Difusão dos Objetivos do Milênio auxilia país no seu cumprimento

Por: GIFE| Notícias| 09/08/2004

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

A Semana Nacional pela Cidadania e Solidariedade, que começa oficialmente nesta segunda-feira (9/8) e vai até o próximo domingo (15/8), marca o início de uma grande campanha de mobilização da sociedade brasileira pelo alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), subscritos pelo governo Fernando Henrique Cardoso em conferência da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2000.

Ela será composta por eventos que, promovidos por organizações da sociedade civil e pelo governo, envolvem temas relacionados ao cumprimento desses oito objetivos: erradicar a extrema pobreza e a fome; atingir o ensino básico universal; promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde materna; combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental e estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.

O secretário executivo da Semana, Gilberto Galan, fala ao redeGIFE sobre o surgimento do Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade, que deu origem ao evento, a participação das empresas, fundações e institutos e a identificação das metas a serem atingidas pelos países até 2015.

redeGIFE – Como surgiu a idéia de criação do Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade e da realização da Semana Nacional pela Cidadania e Solidariedade?
Gilberto Galan – O movimento surgiu há uns seis meses, por parte de um grupo de pessoas que representam os vários setores da sociedade civil, como empresários, bancos e organizações do terceiro setor. É um grupo que percebeu que há no país um momento favorável para que se aumente o grau de desenvolvimento da sociedade com relação ao exercício da cidadania e da solidariedade. Isso já é um traço do brasileiro, mas tem havido um movimento crescente de solidariedade e voluntariado, o que contribuiu para buscarmos algo mais aprofundado, atraindo mais gente para esta causa. Porém, tínhamos que ancorar este movimento em algo mais objetivo, para que não houvesse dispersão dos esforços. Como havia os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, ficava mais fácil tentar mobilizar a sociedade, já que eles contam as necessidades mais prementes que um país tem. A idéia foi fazer algo no dia 9 de agosto, data de aniversário do falecimento do Betinho, que foi o grande inspirador dos movimentos sociais no Brasil e merecia uma homenagem que ficasse no calendário. Daí surgiu a idéia de uma Semana Nacional pela Cidadania e Solidariedade.

redeGIFE – Como foi o trabalho de reunião de todas as organizações participantes?
Galan – É realmente um grande trabalho, porque são grandes empresas e organizações de peso. Por isso, em abril, foi formada uma secretaria executiva. Não somos uma ONG, mas uma secretaria mantida por estas entidades e que ficou responsável por ordenar e organizar um pouco mais os esforços. Tínhamos reuniões mensais com um grande grupo ou quinzenais com um grupo de diretores e gerentes. Agora, mais recentemente, essas reuniões se tornaram mais freqüentes.

redeGIFE – O governo tem tido alguma participação na campanha?
Galan – O governo tem um representante, o Frei Betto. Pensamos que também era importante que o governo federal tivesse uma participação e pudesse trazer sua contribuição. E também existe outra questão importante: os Objetivos do Milênio foram assumidos pelo governo brasileiro. É seu dever, seja qual for a administração que esteja em Brasília, reportar anualmente o avanço nestas metas. Mas o governo não fez isso no ano passado, nem no anterior. Então, é importante que ele de alguma forma esteja presente neste movimento, pois sozinho não conseguirá alcançar todas essas metas. A idéia é que não só o governo federal, mas os estaduais e municipais e a sociedade civil trabalhem juntos.

redeGIFE – Na prática, de que maneira uma campanha deste porte consegue trazer melhorias concretas para a população? Até que ponto consegue ser mais eficaz do que campanhas menores, em nível regional ou local?
Galan – É um trabalho de médio prazo. Neste ano, nossa pretensão era começar a falar mais dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Se quisermos fazer uma mobilização em torno desses objetivos, a população como um todo precisa ficar mais consciente sobre isso. Quando falamos sobre estes objetivos, a serem alcançados até 2015, o cidadão comum fala: “”Isso não é comigo. O governo que faça, os grandes que façam. Eu tenho que pagar minhas contas no fim do mês””. Então, a McCann-Erickson, que está no grupo, criou uma campanha que fez com que estes objetivos pudessem “”aterrissar”” na vida do cidadão comum. Foram criados ícones, como aquelas placas que vemos na estrada com imagens que identificam a existência de um restaurante ou de um posto de gasolina. Com os ícones não é preciso escrever muita coisa para transmitir a mensagem. Eles criaram oito ícones bem interessantes, com o resumo da ação e em uma linguagem mais acessível para qualquer pessoa, de qualquer formação cultural ou educacional. Essa foi a idéia para o primeiro ano: criar consciência sobre os objetivos e mostrar que todos podemos fazer algo. Quando você faz algo no seu bairro, no seu clube, no seu círculo de amigos, na sua igreja ou na associação de moradores, você também faz algo pelos Objetivos do Milênio. A campanha está no ar e deve crescer na medida em que os veículos forem aderindo. A outra idéia é falar sobre a Semana em si, para que ela acabe se incorporando ao calendário, como o Dia dos Pais ou o Dia das Crianças, mas que as pessoas não ajam só nesta semana. Ela será um momento de demonstração e reflexão. No site há uma série de atividades sugeridas para o cidadão comum participar, fazer sua parte de acordo com suas habilidades e conhecimentos.

