do que antigamente, muitos avanços podem ser listados. Entre eles a atenção que a imprensa e a mídia em geral têm dado ao tema e às diversas iniciativas que surgiram entre ONGs e investidores sociais privados para promover a causa. O cenário é promissor, mas ainda há muito o que ser feito.

Patrícia Lacerda, do Instituto C&A, comenta o engajamento dos institutos, fundações e empresas em iniciativas nessa área. “Os investidores privados tem tido um importante papel de experimentar metodologias inovadoras, apoiar organizações da sociedade civil que fazem controle social, construir conhecimento e promover campanhas.”

Christine Fontelles também fala do papel de diversos atores para mudar o cenário atual. “Não há grandes saltos quando se fala de mudança de cultura. Dos 500 anos de ‘descobrimento’, passamos 300 sem biblioteca e a escola para todos por aqui não tem ainda nem um século. O importante é compor esforços para assegurar o direito à leitura por meio da consolidação de políticas públicas e sociais eficazes, que resultem na oferta diária e gratuita de diversas práticas leitoras formativas. Podemos aprender a ser leitores “brincando de ler”, mas é importante saber que a formação leitora é resultado de muito esforço, disciplina, concentração e tempo, sempre a partir do apoio de um educador leitor, ou seja, família, amigos, escola, bibliotecas.”

O Instituto Ecofuturo, Fundação Itaú Social e o Instituto C&A são associados GIFE

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