É possível maior densidade nos debates?

Por: GIFE| Notícias| 17/06/2010

Geraldinho Vieira*

“Espero que o(a)s candidato(a)s e os partidos saibam fazer uso das novas tecnologias para promover um processo eleitoral no qual as possibilidades de interatividade permitam trazer novos temas à agenda”.
A esperança é de Ana Toni, 46, especializada em Economia e Desenvolvimento e atual Representante da Fundação Ford no Brasil – organização sem fins de lucro, de origem privada, há 48 anos atuando no país. Seu orçamento anual gira em torno de 20 milhões de dólares, empregados no fortalecimento de ações da sociedade civil organizada.
Conversei com Ana sobre suas expectativas quanto ao processo eleitoral. É o segundo dos breves diálogos com lideranças sociais para esta série “Eleições & Sociedade Civil”. No domingo passado publicamos as idéias de Fernando Rossetti, diretor do GIFE – rede/associação que reúne 124 empresas, institutos e fundações sociais brasileiras.
“A dinâmica com que se dá o processo de debates entre candidatos, em todos os níveis, não contribui em praticamente nada para aprofundar a reflexão sobre os temas com os quais trabalhamos – Direitos Humanos e Justiça; Propriedade e Uso Sustentável da Terra; Direito à Comunicação; e, Relações Étnicas e Raciais” – diz Ana.
Ela queixa-se, creio que com razão, afinal nem mesmo temas que aparecem como preocupações prioritárias da população, “como, por exemplo, a segurança pública” – aponta – nem mesmo estes ganham insights nos debates eleitorais.
Para Ana Toni, que traz na bagagem uma militância de peso (foi Diretora Executiva da ActionAid Brazil e Diretora de Políticas do Greenpeace Internacional), “é uma pena que muito pouco se avance para além de uma disputa de slogans, dos ataques superficiais sobre posições antagônicas, estacionando o processo numa baixa densidade de discussão de idéias”.
A Representante da Fundação Ford acredita que um tema pelo menos deve ganhar maior espaço na agenda pública e até mesmo maior profundidade de abordagem: “A candidatura de Marina Silva impõe ao Brasil pensar mais adequadamente a questão ambiental”, diz Ana.
De maneira geral, concorda-se que a mídia escrita é mais dada a certo aprofundamento e que os debates televisivos têm, por sua vez, a função de tornar públicos o carisma pessoal e a força de caráter dos candidatos – embora sempre estes aspectos estejam sendo expostos a partir de idéias para programas de governo. Mais que em outros momentos, na corrida presidencial deste ano o papel dos blogs (e outros espaços) é algo a observar.
A F. Ford não pretende promover debates ou levar diretamente “suas pautas” aos candidatos. Para Ana, o importante é que as organizações brasileiras, a seu modo, procurem colocar suas agendas nos debates nacionais e regionais. Ela cita um bom exemplo: a CUFA – Central Única de Favelas, no Rio, que consegue articular-se com relevância nos debates para os postos eletivos do Estado e dos municípios.”A Fundação Ford guarda distância partidária para poder com legitimidade apoiar as organizações com as quais tem parceria”, diz Ana Toni.

* Geraldinho Vieira é Consultor na área da comunicação para a transformação social, Geraldinho Vieira é vice-presidente da ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância, professor da Fundación Nuevo Periodista Iberoamericano (Colômbia), colaborador da Fundação Ford na área do Direito à Comunicação e conselheiro do projeto Saúde Criança.

**este texto foi originalmente publicado no Blog do Noblat.
http://oglobo.globo.com/pais/noblat

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