Diversidade no investimento social precisa de mais incentivo

Por: GIFE| Notícias| 22/07/2002

Palestrante das Oficinas Ângela Borba, a psicológa, psicoterapeuta e coordenadora do Instituto AMMA Psique e Negritude, Maria Lúcia da Silva, fala ao redeGIFE sobre a diversidade de gênero e raça no investimento social privado (ISP) brasileiro, especialmente no que diz respeito à participação da mulher em projetos sociais.

redeGIFE – Existe alguma avaliação sobre a participação da mulher no investimento social privado? Qual é a posição atual?
Maria Lúcia da Silva – As mulheres são pioneiras no investimento social, a partir de sua atuação voluntária junto a instituições e/ou comunidades carentes. Além dessa participação efetiva “”in loco””, 60,1% de todo tipo de doação às organizações é feita por mulheres (Landin e Scalon “”Doações e Trabalho Voluntário””, 2000).

redeGIFE – O Brasil tem evoluído no combate ao preconceito de gênero e raça/etnia no mercado empresarial brasileiro?
Maria Lúcia – A luta feminista estabeleceu mudanças culturais de grande magnitude na sociedade brasileira, mas parece haver um desconhecimento do meio empresarial a respeito deste processo. É insignificante o investimento social privado destinado às mulheres. Na região Sudeste a cifra foi de 7%, diferentemente do Nordeste, cujo índice atingiu 43% (Ação Social nas Empresas, IPEA, 2001). Com relação à questão étnico/racial, o país começa a engatinhar. Apesar das pesquisas demonstrarem o impacto perverso que o racismo exerce na vida dessa população, é inexpressivo o investimento social privado. No mercado de trabalho, as mulheres negras são as maiores vitimas: a população feminina negra economicamente ativa está concentrada na área de serviços, particularmente no emprego doméstico, e ganham um terço do valor recebido pelas mulheres brancas, realizando o mesmo tipo de trabalho.

redeGIFE – Qual a importância de eventos como as Oficinas Ângela Borba?Maria Lúcia – A importância reside no fato dessas oficinas contribuírem para ampliar a discussão no interior do empresariado brasileiro, sensibilizando para a necessidade de investimento voltado para as questões de gênero e raça/etnia, assim como redimensionar o impacto que esses investimentos poderão proporcionar a médio e longo prazo. O investimento na mulher trará influências diretas na família, não é um investimento isolado, seus reflexos serão percebidos no melhor desenvolvimento da criança e no adolescente.

redeGIFE – Quais as maiores dificuldades que as mulheres negras encontram para atuar em projetos sociais? Falta mais vontade ou mais incentivo?
Maria Lúcia – As mulheres negras, através de suas associações e organizações, há tempos vêm atuando nos projetos sociais, só que de uma forma precária, devido aos parcos investimentos sociais dirigido a este setor. Vontade não falta, falta incentivo e sensibilidade da sociedade brasileira na percepção dos entraves colocados pelo racismo.

redeGIFE – O que é mais necessário no Brasil: maior participação das mulheres e dos negros no investimento social privado ou maior Investimento social privado voltado para as questões de gênero e raça?
Maria Lúcia – Os números demonstram a necessidade do empresariado brasileiro investir socialmente nas questões de gênero e raça/etnia. Investir na mulher e nos negros é apostar no enriquecimento do país cultural e economicamente, porque serão produzidos seres mais preparados, mais felizes, sem traumas de violência e exclusão.

redeGIFE – Qual o diferencial que as mulheres podem trazer aos projetos de investimento social privado?
Maria Lúcia – A disposição, participação e o compromisso de luta das mulheres, em todas camadas sociais e grupos étnicos têm sido um diferencial na busca de uma sociedade mais justa. As mulheres têm sido a base de sustentação emocional e material e o elo de ligação da família assim como no cuidado, na orientação e na educação dos filhos. Portanto, investir nas mulheres, negras e brancas, é investir nas crianças e nos adolescentes, é a certeza de que eles não irão para a rua, evitando assim seu envolvimento com o tráfico e o roubo. É contribuir para uma família mais estruturada e para a consolidação de processos de mudança e inclusão social.

redeGIFE – Fale um pouco do AMMA Psique e Negritude.
Maria Lúcia – O Instituto AMMA Psique e Negritude é uma instituição criada em 1995, que desenvolve suas atividades privilegiando uma abordagem psicossocial no tratamento da exclusão e da discriminação racial. Sua atuação tem se pautado por uma reflexão do impacto do racismo e da exclusão social no desenvolvimento e na mobilidade dos integrantes desses setores.

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