redeGIFE –De que maneira estas ações sugeridas no site poderão ser inseridas no calendário de atividades da campanha?
Galan – Existe um box no site para que as pessoas e organizações possam contar suas experiências. Essas ações são colocadas em uma espécie de quadro de avisos e passam a fazer parte da agenda.

redeGIFE – E empresas que queiram fazer parte oficialmente do movimento?
Galan – Infelizmente, agora não é mais possível. Nesta altura achamos que ficaria um pouco complexo administrar tanta gente, até porque tivemos pedidos de empresas muito grandes. Mas existe um trabalho de mobilização, de rede, que vai fazer com que toda organização participe, de um jeito ou de outro. É muito importante o engajamento por parte dos institutos e fundações empresariais, pois eles não só têm sensibilidade para o tema como também têm uma série de meios para participar. Pode ser fazendo debates sobre os temas e sobre o seu papel, ou com ações práticas mesmo. O ideal, e que será feito nos próximos anos, é que alguns eventos que podem acontecer em qualquer época sejam concentrados nesta semana. Isso para fazermos um efeito concentrado, tanto do governo quanto da sociedade em geral.

redeGIFE – A idéia é que a campanha prossiga mesmo depois desta semana. Haverá um acompanhamento das ações desenvolvidas?
Galan – Na verdade, nós queremos que este movimento seja caótico. Não vamos ter nenhum controle, exceto o que é reportado no site. A única maneira que temos de mensurar alguma coisa num primeiro momento será pelo site. Se for possível, queremos saber tudo o que está acontecendo, mas não há este propósito. É um movimento em ondas, sobre o qual não temos controle. E tem outro ponto interessante: queremos que a sociedade civil pressione os governos e candidatos para que eles também façam sua parte pelos Objetivos do Milênio. É um movimento bola de neve, que vai crescendo e sendo incorporado pelas pessoas, por isso acreditamos que em determinado tempo não serão mais necessários secretaria executiva ou este grupo de mobilização e canalização, mas que a sociedade por si só irá adquirir o hábito de fazer isso, como uma atividade incorporada ao seu cotidiano.

redeGIFE – É possível apontar prioridades entre as oito grandes metas a serem atingidas pelos países até 2015?
Galan – Não, porque todos são importantes. Mas uma coisa que devemos mencionar é que não podemos mudar os objetivos estabelecidos pela ONU, mas podemos criar alguns adicionais mais específicos ao país, como já fez a Argentina. No caso das doenças, por exemplo, fala-se em malária, que não é um grande problema no Brasil. Então podemos adicionar ações no sentido de atender a doenças mais graves no país, como a dengue. Todos os objetivos são importantes, porque cobrem um universo de necessidades. A importância de cada um depende da situação e, além disso, os objetivos estão interligados. Não adianta concentrar os esforços em alguns apenas. O que podemos e temos sugerido é que cada pessoa, empresa, fundação ou instituto que tenha competências maiores em uma determinada área, adote um ou mais objetivos. O que vale é a habilidade, a criatividade e a boa vontade de cada um em cada tema.

redeGIFE – O senhor acha que deveria haver uma flexibilidade na nomenclatura dos objetivos?
Galan – Não temos o direito de mudar isso. Temos um representante do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) no movimento, que nos dá os subsídios e fica atento se estamos seguindo o conteúdo dos Objetivos. Mas pode ser que percebamos que falta algo a ser contemplado, então podemos pensar em cobrir um objetivo a mais. Dentro dos macro-objetivos, as pessoas podem ver o que falta e incluir no trabalho.

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